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São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2003

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"Limpeza" de campo pode levar 4 anos

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As próximas safras de soja poderão estar contaminadas com transgênicos, mesmo que os produtores passem a plantar apenas grãos convencionais, como prevê a atual legislação.
O próprio assessor da Secretaria de Defesa Agropecuária, Jorge Salim Waquim, reconhece o risco de contaminação. "Pode demorar de três a quatro anos para limpar um campo [de transgênicos]", disse Waquim.
"Pode ficar alguma semente no campo e acontecer a contaminação. É problemático cortar de uma hora para outra a presença de transgênicos", afirmou Marcel Caixeta, vice-presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
Ciente do problema, Waquim diz que os agricultores podem atrasar o plantio neste ano, que acontece normalmente em outubro, para diminuir os riscos de contaminação da próxima safra.
O atraso do plantio seria de uma semana, segundo ele. Com a demora do plantio, os grãos de soja transgênica que sobraram no solo germinariam e seriam eliminados antes de o campo ser plantado com sementes convencionais.
Essa estratégia, no entanto, não pode garantir que não haveria nenhuma contaminação, pois poderia permanecer algum resquício de sementes transgênicas.
Ao editar medida provisória permitindo a comercialização no mercado interno da soja transgênica que está sendo colhida, o governo deixou claro que o uso de transgênico continua proibido.
O problema da próxima safra não é o único que precisa ser analisado pelo governo. Ontem, o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, José Amauri Dimarzio, disse que ainda não há uma estratégia precisa para implementar as regras previstas na MP que liberou a venda de soja transgênica até janeiro de 2004.
"Hoje não posso responder, mas até quarta-feira [amanhã] teremos tudo bem trabalhado", afirmou Dimarzio, quando questionado sobre os detalhes do processo de certificação e rotulagem da soja brasileira. A CNA afirma que o país não tem estrutura para certificar toda a soja. Caixeta afirma que a MP está punindo os produtores que sempre seguiram a lei e só plantaram soja convencional nos últimos anos.
Questionado sobre o assunto, Dimarzio limitou-se a responder que ainda era preciso detalhar melhor como serão implementadas as regras da MP.
O produtor de soja convencional poderá ser prejudicado de duas maneiras: 1) terá que arcar com o custo de provar que a soja que está vendendo não é transgênica e 2) corre o risco de ver sua soja classificada de geneticamente modificada pela contaminação.
A MP estabelece que qualquer nível de contaminação obriga o produtor a classificar sua soja de transgênica (a legislação anterior previa essa exigência quando a contaminação superasse 4%).


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