São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

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Brasil ainda é vulnerável, avalia S&P

Para agência de classificação de risco, país deve reduzir relação dívida/PIB

Lisa Schineller, diretora da Standard & Poor's, diz que há "excesso de liquidez anormal" nos mercados, o que afeta emergentes


VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

Poucos americanos em Nova York conhecem a economia e o mercado brasileiro tão profundamente como a diretora da Standard & Poor's Lisa Schineller. Principal analista para o país de uma das maiores agências de classificação de solvência do mundo, ela diz que o Brasil ainda é vulnerável (embora em nível menor) a uma onda de volatilidade dos mercados.
Ao governo brasileiro, Schineller recomenda a redução da relação dívida/PIB como maneira de proteger a economia de uma crise internacional. Leia a seguir trechos de entrevista concedida à Folha.

 

FOLHA - Não havia uma "bolha" no mercado acionário, e o movimento de ontem [anteontem] não pode ser o início de uma correção da euforia?
LISA SCHINELLER -
Temos agora muita liquidez nos mercados globais, e essa liquidez tem impacto direto no "spread" das economias emergentes. Não só no Brasil mas em todos os países emergentes. Esse excesso de liquidez é anormal.

FOLHA - E quanto vai durar?
SCHINELLER -
É uma grande pergunta... Com menos liquidez global, o risco de evasão vai crescer para todos os investidores. Países com fundamentos mais fortes vão suportar a mudança com mais flexibilidade.

FOLHA - É o caso do Brasil?
SCHINELLER -
Por ainda ter um grau especulativo nos investimentos, o Brasil vai sofrer mais na comparação com outros países, como Chile ou México. Por definição, há uma combinação de fundamentos mais fracos.
Mas, ao mesmo tempo, a S&P elevou a classificação do Brasil, que hoje está mais forte que no passado. A dívida do governo é menor, a composição da dívida é melhor. A relação dívida/PIB ainda tem problemas, mas está melhor que no passado. O governo hoje é menos vulnerável.

FOLHA - A classificação brasileira vai mudar?
SCHINELLER -
Hoje é "BB". Pode subir, mas depende do governo. Temos perspectiva positiva de melhoras nos fundamentos, mas as cifras não estão compatíveis com um "upgrade".

FOLHA - Que recados daria à equipe econômica do Brasil neste momento de volatilidade do mercado?
SCHINELLER -
Em geral, países com menos dívida são menos vulneráveis. O Brasil ainda tem uma relação dívida/PIB grande. [...] Uma continuação da queda é muito importante para a queda da vulnerabilidade.

FOLHA - O que foi observado nos mercados mostra que as Bolsas estão intimamente ligadas. Até que ponto crises e quedas como a que ocorreu podem afetar a Bovespa?
SCHINELLER -
A Bovespa melhorou hoje [ontem]. O preço da Vale [do Rio Doce], por exemplo, recuperou-se. Num choque como o de ontem [anteontem], há susto, pânico. O mercado não refletiu a realidade da economia. Quando existe essa desconexão, um dia haverá correção. Isso é saudável, é natural, mas, quando está ocorrendo e os mercados não entendem a magnitude, pode haver esse tipo de reação. [...] Temos um ajuste e depois um reequilíbrio.


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