São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2008

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"Perdi meu apartamento", diz brasileiro

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Mineiro de Ipatinga, vivendo ilegalmente nos EUA há seis anos, o jardineiro Adilson Medeiros personaliza a causa e também algo da conseqüência da crise imobiliária. Há dois anos, ele comprou um apartamento em Quincy, Massachusetts, financiado a juros altos, e não conseguiu manter o pagamento das prestações.
Com ganhos de US$ 600 por semana e tendo que honrar parcelas mensais de US$ 1.500, o jovem de 32 anos diz que não pode mais pagar as prestações. Decidiu entregar o apartamento ao banco, depois de ver negado o pedido para refinanciar o imóvel, que se desvalorizou de US$ 180 mil para US$ 164 mil.  

FOLHA - Como é o seu caso?
ADILSON MEDEIROS
- Eu comprei o apartamento faz dois anos. Arrumei dois empregos para poder pagar a mensalidade. Assumi uma prestação de US$ 1.500 por mês com juros de 9,5% [ao ano]. Fui pagando, pagando, mas não agüentei mais. Eu precisava refinanciar para baixar o valor da prestação, que é o que todos os brasileiros conseguiam fazer antes, pelo menos aqui em Quincy. Agora, com essa história de crise imobiliária, o banco não quis mais me liberar financiamento. O pior é que meu apartamento desvalorizou muito. Antes, valia US$ 180 mil. Agora só vale US$ 164 mil. Nem se eu vendesse ajudaria.

FOLHA - E agora?
MEDEIROS
- Eu parei de pagar a mensalidade em dezembro. Perdi meu apartamento, não tem jeito. Já até saí do apartamento.

FOLHA - Conhece outros brasileiros que passaram pelo mesmo problema?
MEDEIROS
- Muita gente. Na igreja a que vou [Assembléia de Deus], conheço oito famílias [de brasileiros] que também estão com esse problema de não conseguir pagar a prestação da casa. Tem gente que pagava US$ 1.000 de prestação, aí refinanciou, e o valor caiu para US$ 500 por mês, mas logo os juros subiram, foi virando uma bola-de-neve e agora pagam US$ 2.000.

FOLHA - Depois de perder dinheiro, cogita voltar ao Brasil?
MEDEIROS
- Não. Eu vou ficar. Aqui minha vida é melhor. Lá em Minas, eu andava de bicicleta. Aqui, eu ando de carro ano 1995.


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