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LUÍS NASSIF
A exportação de software
Os conflitos religiosos e
nacionais na Ásia podem
abrir um amplo espaço para a
indústria nacional de software
substituir parte do fornecimento
dos desenvolvedores indianos.
Há competência interna, bons
grupos que surgiram nos últimos
anos, alguns centros de excelência acadêmica, a vantagem do
fuso horário e da segurança política.
Falta uma política objetiva de
governo e setor privado.
Na semana passada, um seminário montado pela Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado) trouxe bons subsídios para a discussão de uma política brasileira de software.
Estudos comparativos realizados por pesquisadores da London Business School identificaram Israel como o caso mais
bem-sucedido. De 1990 a 2001 a
receita do setor saltou de
US$ 450 milhões para US$ 4,1 bilhões, sendo 75% exportados.
Segundo Simon Commander,
diretor do centro para mercados
emergentes da London Business
School, o setor público entrou
com financiamento até que sentiu que a indústria estava madura. Depois, se retirou.
Mas não basta esse estímulo. O
grande problema do software
brasileiro é a falta de foco no
mercado. Todo o esforço desenvolvido ao longo dos anos 90 pela Softex -um programa oficial
de estímulo ao software com pretensões megalomaníacas e resultados pífios- consistiu em oferecer produtos acabados e não
serviços que se encaixassem nas
necessidades dos clientes.
Pesquisador da London Business School e professor da Fecap,
Alfredo Behrens explica que o
Brasil adotou caminho inverso
ao percorrido pela Índia. No início dos anos 90, o Brasil era um
mercado mais maduro, tanto
que dispunha de produtos acabados. Mas não tinha foco no
cliente.
Hoje em dia, Bangalore, na Índia, é considerado o segundo
maior centro produtor de software do mundo, após o Vale do
Silício, nos EUA. Nos últimos oito anos até 2001, o setor de tecnologia da informação da Índia
cresceu em média 43% ao ano,
contra um crescimento anual de
6,2% no PIB.
O feito indiano contou com
uma dose inesperada de sorte.
Em 1978 muitas multinacionais
norte-americanas foram forçadas a deixar a Índia. Nos dez
anos seguintes, o país viveu de
mainframes soviéticos importados. Quando a nova geração de
mainframes começou a ser desenvolvida nos EUA, houve necessidade de atrair especialistas
nos velhos sistemas que falassem
inglês e não custassem muito caro.
No final dos anos 80, programadores indianos começaram a
viajar para os Estados Unidos
para serviços de pequeno porte e
por curtos períodos de tempo.
Além da formação, passaram a
criar redes de contatos com empresas norte-americanas que
permitiram os primeiros trabalhos.
Na Índia, a proporção de desenvolvedores de software que
saem do país para fazer cursos
ou especializações fora é quase
três vezes superior à do Brasil.
Por isso mesmo, uma política
de governo deveria, de um lado,
facilitar a busca por estágio em
universidades e empresas do exterior e, de outro, atrair especialistas estrangeiros para o país.
Há muitos programadores indianos que não estão conseguindo entrar nos EUA, devido ao
endurecimento nas regras de migração.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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