UOL


São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

A exportação de software

Os conflitos religiosos e nacionais na Ásia podem abrir um amplo espaço para a indústria nacional de software substituir parte do fornecimento dos desenvolvedores indianos. Há competência interna, bons grupos que surgiram nos últimos anos, alguns centros de excelência acadêmica, a vantagem do fuso horário e da segurança política.
Falta uma política objetiva de governo e setor privado.
Na semana passada, um seminário montado pela Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado) trouxe bons subsídios para a discussão de uma política brasileira de software.
Estudos comparativos realizados por pesquisadores da London Business School identificaram Israel como o caso mais bem-sucedido. De 1990 a 2001 a receita do setor saltou de US$ 450 milhões para US$ 4,1 bilhões, sendo 75% exportados.
Segundo Simon Commander, diretor do centro para mercados emergentes da London Business School, o setor público entrou com financiamento até que sentiu que a indústria estava madura. Depois, se retirou.
Mas não basta esse estímulo. O grande problema do software brasileiro é a falta de foco no mercado. Todo o esforço desenvolvido ao longo dos anos 90 pela Softex -um programa oficial de estímulo ao software com pretensões megalomaníacas e resultados pífios- consistiu em oferecer produtos acabados e não serviços que se encaixassem nas necessidades dos clientes.
Pesquisador da London Business School e professor da Fecap, Alfredo Behrens explica que o Brasil adotou caminho inverso ao percorrido pela Índia. No início dos anos 90, o Brasil era um mercado mais maduro, tanto que dispunha de produtos acabados. Mas não tinha foco no cliente.
Hoje em dia, Bangalore, na Índia, é considerado o segundo maior centro produtor de software do mundo, após o Vale do Silício, nos EUA. Nos últimos oito anos até 2001, o setor de tecnologia da informação da Índia cresceu em média 43% ao ano, contra um crescimento anual de 6,2% no PIB.
O feito indiano contou com uma dose inesperada de sorte. Em 1978 muitas multinacionais norte-americanas foram forçadas a deixar a Índia. Nos dez anos seguintes, o país viveu de mainframes soviéticos importados. Quando a nova geração de mainframes começou a ser desenvolvida nos EUA, houve necessidade de atrair especialistas nos velhos sistemas que falassem inglês e não custassem muito caro.
No final dos anos 80, programadores indianos começaram a viajar para os Estados Unidos para serviços de pequeno porte e por curtos períodos de tempo. Além da formação, passaram a criar redes de contatos com empresas norte-americanas que permitiram os primeiros trabalhos.
Na Índia, a proporção de desenvolvedores de software que saem do país para fazer cursos ou especializações fora é quase três vezes superior à do Brasil.
Por isso mesmo, uma política de governo deveria, de um lado, facilitar a busca por estágio em universidades e empresas do exterior e, de outro, atrair especialistas estrangeiros para o país. Há muitos programadores indianos que não estão conseguindo entrar nos EUA, devido ao endurecimento nas regras de migração.

E-mail - lnassif@uol.com.br


Texto Anterior: Imposto de renda: Saiba os bens que serão declarados
Próximo Texto: Ranking: Bolsa sobe 9,66% e é a campeã de março
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.