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DIA D
Moeda que substituirá divisas de 11 países nasce cotada a US$ 1,166; continente vive fim-de-semana da conversão
Euro estréia hoje e já desafia o dólar
JOSÉLIA AGUIAR
da Redação
Nasce oficialmente hoje a
moeda européia
depois do que se
pode considerar
quase meio século de gestação.
O euro, que substituirá divisas de
11 dos 15 países que integram a
União Européia, surge como um
desafio à hegemonia do dólar norte-americano, a principal moeda
do mundo.
A nova divisa européia estréia
mais forte que o dólar. O euro vale
US$ 1,166, 0,705 libra esterlina,
132,80 ienes e R$ 1,41.
A primeira cotação oficial, aprovada ontem em sessão extraordinária por ministros de Economia e
Finanças europeus, em Bruxelas,
não foi uma surpresa porque já podia ser calculada a partir do ecu, a
cesta de moedas européias usada
como transição.
O processo de unificação européia, iniciado após o final da Segunda Guerra, tem no nascimento
do euro um marco decisivo.
Afinal, países renunciam a políticas monetárias próprias e a símbolos nacionais -as moedas- em
nome da hegemonia continental.
É por isso que analistas estão
considerando o dia de hoje como
uma data histórica sem paralelo.
O euro poderá ampliar a força
política e econômica do continente
em âmbito internacional. Juntas,
as 11 nações que adotam a moeda
produzem anualmente uma riqueza de US$ 6,54 trilhões, contra US$
8,1 trilhões dos EUA.
Se os outros quatro países do
conglomerado adotassem a nova
moeda hoje, no entanto, a cifra
chegaria a cerca de US$ 8,2 trilhões. No comércio internacional,
o peso da chamada "eurolândia" é
maior -participa com 20% das
exportações, contra 16% dos EUA
e 7% do Japão.
O euro nasce hoje, mas só deverá
ser adotado, na prática, a partir de
segunda-feira, quando o mercado
europeu será reaberto após o chamado fim-de-semana da conversão -uma operação que chegou a
ser comparada ao bug do milênio,
a pane que ameaça computadores
na virada do ano 2000.
Mesmo com o nascimento do euro, os franceses ainda terão de pagar sua baguete usando francos e
os alemães ainda comprarão salsichas com notas de marcos. Afinal,
as moedas e notas em euro só chegam às mãos das pessoas comuns
daqui a três anos.
Estima-se que 13 bilhões de cédulas e moedas de euros começarão a circular em janeiro de 2.002,
quando finalmente substituirão as
11 moedas locais em todas as operações econômicas e financeiras
até julho do mesmo ano.
Até lá, bancos oferecerão contas
em euro e empresas terão ações cotadas na nova moeda. Comerciantes já poderão adotar preços em
euros e utilizar valores na nova
moeda em cheques e em cartões de
crédito. Contas correntes poderão
ser abertas e movimentadas com a
divisa européia.
O marco para o começo da adoção efetiva da unificação monetária foi julho de 1990, quando ocorreu a liberação do movimento de
capitais na maioria dos países da
região. Dois anos depois, com a assinatura do Tratado de Maastricht,
os países estabeleceram as diretrizes que deveriam ser cumpridas
para a adoção da moeda única.
Dos 15 países que formam a
União Européia, quatro ficaram de
fora. A Grécia não conseguiu ajustar suas finanças de acordo com os
requisitos necessários para adotar
a nova moeda. O país pretende estar pronto em 2001. O Reino Unido, a Suécia e a Dinamarca optaram por não aderir ao grupo e não
definiram data para isso.
Uma das razões para a unificação
monetária é que a moeda única facilitará o comércio e investimentos
dentro do próprio continente. Diminuirá despesas com pagamento
de comissões cambiais, eliminará
o risco de flutuações e facilitará a
comparação de preços. Somente
com essas vantagens, calcula-se
uma economia que pode chegar a
US$ 32 bilhões por ano, o equivalente a 0,4% do PIB europeu.
O euro poderá aumentar o poder
político e econômico da Europa e
contribuir para uma maior integração regional -o que pode evitar conflitos armados, já que os
países terão de adotar de comum
acordo medidas econômicas.
A moeda que foi idealizada por
políticos liberais no começo desta
década será adotada por líderes social-democratas, a maioria recentemente eleita. Se, a princípio, a
saúde das finanças públicas era o
que mais importava, agora a Europa se preocupa com o desemprego,
que atinge quase 11% da população
economicamente ativa.
Os líderes da "eurolândia" querem maior redução dos juros, mas
o Banco Central Europeu, responsável a partir de agora pela política
monetária da região, resiste a um
novo corte por acreditar que isso
poderia pressionar a taxa de inflação dos países.
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