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Davos termina dividido sobre regulação
Bancos e autoridades voltam a se desentender sobre medidas para limitar abusos do setor financeiro
MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS
O Fórum Econômico Mundial encerrou ontem sua 40ª
edição com expectativas ainda
sombrias para a recuperação
econômica em muitos países
desenvolvidos e a de que os
bancos não vão escapar de uma
nova regulação mais rigorosa.
O diálogo entre representantes de grandes bancos privados
e autoridades americana e
francesa, horas antes da festa
de despedida, ilustra o tom do
encontro em Davos (Suíça).
Banqueiros reclamavam de
que governos estão adotando
medidas idiotas e ineficientes
nos EUA e na França.
À certa altura, a ministra
francesa da Economia, Christine Lagarde, perdeu um pouco a
paciência e retrucou que, se os
bancos não tivessem feito o que
fizeram, talvez os governos não
tivessem sido obrigados a tomar "medidas idiotas".
Lawrence Summers, diretor
do National Economic Council
e assessor do presidente dos
EUA, Barack Obama, por sua
vez, disse que os bancos perderam credibilidade para fazer essas afirmações e que teriam que
aceitar novas regras.
As propostas de Obama para
limitar a atuação dos bancos e o
discurso do presidente francês
Nicolas Sarkozy na quarta-feira
foram o foco das discussões.
Apesar da chiadeira, os banqueiros internacionais sabem
que algo terá de mudar diante
da pressão política crescente
nos EUA e na Europa por normas que encolham os bancos e
restrinjam sua atuação para
evitar o risco de outras crises.
Se a mudança será inevitável,
os banqueiros pleiteiam ao menos que ela não fique ao sabor
de decisões individuais de alguns países, como as de Obama,
que, reservadamente, muitos
consideram, ao menos em parte, populistas, como disse um
deles à Folha.
Houve várias manifestações
para que as novas regras surjam de uma coordenação global, como foi decidido pelo G20
em abril de 2009, que delegou
ao Comitê de Estabilidade Financeira (FSB) e ao Comitê de
Basileia a elaboração de uma
reforma financeira.
Josef Ackermann, presidente do Deutsche Bank, disse que
há uma consciência de que é
preciso fazer algo para restaurar a confiança.
"Se perdermos o apoio da sociedade, não conseguiremos
atingir nossos objetivos corporativos. Mas é necessária uma
harmonização em nível mundial das regulamentações",
afirmou. "No fim, é um sistema
interdependente."
O presidente do BCE (Banco
Central Europeu), o francês
Jean-Claude Trichet, afirmou
que se deve atuar com regras
mundiais para tratar de problemas mundiais, "ou avançaremos para uma catástrofe".
"Temo que esqueçamos de
uma lição essencial da crise,
que é a coordenação. Tenho
medo de que não nos encaminhemos nessa direção", disse.
Mas nem todos serão tão afetados. Henrique Meirelles, presidente do Banco Central do
Brasil, que participa dos comitês encarregados de discutir a
nova regulamentação, disse
que Brasil e Canadá são países
que não tiveram problemas
com seus bancos durante a crise por já terem adotado regras
prudenciais rigorosas, muitas
das quais estão sendo discutidas agora por outros países.
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