São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Crescimento da demanda interna traz desafios

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A demanda interna, puxada pelo consumo das famílias e do governo, contribuiu mais para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do que se imaginava, como revelou o IBGE, que identificou ainda uma taxa de investimento menor no país ao revisar os cálculos do PIB.
Essa constatação levanta uma dúvida: até quanto o consumo pode crescer sem que os investimentos e a economia deslanchem e sem que o governo tenha de mexer nos juros e no câmbio?
Cálculo feito por Fernando Montero, economista da Corretora Convenção, mostra que a contribuição do mercado interno no PIB revisado de 2002 a 2006 -que cresceu 17,1%- foi de 13,1 pontos percentuais. Na série antiga, a contribuição tinha sido de 7,9 pontos percentuais para um crescimento de 13,1% do PIB no período.
"Isso quer dizer que temos de olhar com muito mais cuidado a sustentabilidade do crescimento do país. Se crescemos mais com menos investimento, significa que estamos mais produtivos. Só que confiar demais na produtividade da economia é arriscado. É melhor ter crescimento puxado pelo investimento do que pelo consumo." Pelos cálculos do IBGE, a taxa de investimento no país está ao redor de 16% sobre o PIB. Na série antiga, estava em 20%.
No ano passado, a contribuição da demanda interna no PIB revisado pelo IBGE -que cresceu 3,7%- foi de 5,1 pontos percentuais, segundo cálculo feito por Montero. E a contribuição da demanda externa foi negativa em 1,4 ponto percentual -isto é, apesar de as exportações terem crescido, contribuíram menos para o PIB.
"A equipe econômica celebra o fato de o país ter crescido mais com uma taxa de investimento menor, mas deveria lamentar o crescimento da demanda interna com juros reais elevados."
O crescimento da economia apoiado no consumo das famílias e do governo é ruim porque não resulta em criação de empregos, na avaliação de Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
A expansão do crédito e dos prazos de financiamento "foi boa para pegar a economia no tranco", na avaliação de Silveira. "Só que esse aditivo começou a se tornar um vício perigoso, com comprometimento cada vez maior do rendimento mensal do trabalhador."
Para Sérgio Vale, da MB Associados, a contribuição da demanda interna no PIB revisado "é preocupante e não é para ser comemorada, pois mascara a realidade do país. Expressa um crescimento ruim porque não gera capacidade produtiva."
Segundo Vale, "o país não pode consumir tudo o que produz, tem de gerar capacidade produtiva. Se a demanda cresce acima da oferta, gera inflação". Para evitar essa situação, na avaliação de Vale, pode valer a pena o governo manter o real valorizado em relação ao dólar, pois isso torna o importado mais barato, e a concorrência, mais acirrada no mercado interno, com os preços em baixa.
"Só que o real valorizado não favorece os investimentos no mercado interno. Quem vai querer produzir no Brasil sabendo que pode enfrentar a concorrência internacional em desvantagem?", questiona Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo.


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