São Paulo, domingo, 01 de abril de 2001

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CONJUNTURA
Para Stanley Fischer, vice-diretor-gerente do Fundo, nova previsão é "boa" e medidas adotadas são "apropriadas"
FMI diz que inflação não preocupa e elogia BC

DE WASHINGTON

DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Pouco antes de tomar café da manhã com o presidente Fernando Henrique Cardoso, ontem, em Washington, o vice-diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Stanley Fischer, disse que não está preocupado com a estimativa maior de inflação no Brasil e considerou "um sucesso" o trabalho do presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
"Tenho enorme confiança no Banco Central brasileiro e acho que eles estão operando com enorme sucesso. (As autoridades) fizeram uma boa previsão (de inflação) e estão tomando as medidas apropriadas", disse Stanley Fischer.
Na sexta-feira, o BC divulgou relatório de inflação com a estimativa de que o IPCA em 2001 deve ficar em 4,8%, bem acima dos 3,9% previstos no relatório anterior, divulgado em dezembro.

Pressão
Segundo o relatório, a maior fonte de pressão sobre a inflação é o repasse da alta do dólar para os preços. Além de mudar a previsão, o relatório do BC também revisou a estimativa de crescimento do PIB, de 4,5% para 4,3%.
Alguns dias antes da divulgação do relatório, o FMI havia divulgado um comunicado, assinado por Stanley Fischer, sugerindo "cautela" (referindo-se à alta de juros) ao Banco Central brasileiro, tendo em vista o cenário externo (desaceleração da norte-americana, impasse no Japão e a situação argentina).

Descontração
Antes da reunião, tentando demonstrar descontração, FHC posou para fotografias entre Fischer e Horst Koehler, diretor-gerente do FMI, e brincou ao ser questionado sobre a confiança de Fischer no BC brasileiro: "Depois do que o senhor Stanley Fischer falou, eu não preciso falar mais nada".

Argentina
Horst Koehler e Stanley Fischer, do FMI, esforçaram-se ontem para demonstrar que a crise econômica na Argentina tende a se reduzir e que não irá contagiar a economia brasileira. Os dois, contudo, foram vagos ao dizer se haverá um novo pacote de ajuda do FMI à Argentina.
Depois de participar do café da manhã com o presidente FHC, Koehler disse que o Brasil não deverá sofrer um contágio porque "o ministro (da Economia argentina, Domingo Cavallo) trouxe uma nova dinâmica política".
Koehler negou que exista conversas sobre um novo pacote de ajuda do Fundo à Argentina, mas Fischer foi menos enfático: "Todos estão esperando detalhes do que o ministro está fazendo. Ele obviamente tomará medidas muito fortes. Só depois poderemos avaliar o que pode ser feito".
Os dois diretores do Fundo ressaltaram que as decisões que o ministro Cavallo deverá tomar terão de ser duras, numa declaração que pode ser interpretada como uma insistência do FMI em convencer a Argentina a tomar medidas ainda mais impopulares do que as esperadas.
Publicamente, o FMI defende o regime cambial da Argentina. No entanto, em conversas privadas comenta-se que o país talvez não tenha a disposição política para pagar o preço do câmbio fixo. Existe a clara percepção de que Cavallo é a última chance de a Argentina solucionar sua crise econômica sem mudar a paridade cambial.
Do café também participaram o embaixador Murilo Portugal, representante do Brasil junto ao FMI, e o principal negociador brasileiro no momento, o embaixador José Alfredo Graça Lima, subsecretário-geral para Assuntos Econômicos do Itamaraty.

Retorno
Ontem à tarde, o presidente Fernando Henrique Cardoso tinha encontros agendados com o presidente da Alcoa, Alan Belda, e com o presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Enrique Iglesias. A previsão é que FHC retorne ao Brasil hoje. Deve embarcar às 11h (13h, horário de Brasília), chegando à noite à capital.
(MARCIO AITH e WILLIAM FRANÇA)



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