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"Limpeza" de campo pode levar 4 anos
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As próximas safras de soja poderão estar contaminadas com
transgênicos, mesmo que os produtores passem a plantar apenas
grãos convencionais, como prevê
a atual legislação.
O próprio assessor da Secretaria
de Defesa Agropecuária, Jorge Salim Waquim, reconhece o risco de
contaminação. "Pode demorar de
três a quatro anos para limpar um
campo [de transgênicos]", disse
Waquim.
"Pode ficar alguma semente no
campo e acontecer a contaminação. É problemático cortar de
uma hora para outra a presença
de transgênicos", afirmou Marcel
Caixeta, vice-presidente da CNA
(Confederação Nacional da Agricultura).
Ciente do problema, Waquim
diz que os agricultores podem
atrasar o plantio neste ano, que
acontece normalmente em outubro, para diminuir os riscos de
contaminação da próxima safra.
O atraso do plantio seria de uma
semana, segundo ele. Com a demora do plantio, os grãos de soja
transgênica que sobraram no solo
germinariam e seriam eliminados
antes de o campo ser plantado
com sementes convencionais.
Essa estratégia, no entanto, não
pode garantir que não haveria nenhuma contaminação, pois poderia permanecer algum resquício
de sementes transgênicas.
Ao editar medida provisória
permitindo a comercialização no
mercado interno da soja transgênica que está sendo colhida, o governo deixou claro que o uso de
transgênico continua proibido.
O problema da próxima safra
não é o único que precisa ser analisado pelo governo. Ontem, o secretário-executivo do Ministério
da Agricultura, José Amauri Dimarzio, disse que ainda não há
uma estratégia precisa para implementar as regras previstas na
MP que liberou a venda de soja
transgênica até janeiro de 2004.
"Hoje não posso responder,
mas até quarta-feira [amanhã] teremos tudo bem trabalhado",
afirmou Dimarzio, quando questionado sobre os detalhes do processo de certificação e rotulagem
da soja brasileira. A CNA afirma
que o país não tem estrutura para
certificar toda a soja. Caixeta afirma que a MP está punindo os produtores que sempre seguiram a lei
e só plantaram soja convencional
nos últimos anos.
Questionado sobre o assunto,
Dimarzio limitou-se a responder
que ainda era preciso detalhar
melhor como serão implementadas as regras da MP.
O produtor de soja convencional poderá ser prejudicado de
duas maneiras: 1) terá que arcar
com o custo de provar que a soja
que está vendendo não é transgênica e 2) corre o risco de ver sua
soja classificada de geneticamente
modificada pela contaminação.
A MP estabelece que qualquer
nível de contaminação obriga o
produtor a classificar sua soja de
transgênica (a legislação anterior
previa essa exigência quando a
contaminação superasse 4%).
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