São Paulo, sexta, 1 de janeiro de 1999

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DIA D
Moeda que substituirá divisas de 11 países nasce cotada a US$ 1,166; continente vive fim-de-semana da conversão
Euro estréia hoje e já desafia o dólar


JOSÉLIA AGUIAR
da Redação


Nasce oficialmente hoje a moeda européia depois do que se pode considerar quase meio século de gestação.
O euro, que substituirá divisas de 11 dos 15 países que integram a União Européia, surge como um desafio à hegemonia do dólar norte-americano, a principal moeda do mundo.
A nova divisa européia estréia mais forte que o dólar. O euro vale US$ 1,166, 0,705 libra esterlina, 132,80 ienes e R$ 1,41.
A primeira cotação oficial, aprovada ontem em sessão extraordinária por ministros de Economia e Finanças europeus, em Bruxelas, não foi uma surpresa porque já podia ser calculada a partir do ecu, a cesta de moedas européias usada como transição.
O processo de unificação européia, iniciado após o final da Segunda Guerra, tem no nascimento do euro um marco decisivo.
Afinal, países renunciam a políticas monetárias próprias e a símbolos nacionais -as moedas- em nome da hegemonia continental.
É por isso que analistas estão considerando o dia de hoje como uma data histórica sem paralelo.
O euro poderá ampliar a força política e econômica do continente em âmbito internacional. Juntas, as 11 nações que adotam a moeda produzem anualmente uma riqueza de US$ 6,54 trilhões, contra US$ 8,1 trilhões dos EUA.
Se os outros quatro países do conglomerado adotassem a nova moeda hoje, no entanto, a cifra chegaria a cerca de US$ 8,2 trilhões. No comércio internacional, o peso da chamada "eurolândia" é maior -participa com 20% das exportações, contra 16% dos EUA e 7% do Japão.
O euro nasce hoje, mas só deverá ser adotado, na prática, a partir de segunda-feira, quando o mercado europeu será reaberto após o chamado fim-de-semana da conversão -uma operação que chegou a ser comparada ao bug do milênio, a pane que ameaça computadores na virada do ano 2000.
Mesmo com o nascimento do euro, os franceses ainda terão de pagar sua baguete usando francos e os alemães ainda comprarão salsichas com notas de marcos. Afinal, as moedas e notas em euro só chegam às mãos das pessoas comuns daqui a três anos.
Estima-se que 13 bilhões de cédulas e moedas de euros começarão a circular em janeiro de 2.002, quando finalmente substituirão as 11 moedas locais em todas as operações econômicas e financeiras até julho do mesmo ano.
Até lá, bancos oferecerão contas em euro e empresas terão ações cotadas na nova moeda. Comerciantes já poderão adotar preços em euros e utilizar valores na nova moeda em cheques e em cartões de crédito. Contas correntes poderão ser abertas e movimentadas com a divisa européia.
O marco para o começo da adoção efetiva da unificação monetária foi julho de 1990, quando ocorreu a liberação do movimento de capitais na maioria dos países da região. Dois anos depois, com a assinatura do Tratado de Maastricht, os países estabeleceram as diretrizes que deveriam ser cumpridas para a adoção da moeda única.
Dos 15 países que formam a União Européia, quatro ficaram de fora. A Grécia não conseguiu ajustar suas finanças de acordo com os requisitos necessários para adotar a nova moeda. O país pretende estar pronto em 2001. O Reino Unido, a Suécia e a Dinamarca optaram por não aderir ao grupo e não definiram data para isso.
Uma das razões para a unificação monetária é que a moeda única facilitará o comércio e investimentos dentro do próprio continente. Diminuirá despesas com pagamento de comissões cambiais, eliminará o risco de flutuações e facilitará a comparação de preços. Somente com essas vantagens, calcula-se uma economia que pode chegar a US$ 32 bilhões por ano, o equivalente a 0,4% do PIB europeu.
O euro poderá aumentar o poder político e econômico da Europa e contribuir para uma maior integração regional -o que pode evitar conflitos armados, já que os países terão de adotar de comum acordo medidas econômicas.
A moeda que foi idealizada por políticos liberais no começo desta década será adotada por líderes social-democratas, a maioria recentemente eleita. Se, a princípio, a saúde das finanças públicas era o que mais importava, agora a Europa se preocupa com o desemprego, que atinge quase 11% da população economicamente ativa.
Os líderes da "eurolândia" querem maior redução dos juros, mas o Banco Central Europeu, responsável a partir de agora pela política monetária da região, resiste a um novo corte por acreditar que isso poderia pressionar a taxa de inflação dos países.



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