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ENTREVISTA DA 2ª - GUILHERME PAULUS
CVC usa Copa e Olimpíada para se expandir na AL
Empresa, controlada pelo fundo Carlyle, planeja dobrar de tamanho até 2015 e abrir mercado em países vizinhos
A COPA DE 2014 e a Olimpíada
de 2016 deverão aproximar
o Brasil da América Latina, pois é dos países vizinhos que virá o grande
fluxo de turistas para o
Brasil durante os eventos
esportivos, aposta Guilherme Paulus, 60, fundador da CVC, maior empresa de turismo do país,
com 60% do mercado. A
CVC vai começar pela
América Latina o seu
grande plano de expansão internacional, a partir
de 2011.
O objetivo do fundo
Carlyle, que comprou
63% da empresa em janeiro, é dobrar a CVC de
tamanho até 2015. Paulus, que segue no Conselho de Administração,
tem como máxima "nunca pôr todos os ovos numa cesta só" e não quer
depender só do aumento
de poder de compra da
classe média para crescer. "Pode ser que troque
de presidente e o Brasil
vire. Um dos grandes segredos da CVC é estar
sempre atenta aos movimentos do mercado",
afirma.
MARIANA BARBOSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em sua primeira grande entrevista desde a venda do controle da CVC para o fundo americano Carlyle, Guilherme Paulus falou sobre os bastidores da
negociação e as perspectivas
para a empresa e para o setor de
turismo no Brasil.
FOLHA - Quais as expectativas para
o turismo no Brasil diante de Copa
do Mundo e da Olimpíada?
GUILHERME PAULUS
- O Brasil foi
muito privilegiado. A Copa e a
Olimpíada realmente vão trazer um desenvolvimento inigualável para o país, em todos
os segmentos. Vamos ganhar
em termos de infraestrutura
básica e, principalmente, em
cultura e educação.
FOLHA - Como esses eventos vão
contribuir para melhorar a educação
e a cultura?
PAULUS
- Há uma movimentação dos ministérios da Educação, do Turismo e do Esporte
para treinamento. Foi contratada uma empresa estrangeira
[Education First] que vai ministrar cursos de inglês e espanhol [via internet] para trabalhadores de hotéis, bares e restaurantes, motoristas de táxi
etc. Isso vai dar um grande ganho, vai educar e vai dar cultura. Isso está sendo coordenado
pelos ministérios, com engajamento do setor privado.
FOLHA - Não faltará mão de obra
nem leitos para hospedagem?
PAULUS
- Não acredito. Se existe oferta de 30 mil leitos, vende
isso e isso é o limite. Temos de
trabalhar com a nossa realidade. O mundo sempre vai estar
preparado para receber as pessoas.
FOLHA - O Brasil está preparado?
Haverá infraestrutura hoteleira, aeroportuária e rodoviária para atender direito os turistas durante os
eventos?
PAULUS
- A infraestrutura vai
melhorar, não há dúvida. Foi
como nos Jogos Pan-americanos, no Rio. Tinha de estar
pronta a Vila Olímpica, a pista
de atletismo, o estádio, a acomodação. O governo está investindo fortemente. É preciso
tomar muito cuidado com as
críticas. Todo mundo diz que
tem de aumentar a capacidade
dos aeroportos, da rodoviária.
Nos feriados é aquele caos. Mas
o que que a gente faz com a rodoviária nos meses de março,
abril e maio? Fica aquela rodoviária enorme, às moscas. Claro que é preciso ter a preocupação com a prestação do serviço.
O governo tem de se preparar,
não deixar acontecer o caos.
FOLHA - O Rio de Janeiro melhorou
como destino turístico depois do
Pan em 2007?
PAULUS
- Sensivelmente. O Rio
de Janeiro voltou a ser o maior
destino turístico no Brasil. Tinha perdido a liderança em virtude da violência. Mas, de dois,
três anos para cá, melhorou
muito. Não tivemos nenhum
incidente nem no Réveillon
nem no Carnaval.
FOLHA - O Brasil vai mudar de patamar?
PAULUS
- O legado de uma Copa
do Mundo está provado. A Alemanha já era um país desenvolvido e se desenvolveu mais ainda em termos de transporte
[com a Copa de 2006]. E o turismo voltou. Estamos vendendo mais Alemanha [na CVC]. O
mesmo a gente sente em relação à África do Sul. E, pela primeira vez, pela própria posição
geográfica do Brasil, nossos
países vizinhos vão ser trabalhados fortemente. Colombianos, venezuelanos, paraguaios,
argentinos e uruguaios virão
assistir os jogos. Até o pessoal
das Guianas virá para assistir os
jogos em Fortaleza.
FOLHA - Quando o fundo Carlyle
comprou a CVC, vocês anunciaram
um plano de dobrar de tamanho em
cinco anos. Como vocês pretendem
fazer isso?
PAULUS
- Nós vendemos no ano
passado 2 milhões de pacotes,
60% para o mercado interno e
40% de viagens internacionais.
Vai chegar um momento em
que o crescimento da CVC vai
continuar forte, mas não sustentável para a gente dobrar de
tamanho. Para isso, vamos buscar uma parte desse mercado lá
fora. Vamos começar pela
América Latina -México, Colômbia, Chile e Argentina. E
não é só para trazer turistas para o Brasil. A CVC México vai
vender pacotes para os mexicanos irem para a Disney, para a
Europa, para virem ao Brasil e
também para viajarem internamente. Esse será um dos primeiros passos da nossa expansão internacional.
FOLHA - Já há metas para o número de lojas? Qual o primeiro país?
PAULUS
- É muito cedo. Acredito que vamos começar a partir
de 2011. Hoje a prioridade é o
mercado interno. A partir do
momento em que a gente sentir
que esgotou, vamos buscar a
expansão internacional. Hoje,
cerca de 40 milhões de pessoas
têm poder aquisitivo para viajar no Brasil. Dessas, apenas 8%
viajam por meio de agências. O
potencial do mercado para as
agências é de 20%, 30%, no máximo.
FOLHA - O aumento do poder de
compra da nova classe média não
vai fazer esse mercado crescer?
PAULUS
- Vai, mas a gente nunca sabe, vamos ter uma eleição
agora. E tudo no mundo é político. Aqui, na Europa, nos Estados Unidos. Pode ser que mude
o presidente e o Brasil vire. Um
dos grandes segredos da CVC é
estar sempre atenta aos movimentos do mercado. Falo para
as nossas equipes: "Nunca olhe
a ponta do seu nariz, olhe seu
horizonte, para a frente". Se ficar olhando o nariz, você tropeça e cai. Olhando para a frente,
o horizonte se abre e você vê as
oportunidades que tem. Nunca
ponho todos os ovos numa cesta só.
FOLHA - O sr. diria que esse é o diferencial da CVC em um mercado que
teve tantas baixas?
PAULUS
- Essa é a visão que a
gente tem, desde a criação da
CVC. Deus me deu uma cabeça
boa para estar sempre à frente
das coisas. Para estar sempre
atento quando tem uma crise.
As vendas no mercado internacional caíram, mas temos um
doméstico forte.
Fui um dos maiores vendedores de Disney, ganhei até a
chave de Orlando. Mas nunca
abandonei o turismo interno.
Todos falam que o Brasil é a bola da vez. Não é por isso que vou
abandonar tudo e viver de receptivo. Começamos com turismo rodoviário, fomos pioneiros em pacotes com viagem
de avião. Trouxemos um navio
que mudou o mercado de cruzeiros. Como diz a garotada,
acho que sou "antenado". Se
pudesse, venderia só pacotes de
volta ao mundo. Ficaria trilionário. Mas existe mais gente
querendo viajar internamente
do que para o exterior.
FOLHA - A CVC financia viagens em
até dez vezes. Entendo que a ideia é
garantir que a viagem esteja paga
nas próximas férias do cliente. Como o sr. vê a estratégia das companhias aéreas que, para conquistar a
nova classe média, vendem passagens em até 48 vezes?
PAULUS
- O parcelamento em
dez vezes foi pensado e bastante discutido. Não consigo ver a
CVC vendendo a prazos maiores. Por outro lado, isso dá uma
conotação de que viajar é barato e fácil. Isso tem um lado
bom, desperta a atenção.
Muita gente entra na loja
querendo pagar em 48 vezes,
mas aí a gente mostra uma promoção e a pessoa acaba fechando em sete, dez vezes. Agora,
pagar uma passagem de R$ 500
em 48 vezes, para mim é muito
tempo. Você vai para Salvador
(BA) visitar a mãezinha, a mãe
já morreu e você continua pagando (risos).
FOLHA - Por que o sr. decidiu vender o controle da CVC?
PAULUS
- Muita gente pergunta
como estou me sentindo, parece até que perdi um parente.
Para mim é natural. Encaro como uma grande oportunidade
de crescimento, de concretizar
um sonho de estar presente no
mercado mundial. Com o
Carlyle, posso fazer isso mais
rápido. Tive sorte. O Fernando
[Borges] e o Daniel [Sterenberg], [presidente e vice-presidente] do Carlyle [no Brasil],
são pessoas de grande visão.
Estamos em lua de mel.
FOLHA - Com o Carlyle no controle
da CVC vai dar para o sr. sair de férias, fazer turismo?
PAULUS
- Estou trabalhando
mais. Você tira algumas responsabilidades do dia a dia,
mas acrescenta outras.
FOLHA - A responsabilidade aumentou?
PAULUS
- Agora tenho de dar
satisfação aos outros, não só a
mim mesmo. Antes era: "Vamos fechar um contrato e trazer mais um navio. Opa, traz
aí". Agora é diferente. Tem de
colocar tudo no papel e justificar. Embora deem liberdade,
funciona muito à base de relatório. Os norte-americanos [do
Carlyle] gostam disso.
FOLHA - Ficou mais burocrático?
PAULUS
- Não. Acho que esse
modo de trabalhar dá mais confiança. Era exatamente disso
que a CVC estava precisando. A
empresa cresceu muito e estava com um horizonte muito
grande de negócios. Chega um
determinado momento em que
é preciso dar uma mexida. Não
que a CVC fosse uma empresa
velha, mas existe uma acomodação natural. A entrada do
Carlyle deu uma injeção de ânimo novo.
FOLHA - Houve muitas idas e vindas nas negociações com o Carlyle.
Vocês chegaram a desistir. O que
houve? A questão era o controle?
PAULUS
- Quando o Carlyle nos
procurou, eu tinha acabado de
dar uma entrevista para a agência Bloomberg na qual falei, pela primeira vez, do nosso plano
de abrir o capital. Na época, estava na moda falar em abrir capital. Foi em 2007. Na época, o
Carlyle fez uma primeira avaliação do grupo CVC, incluindo
os hotéis e a Webjet. Era um valor excepcional, de 14, 15 vezes
o lucro operacional. Falei: vai,
manda pau. E começamos a
correr.
Mas aí veio a crise, aquela
loucura toda. Então eles não
queriam a Webjet por conta da
limitação de capital estrangeiro. Baixaram o preço, nós brigamos. Mas depois reatamos o
namoro. Acabei vendendo pela
metade do valor inicial, por
seis, sete vezes o lucro operacional. E agora estamos em lua
de mel.
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