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"Spread" bancário no Brasil é 11 vezes o dos países ricos
Diferença entre os juros captados e os cobrados pelos bancos brasileiros é a mais alta praticada no mundo, aponta estudo
"Spread" verificado no
país tem sido motivo de queda-de-braço nas últimas semanas entre o governo e as instituições financeiras
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
O "spread" (diferença entre
os juros pagos pelos bancos na
captação de recursos e a taxa
aplicada por eles nos empréstimos que concedem) no Brasil é
o maior do mundo e 11 vezes o
dos países desenvolvidos. Na
média do ano passado, isso significa 34,88 pontos percentuais
ante 3,16 pontos, de acordo
com levantamento feito pelo
Iedi (Instituto de Estudos para
o Desenvolvimento Industrial)
a pedido da Folha.
No ranking global das taxas,
o Brasil é seguido por Madagáscar, Paraguai, Peru e Quirguistão. A média simples da taxa das 62 nações em desenvolvimento que integram o relatório do Iedi ficou em 6,55 pontos percentuais no ano passado. A comparação foi obtida a
partir de dados sobre o custo
do capital para os bancos de cada nação -86 no total- e os juros que cobram, informados
pelos governos ao FMI (Fundo
Monetário Internacional). Pela
metodologia do BC brasileiro, a
média do "spread" em 2008 ficou em 26,54 pontos.
"O abismo [em relação aos
demais países] é tão grande
que, mesmo considerando
eventuais disparidades de cálculo, a conclusão não muda:
nossos juros são altos demais",
afirma Rogério César Souza,
economista do instituto.
O elevado "spread" praticado
no país tem sido motivo de
uma queda-de-braço entre o
governo Lula e as instituições
financeiras nas últimas semanas. O presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles,
atribui ao "spread", e não à Selic (a taxa básica de juros no
país), a explicação para os problemas de crédito que as empresas brasileiras enfrentam.
Há cerca de dez dias, quando
se reuniu com representantes
de bancos públicos para discutir os juros, Lula se disse inconformado com o "spread" e pediu esclarecimentos a respeito.
Atendendo à sua solicitação,
Nelson Barbosa, secretário de
Política Econômica do Ministério da Fazenda, e Alexandre
Tombini, diretor de Normas do
BC, estão elaborando um estudo sobre o assunto que deve ser
entregue durante esta semana.
Reforma
Devido à piora da crise, em
setembro de 2008, a média do
"spread" do último trimestre
subiu para 38,91 pontos. "O aumento espelha a maior insegurança dos bancos, já que o nível
de risco da economia mudou.
Como imagina que a inadimplência vai crescer, a instituição se antecipa a essa elevação
de custos", explica Souza. "Temos ouvido diariamente dos
empresários que os juros estão
impeditivos para os negócios."
"O problema está na dose.
Uma coisa é subir o "spread"
porque a atividade está caindo,
outra é exagerar desse jeito
porque o poder de barganha do
cliente está menor. As taxas
que mais subiram são as de produtos que são mais difíceis de
negociar, como o cheque especial", comenta Roberto Luis
Troster, sócio da consultoria
Integral Trust e ex-economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Na avaliação do Iedi, a única
maneira de encurtar a distância que separa o Brasil dos demais países nesse quesito é aumentar a concorrência no mercado. Não atraindo estrangeiros para o país -até porque os
que vieram acabaram incorporando as práticas locais-, mas
elaborando um plano de longo
prazo que dê incentivos aos que
baixarem as suas taxas.
Para o Iedi, o governo federal
deveria pensar em uma reforma ampla que incluísse, como
recompensa, o acesso privilegiado a fundos e corte de impostos, além da liberação do depósito compulsório. Outra medida recomendada é a implantação do cadastro positivo, uma
lista de bons pagadores que
permitiria baixar os juros para
a pessoa física. "E o BC poderia,
ainda, fixar patamares máximos de juros para cada modalidade", sugere Souza.
Colaborou GUILHERME BARROS,
colunista da Folha .
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