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"Perdi meu apartamento", diz brasileiro
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
Mineiro de Ipatinga, vivendo ilegalmente nos
EUA há seis anos, o jardineiro Adilson Medeiros
personaliza a causa e também algo da conseqüência
da crise imobiliária. Há
dois anos, ele comprou um
apartamento em Quincy,
Massachusetts, financiado
a juros altos, e não conseguiu manter o pagamento
das prestações.
Com ganhos de US$ 600
por semana e tendo que
honrar parcelas mensais
de US$ 1.500, o jovem de
32 anos diz que não pode
mais pagar as prestações.
Decidiu entregar o apartamento ao banco, depois de
ver negado o pedido para
refinanciar o imóvel, que
se desvalorizou de US$
180 mil para US$ 164 mil.
FOLHA - Como é o seu caso?
ADILSON MEDEIROS - Eu
comprei o apartamento
faz dois anos. Arrumei
dois empregos para poder
pagar a mensalidade. Assumi uma prestação de
US$ 1.500 por mês com juros de 9,5% [ao ano]. Fui
pagando, pagando, mas
não agüentei mais. Eu precisava refinanciar para
baixar o valor da prestação, que é o que todos os
brasileiros conseguiam fazer antes, pelo menos aqui
em Quincy. Agora, com essa história de crise imobiliária, o banco não quis
mais me liberar financiamento. O pior é que meu
apartamento desvalorizou
muito. Antes, valia US$
180 mil. Agora só vale US$
164 mil. Nem se eu vendesse ajudaria.
FOLHA - E agora?
MEDEIROS - Eu parei de pagar a mensalidade em dezembro. Perdi meu apartamento, não tem jeito. Já
até saí do apartamento.
FOLHA - Conhece outros brasileiros que passaram pelo
mesmo problema?
MEDEIROS - Muita gente.
Na igreja a que vou [Assembléia de Deus], conheço oito famílias [de brasileiros] que também estão
com esse problema de não
conseguir pagar a prestação da casa. Tem gente que
pagava US$ 1.000 de prestação, aí refinanciou, e o
valor caiu para US$ 500
por mês, mas logo os juros
subiram, foi virando uma
bola-de-neve e agora pagam US$ 2.000.
FOLHA - Depois de perder dinheiro, cogita voltar ao Brasil?
MEDEIROS - Não. Eu vou ficar. Aqui minha vida é melhor. Lá em Minas, eu andava de bicicleta. Aqui, eu ando de carro ano 1995.
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