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CENÁRIO DE GUERRA
Invasão do Iraque e juro alto fazem BC traçar cenário pessimista em que o país crescerá 2,2% neste ano
BC prevê crescimento menor e inflação alta
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a guerra no Iraque e os recentes aumentos na taxa de juros,
o Brasil deverá ter menos crescimento com mais inflação neste
ano. No cenário traçado como o
mais provável diante das atuais
circunstâncias, o Banco Central
diz que o país irá crescer 2,2% em
2003, enquanto a alta dos preços
deve chegar a 10,8%.
Em dezembro, o BC estimava
que o país iria, neste ano, crescer
2,8% com uma inflação, medida
pelo IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo), de 9,5%.
As novas projeções constam no
"Relatório de Inflação", documento produzido pelo BC a cada
três meses e que contém as perspectivas para a economia brasileira traçadas pela instituição.
Caso se confirmem as estimativas, o BC não conseguirá cumprir
a meta de inflação de 8,5% que foi
fixada, pelo próprio BC, no final
de janeiro. "Houve um aumento
[da inflação] acima do esperado
no primeiro trimestre deste ano, o
que torna o cumprimento da meta mais difícil", afirma o diretor de
Política Econômica do BC, Ilan
Goldfajn.
A inflação acumulada no IPCA
entre janeiro e março deve chegar
a 4,8%, contra 3% esperados no
início do ano. Um dos principais
responsáveis por esse aumento
foi o reajuste dos chamados preços administrados, que incluem,
entre outros, preço de combustíveis e tarifas públicas.
Entre janeiro e março, os preços
administrados subiram 7,5%
-só a gasolina já subiu 12,4% no
período. Ao longo de todo o ano,
a alta do conjunto desses preços
deve ficar em 16,8%, contra 14%
estimados em dezembro passado.
A alta dos preços administrados
já faz o BC considerar a possibilidade de alterar a meta de inflação
para 9,5%. Goldfajn afirma, porém, que não há prazo para que
essa mudança seja decidida.
Oficialmente, a meta do governo é manter a inflação deste ano
em, no máximo, 6,5%. Diante da
disparada do dólar ocorrida no
ano passado, porém, o BC informou, em janeiro, que passaria a
perseguir uma meta de 8,5%.
Sem recessão
O governo diz que a mudança
foi feita para poupar o país de
uma recessão. Para que a meta de
6,5% fosse cumprida, afirma o
BC, os juros teriam que estar num
nível ainda mais elevado do que o
atual. Só os aumentos ocorridos
neste ano -a taxa básica subiu
1,5 ponto percentual no período,
chegando a 26,5% ao ano- foram suficientes para reduzir a
projeção de crescimento deste
ano de 2,8% para 2,2%.
"Esse é o custo da nossa batalha
contra a inflação", afirma o diretor do BC. Além dos juros altos,
colaborou para um cenário de desaquecimento econômico a redução nos gastos do governo, que
"seguem restringidos pela determinação em manter sustentável a
trajetória da dívida", ou seja, pelo
ajuste fiscal.
Goldfajn diz que todas essas
projeções podem ser modificadas
ao longo do ano, à medida que se
desenvolve o conflito no Iraque.
Ele disse que, em termos econômicos, o aspecto mais importante
da guerra não é a sua duração, e
sim seus efeitos sobre a economia
global. O conflito pode afetar a cotação do petróleo no mercado internacional, o que pressionaria o
preço dos combustíveis no Brasil.
Além disso, a queda no fluxo de
capital estrangeiro, a alta do dólar
e o pessimismo com a guerra
também poderiam colaborar para
a alta ainda mais forte da inflação.
Segundo o BC, num cenário em
que a guerra não afete tanto o Brasil, a cotação do dólar poderia ficar abaixo de R$ 3,40 e as expectativas do mercado em relação ao
comportamento da inflação seriam mais otimistas. Respeitadas
essas variáveis, a alta dos preços
poderia ficar em 9,5% neste ano.
A aposta de que parte desse cenário mais favorável vá prevalecer
nos próximos meses explica por
que o BC ainda acredita que a alta
do IPCA possa ficar dentro das
metas em vigor atualmente.
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