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TROCA DE COMANDO
Ministro e presidente do BC optam pela cautela, e TJLP é reduzida em 0,85 ponto percentual, para 8,15%
Mantega e Meirelles fazem acordo no 1º round
GUSTAVO PATU
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Acordo na cúpula econômica
do governo cortou de 9% para
8,15% a taxa que serve de referência para os empréstimos do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Graças ao entendimento
prévio, a decisão foi formalizada
ontem, "por unanimidade", na
reunião do Conselho Monetário
Nacional, formado pelos ministros Guido Mantega (Fazenda) e
Paulo Bernardo (Planejamento) e
pelo presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles.
Evitou-se potencial impasse entre Meirelles, defensor de queda
cautelosa da TJLP (Taxa de Juros
de Longo Prazo), e Mantega, que,
até uma semana atrás, na condição de presidente do BNDES, pregava a queda da taxa a 7%.
Desde que Mantega sucedeu
Antonio Palocci Filho na Fazenda, a fixação da TJLP vinha sendo
encarada como um primeiro teste
da disposição do novo ministro,
da ala dita desenvolvimentista do
PT, de manter a ortodoxia de seu
antecessor -e também de seu
novo relacionamento com Meirelles, cuja política monetária conservadora sempre criticou.
Conforme a Folha noticiou ontem, o governo optou por priorizar uma demonstração de austeridade e harmonia na reunião do
CMN. Avaliava-se que, tecnicamente, uma redução para 8% ao
ano da TJLP seria justificável. No
entanto, para evitar uma eventual
interpretação de afrouxamento
do controle da inflação, preferiu-se uma queda mais modesta.
A avaliação na equipe econômica foi que "não houve ganhadores
nem perdedores" no primeiro
embate entre Mantega e Meirelles. A redução da taxa ficou acima do 0,75 ponto de dezembro.
Negociação
Para evitar racha no CMN,
Mantega, Meirelles e Bernardo
conversaram entre si, em diferentes momentos, antes da reunião
de ontem, que demorou menos
de meia hora. "No CMN não houve discussão", disse o diretor de
Normas do BC, Sérgio Darcy, encarregado do anúncio das decisões do conselho.
A articulação para convencer
Mantega foi que a regra para cálculo da TJLP, que diz que a taxa
deve considerar a inflação projetadas para 12 meses e o risco Brasil, não é clara com relação às diferentes formas de medir o risco.
Assim, para evitar movimento
brusco em momentos de subida
ou descida da taxa, é preciso considerar não só o risco acompanhado diariamente pelo mercado
(Embi) mas também o risco embutido no custo internacional.
Segundo a Folha apurou, essa
argumentação foi apresentada ao
ministro como um aperfeiçoamento da fórmula criada no passado. Ao contrário do que acontecia antes, os novos parâmetros
para fixar a TJLP não são tornados públicos. Apesar de não estar
muito convencido, Mantega concordou com o fato de que não era
possível uma queda abrupta.
Mesmo os defensores de uma
queda mais ousada da TJLP calcularam que, no momento, a estratégia mais adequada seria a
cautela. Quanto mais rapidamente Mantega dissipar as incertezas
em torno de seu nome, mais fácil
será reduzir não só a taxa do
BNDES como a do próprio BC,
muito mais importante por servir
de base para toda a economia.
Quando defendia a TJLP de 7%,
Mantega se baseava na fórmula de
cálculo da taxa, que, em tese, soma a expectativa de inflação futura, hoje de 4,5%, com o indicador
de risco do Brasil (o juro que o
país paga acima dos cobrados dos
EUA em empréstimos internacionais), atualmente na casa de 2,5%.
Na prática, porém, o CMN tem
deixado de lado a fórmula para
contribuir com a política monetária apertada conduzida pelo BC.
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