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Brasil ainda é vulnerável, avalia S&P
Para agência de classificação de risco, país deve reduzir relação dívida/PIB
Lisa Schineller, diretora da Standard & Poor's, diz que há "excesso de liquidez anormal" nos mercados,
o que afeta emergentes
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
Poucos americanos em Nova
York conhecem a economia e o
mercado brasileiro tão profundamente como a diretora da
Standard & Poor's Lisa Schineller. Principal analista para o
país de uma das maiores agências de classificação de solvência do mundo, ela diz que o Brasil ainda é vulnerável (embora
em nível menor) a uma onda de
volatilidade dos mercados.
Ao governo brasileiro, Schineller recomenda a redução da
relação dívida/PIB como maneira de proteger a economia
de uma crise internacional.
Leia a seguir trechos de entrevista concedida à Folha.
FOLHA - Não havia uma "bolha" no
mercado acionário, e o movimento
de ontem [anteontem] não pode ser
o início de uma correção da euforia?
LISA SCHINELLER - Temos agora
muita liquidez nos mercados
globais, e essa liquidez tem impacto direto no "spread" das
economias emergentes. Não só
no Brasil mas em todos os países emergentes. Esse excesso
de liquidez é anormal.
FOLHA - E quanto vai durar?
SCHINELLER - É uma grande pergunta... Com menos liquidez
global, o risco de evasão vai
crescer para todos os investidores. Países com fundamentos
mais fortes vão suportar a mudança com mais flexibilidade.
FOLHA - É o caso do Brasil?
SCHINELLER - Por ainda ter um
grau especulativo nos investimentos, o Brasil vai sofrer mais
na comparação com outros países, como Chile ou México. Por
definição, há uma combinação
de fundamentos mais fracos.
Mas, ao mesmo tempo, a S&P
elevou a classificação do Brasil,
que hoje está mais forte que no
passado. A dívida do governo é
menor, a composição da dívida
é melhor. A relação dívida/PIB
ainda tem problemas, mas está
melhor que no passado. O governo hoje é menos vulnerável.
FOLHA - A classificação brasileira
vai mudar?
SCHINELLER - Hoje é "BB". Pode
subir, mas depende do governo.
Temos perspectiva positiva de
melhoras nos fundamentos,
mas as cifras não estão compatíveis com um "upgrade".
FOLHA - Que recados daria à equipe econômica do Brasil neste momento de volatilidade do mercado?
SCHINELLER - Em geral, países
com menos dívida são menos
vulneráveis. O Brasil ainda tem
uma relação dívida/PIB grande. [...] Uma continuação da
queda é muito importante para
a queda da vulnerabilidade.
FOLHA - O que foi observado nos
mercados mostra que as Bolsas estão intimamente ligadas. Até que
ponto crises e quedas como a que
ocorreu podem afetar a Bovespa?
SCHINELLER - A Bovespa melhorou hoje [ontem]. O preço da
Vale [do Rio Doce], por exemplo, recuperou-se. Num choque
como o de ontem [anteontem],
há susto, pânico. O mercado
não refletiu a realidade da economia. Quando existe essa desconexão, um dia haverá correção. Isso é saudável, é natural,
mas, quando está ocorrendo e
os mercados não entendem a
magnitude, pode haver esse tipo de reação. [...] Temos um
ajuste e depois um reequilíbrio.
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