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RECEITA AMARGA
Estudos mostram que elevação acontece com ou sem a inclusão de receitas atípicas do governo federal
Carga tributária aumenta no 1º ano de Lula
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A partir do recém-divulgado valor do PIB (Produto Interno Bruto) em 2003, pelo menos dois estudos apontam uma provável elevação da carga tributária global
do país no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Os dados mostram também
que, descontadas as receitas atípicas do governo federal, o peso dos
impostos e contribuições federais
para os brasileiros aumentou no
ano passado. Nessa conta não entram as receitas arrecadadas por
Estados e municípios.
Nos estudos do IBPT (Instituto
Brasileiro de Planejamento Tributário) e dos economistas José
Roberto Afonso, consultor técnico do PSDB, e Erika Araujo, o aumento de carga total acontece
mesmo sem descontar as receitas
atípicas do governo federal.
Esses resultados põem em xeque a promessa, sempre repetida
pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), de que o programa
de ajuste fiscal de Lula se basearia
apenas em controle de gastos públicos, sem elevação da carga tributária, já considerada excessiva.
Pelas estatísticas oficiais, a arrecadação do governo federal (Tesouro Nacional e Previdência Social) subiu de R$ 321,8 bilhões em
2002 para R$ 357,9 bilhões no ano
passado. Em percentual do PIB,
como costuma ser medida a carga, houve, de fato, alguma queda,
de 23,9% para 23,6%.
A comparação, no entanto, é
enganosa para a avaliação do real
impacto dos tributos federais sobre empresas e trabalhadores, por
incluir receitas extras ou atípicas
-que, como o nome indica, não
são resultado da cobrança regular
de tributos, mas sim de medidas
isoladas, como o pagamento de
débitos em atraso com a Receita.
A arrecadação do Tesouro em
2002 foi inflada por um volume
anormal de receitas atípicas: foram R$ 18,5 bilhões, contra apenas R$ 7,9 bilhões em 2003.
Excluídas tais receitas, a carga
de impostos e contribuições federais subiu, no primeiro ano de Lula, de 22,5% para 23,1% do PIB.
A elevação, de 0,6 ponto percentual, não é pequena como pode
parecer: basta dizer que o tão falado arrocho fiscal do governo foi
uma elevação de 0,5 ponto percentual -de 3,75% para 4,25%
do PIB- da meta de superávit
primário (a parcela das receitas
destinada ao pagamento de juros
da dívida pública).
Traduzindo: o ajuste petista
substituiu receita ocasional por
permanente, o que favorece a gestão do caixa, mas tende a ampliar
o impacto sobre a economia.
Em 2003, houve aumentos da
Cofins (Contribuição Social para
o Financiamento da Seguridade
Social) e da CSLL (Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido),
além de ganhos com a nova forma
de cobrança do PIS (Programa de
Integração Social).
Carga total
Ainda não há uma estimativa
oficial para a carga total de 2003,
mas os dois estudos apontam para a elevação, mesmo incluindo
nos cálculos as receitas atípicas.
O IBPT, usando metodologia
própria, estimou a receita de
União, Estados e municípios em
R$ 546,97 bilhões no ano passado,
contra R$ 482,36 bilhões em 2002.
Com os valores do PIB calculados pelo IBGE, os números significam aumento da carga fiscal de
35,84% para 36,11%. Sem as receitas atípicas, a alta é mais visível: de
34,5% para 35,6% do PIB.
Com critérios semelhantes aos
do governo, Afonso e Araujo, em
estudo divulgado pelo BNDES,
estimaram para 2003 uma arrecadação de R$ 543,3 bilhões -o que
equivale, pelos novos números do
IBGE, a 35,9% do PIB, contra os
35,6% de 2002. Sem as receitas extras, a alta é de 34,3% para 35,3%.
Pelos dados da Receita, a carga
seguiu trajetória de alta quase
contínua no governo FHC. Passou de 28,5% em 1995 para 35,2%
do PIB em 2002. Na avaliação da
maior parte dos especialistas, essa
proporção é alta para um país de
renda média como o Brasil.
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