São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2008

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Cresce temor de recessão nos EUA em 2008

Levantamentos nas últimas semanas mostram que economistas e população americana esperam crise maior na economia

Para professor de Harvard, probabilidade de recessão neste ano atingiu 50%; Bush afirma que fundamentos econômicos seguem fortes

Sérgio Dávila/Folha Imagem
Casa abandonada no bairro de Slavic Village, em Cleveland, uma das cidades mais afetadas pela crise imobiliária nos EUA


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CLEVELAND (OHIO)

Segundo gosta de repetir Wall Street, os economistas são tão bons em suas avaliações que já previram nove das cinco últimas recessões norte-americanas. Ainda assim, em levantamentos recentes e entrevistas à Folha, a maioria dos analistas ouvidos acha que há mais chances de os Estados Unidos entrarem em recessão em 2008 do que o contrário.
"A probabilidade de haver uma recessão em 2008 atingiu agora 50%", disse Martin Feldstein, de Harvard. "Se acontecer, vai ser mais profunda e duradoura que as do passado recente", assusta. "Relativamente mais otimista", como diz, seu colega John Taylor, de Stanford, coloca as chances "abaixo dos 50%".
Em palestra recente na Brookings Institution, em Washington, Lawrence Summers foi mais alarmista. "Acredito que o desaquecimento é quase certo, que a probabilidade de recessão é maior do que 50% e que há uma possibilidade específica de uma recessão que nos levará à pior performance econômica desde o final dos anos 70 e começo dos 80", disse o ex-secretário do Tesouro de Bill Clinton entre 1999 e 2001 e ex-reitor de Harvard.
Até o oráculo de recessões passadas se manifestou. "A probabilidade de uma recessão moveu-se em direção aos 50%", disse Alan Greenspan, o ex-presidente do Fed (o BC dos EUA), numa entrevista à ABC News, e completou: "Se está acima ou abaixo dos 50%, é extremamente difícil de dizer".
O grupo dos mais preocupados -ao qual o ex-todo-poderoso do banco central dos Estados Unidos pertence- está crescendo. Pelo menos segundo levantamentos realizados entre economistas nos últimos dias de 2007. Para a média dos 88 analistas ouvidos pela Zogby a pedido da agência de notícias Reuters entre 12 e 18 de dezembro, a chance de recessão em 2008 é de 40%, um pulo em relação aos 35% de novembro e aos 30% de outubro.
Já em levantamento idêntico do site do "Wall Street Journal", feito em 18 de dezembro, a média dos 52 economistas coloca a possibilidade em 38%, ante 33,5% no mês anterior e um recorde de três anos. Mesmo o tradicional "Livingston Survey", feito bianualmente desde os anos 40 com os 36 economistas mais influentes do país, ouviu respostas desanimadoras, embora tecnicamente não-recessivas: a média vê um crescimento de 1,9% no PIB dos Estados Unidos no primeiro semestre deste ano -em junho, a expectativa era a de um avanço de 2,9%.
Tecnicamente, porque não há acordo nem mesmo em relação a o que é recessão. De acordo com a definição do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (Nber, na sigla em inglês), a que o governo norte-americano consulta nesses casos, são necessários dois trimestres seguidos de crescimento econômico negativos. Sendo assim, a última recessão nos EUA foi no início dos anos 90, já que 2000 e 2001 alternaram trimestres positivos com trimestres negativos.
O presidente democrata Harry Truman (1884-1972) dizia: "Quando seu vizinho perde o emprego, é recessão; quando você perde o emprego, é Depressão". O republicano Ronald Reagan (1911-2004) emendaria: "Quando Jimmy Carter perde o emprego dele, é recuperação", referindo-se a seu antecessor. Já George W. Bush vem repetindo o mesmo mantra com que encerrou sua última entrevista coletiva do ano em Washington, no dia 21. "Os fundamentos estão fortes, e nós tivemos um crescimento importante por uma razão: somos competitivos, temos um mercado de trabalho flexível, mantivemos os impostos baixos e as exportações em alta."
Quanto à crise do "subprime" (empréstimo de alto risco), ele listou o pacote articulado por seu secretário do Tesouro, Henry Paulson, que congela os juros de parte dos mutuários afetados pela inadimplência, e uma lei que promulgou para cortar os impostos desses.
O congressista Rahm Emanuel, um dos líderes da oposição, fez outra lista: "Há uma crise financeira e habitacional enorme, elevação dos custos de energia e de saúde e, pela primeira vez desde a Depressão, índice de poupança negativo. Fora isso, o presidente quer nos dizer que está tudo bem."
Com ele parece concordar a população. Três levantamentos feitos nas duas últimas semanas chegam ao mesmo resultado: mesmo que não amparados pelos dados, os norte-americanos já se vêem numa recessão. É o que responderam 70% dos ouvidos pelo Gallup, 57% dos entrevistados pela Opinion Research Corporation, em pesquisa encomendada pela CNN, e 43,4% dos ouvidos pelo Zogby (um salto em relação aos 40% de novembro), em pesquisa para a Reuters.
"A mentalidade de recessão já está sedimentada", resumiu John Zogby, do instituto que leva o seu sobrenome.


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