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São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2003

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CENÁRIO DE GUERRA

Invasão do Iraque e juro alto fazem BC traçar cenário pessimista em que o país crescerá 2,2% neste ano

BC prevê crescimento menor e inflação alta

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a guerra no Iraque e os recentes aumentos na taxa de juros, o Brasil deverá ter menos crescimento com mais inflação neste ano. No cenário traçado como o mais provável diante das atuais circunstâncias, o Banco Central diz que o país irá crescer 2,2% em 2003, enquanto a alta dos preços deve chegar a 10,8%.
Em dezembro, o BC estimava que o país iria, neste ano, crescer 2,8% com uma inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), de 9,5%.
As novas projeções constam no "Relatório de Inflação", documento produzido pelo BC a cada três meses e que contém as perspectivas para a economia brasileira traçadas pela instituição.
Caso se confirmem as estimativas, o BC não conseguirá cumprir a meta de inflação de 8,5% que foi fixada, pelo próprio BC, no final de janeiro. "Houve um aumento [da inflação] acima do esperado no primeiro trimestre deste ano, o que torna o cumprimento da meta mais difícil", afirma o diretor de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn.
A inflação acumulada no IPCA entre janeiro e março deve chegar a 4,8%, contra 3% esperados no início do ano. Um dos principais responsáveis por esse aumento foi o reajuste dos chamados preços administrados, que incluem, entre outros, preço de combustíveis e tarifas públicas.
Entre janeiro e março, os preços administrados subiram 7,5% -só a gasolina já subiu 12,4% no período. Ao longo de todo o ano, a alta do conjunto desses preços deve ficar em 16,8%, contra 14% estimados em dezembro passado.
A alta dos preços administrados já faz o BC considerar a possibilidade de alterar a meta de inflação para 9,5%. Goldfajn afirma, porém, que não há prazo para que essa mudança seja decidida.
Oficialmente, a meta do governo é manter a inflação deste ano em, no máximo, 6,5%. Diante da disparada do dólar ocorrida no ano passado, porém, o BC informou, em janeiro, que passaria a perseguir uma meta de 8,5%.

Sem recessão
O governo diz que a mudança foi feita para poupar o país de uma recessão. Para que a meta de 6,5% fosse cumprida, afirma o BC, os juros teriam que estar num nível ainda mais elevado do que o atual. Só os aumentos ocorridos neste ano -a taxa básica subiu 1,5 ponto percentual no período, chegando a 26,5% ao ano- foram suficientes para reduzir a projeção de crescimento deste ano de 2,8% para 2,2%.
"Esse é o custo da nossa batalha contra a inflação", afirma o diretor do BC. Além dos juros altos, colaborou para um cenário de desaquecimento econômico a redução nos gastos do governo, que "seguem restringidos pela determinação em manter sustentável a trajetória da dívida", ou seja, pelo ajuste fiscal.
Goldfajn diz que todas essas projeções podem ser modificadas ao longo do ano, à medida que se desenvolve o conflito no Iraque.
Ele disse que, em termos econômicos, o aspecto mais importante da guerra não é a sua duração, e sim seus efeitos sobre a economia global. O conflito pode afetar a cotação do petróleo no mercado internacional, o que pressionaria o preço dos combustíveis no Brasil.
Além disso, a queda no fluxo de capital estrangeiro, a alta do dólar e o pessimismo com a guerra também poderiam colaborar para a alta ainda mais forte da inflação.
Segundo o BC, num cenário em que a guerra não afete tanto o Brasil, a cotação do dólar poderia ficar abaixo de R$ 3,40 e as expectativas do mercado em relação ao comportamento da inflação seriam mais otimistas. Respeitadas essas variáveis, a alta dos preços poderia ficar em 9,5% neste ano.
A aposta de que parte desse cenário mais favorável vá prevalecer nos próximos meses explica por que o BC ainda acredita que a alta do IPCA possa ficar dentro das metas em vigor atualmente.


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