São Paulo, sábado, 01 de abril de 2006

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TROCA DE COMANDO

Ministro e presidente do BC optam pela cautela, e TJLP é reduzida em 0,85 ponto percentual, para 8,15%

Mantega e Meirelles fazem acordo no 1º round

GUSTAVO PATU
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acordo na cúpula econômica do governo cortou de 9% para 8,15% a taxa que serve de referência para os empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Graças ao entendimento prévio, a decisão foi formalizada ontem, "por unanimidade", na reunião do Conselho Monetário Nacional, formado pelos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Evitou-se potencial impasse entre Meirelles, defensor de queda cautelosa da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), e Mantega, que, até uma semana atrás, na condição de presidente do BNDES, pregava a queda da taxa a 7%.
Desde que Mantega sucedeu Antonio Palocci Filho na Fazenda, a fixação da TJLP vinha sendo encarada como um primeiro teste da disposição do novo ministro, da ala dita desenvolvimentista do PT, de manter a ortodoxia de seu antecessor -e também de seu novo relacionamento com Meirelles, cuja política monetária conservadora sempre criticou.
Conforme a Folha noticiou ontem, o governo optou por priorizar uma demonstração de austeridade e harmonia na reunião do CMN. Avaliava-se que, tecnicamente, uma redução para 8% ao ano da TJLP seria justificável. No entanto, para evitar uma eventual interpretação de afrouxamento do controle da inflação, preferiu-se uma queda mais modesta.
A avaliação na equipe econômica foi que "não houve ganhadores nem perdedores" no primeiro embate entre Mantega e Meirelles. A redução da taxa ficou acima do 0,75 ponto de dezembro.

Negociação
Para evitar racha no CMN, Mantega, Meirelles e Bernardo conversaram entre si, em diferentes momentos, antes da reunião de ontem, que demorou menos de meia hora. "No CMN não houve discussão", disse o diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, encarregado do anúncio das decisões do conselho.
A articulação para convencer Mantega foi que a regra para cálculo da TJLP, que diz que a taxa deve considerar a inflação projetadas para 12 meses e o risco Brasil, não é clara com relação às diferentes formas de medir o risco. Assim, para evitar movimento brusco em momentos de subida ou descida da taxa, é preciso considerar não só o risco acompanhado diariamente pelo mercado (Embi) mas também o risco embutido no custo internacional.
Segundo a Folha apurou, essa argumentação foi apresentada ao ministro como um aperfeiçoamento da fórmula criada no passado. Ao contrário do que acontecia antes, os novos parâmetros para fixar a TJLP não são tornados públicos. Apesar de não estar muito convencido, Mantega concordou com o fato de que não era possível uma queda abrupta.
Mesmo os defensores de uma queda mais ousada da TJLP calcularam que, no momento, a estratégia mais adequada seria a cautela. Quanto mais rapidamente Mantega dissipar as incertezas em torno de seu nome, mais fácil será reduzir não só a taxa do BNDES como a do próprio BC, muito mais importante por servir de base para toda a economia.
Quando defendia a TJLP de 7%, Mantega se baseava na fórmula de cálculo da taxa, que, em tese, soma a expectativa de inflação futura, hoje de 4,5%, com o indicador de risco do Brasil (o juro que o país paga acima dos cobrados dos EUA em empréstimos internacionais), atualmente na casa de 2,5%.
Na prática, porém, o CMN tem deixado de lado a fórmula para contribuir com a política monetária apertada conduzida pelo BC.


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