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Crescimento da
demanda interna
traz desafios
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A demanda interna, puxada pelo consumo das famílias
e do governo, contribuiu
mais para o crescimento do
PIB (Produto Interno Bruto)
do que se imaginava, como
revelou o IBGE, que identificou ainda uma taxa de investimento menor no país ao revisar os cálculos do PIB.
Essa constatação levanta
uma dúvida: até quanto o
consumo pode crescer sem
que os investimentos e a economia deslanchem e sem
que o governo tenha de mexer nos juros e no câmbio?
Cálculo feito por Fernando Montero, economista da
Corretora Convenção, mostra que a contribuição do
mercado interno no PIB revisado de 2002 a 2006 -que
cresceu 17,1%- foi de 13,1
pontos percentuais. Na série
antiga, a contribuição tinha
sido de 7,9 pontos percentuais para um crescimento
de 13,1% do PIB no período.
"Isso quer dizer que temos
de olhar com muito mais cuidado a sustentabilidade do
crescimento do país. Se crescemos mais com menos investimento, significa que estamos mais produtivos. Só
que confiar demais na produtividade da economia é arriscado. É melhor ter crescimento puxado pelo investimento do que pelo consumo." Pelos cálculos do IBGE,
a taxa de investimento no
país está ao redor de 16% sobre o PIB. Na série antiga, estava em 20%.
No ano passado, a contribuição da demanda interna
no PIB revisado pelo IBGE
-que cresceu 3,7%- foi de
5,1 pontos percentuais, segundo cálculo feito por Montero. E a contribuição da demanda externa foi negativa
em 1,4 ponto percentual -isto é, apesar de as exportações
terem crescido, contribuíram menos para o PIB.
"A equipe econômica celebra o fato de o país ter crescido mais com uma taxa de investimento menor, mas deveria lamentar o crescimento da demanda interna com
juros reais elevados."
O crescimento da economia apoiado no consumo das
famílias e do governo é ruim
porque não resulta em criação de empregos, na avaliação de Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
A expansão do crédito e
dos prazos de financiamento
"foi boa para pegar a economia no tranco", na avaliação
de Silveira. "Só que esse aditivo começou a se tornar um
vício perigoso, com comprometimento cada vez maior
do rendimento mensal do
trabalhador."
Para Sérgio Vale, da MB
Associados, a contribuição
da demanda interna no PIB
revisado "é preocupante e
não é para ser comemorada,
pois mascara a realidade do
país. Expressa um crescimento ruim porque não gera
capacidade produtiva."
Segundo Vale, "o país não
pode consumir tudo o que
produz, tem de gerar capacidade produtiva. Se a demanda cresce acima da oferta, gera inflação". Para evitar essa
situação, na avaliação de Vale, pode valer a pena o governo manter o real valorizado
em relação ao dólar, pois isso
torna o importado mais barato, e a concorrência, mais
acirrada no mercado interno, com os preços em baixa.
"Só que o real valorizado
não favorece os investimentos no mercado interno.
Quem vai querer produzir no
Brasil sabendo que pode enfrentar a concorrência internacional em desvantagem?",
questiona Emílio Alfieri,
economista da Associação
Comercial de São Paulo.
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