São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Bancos ganham bem mais que empresas

Receita bruta do setor financeiro aumenta 41% nos últimos dois anos, contra 6,4% das companhias do setor produtivo

"Spreads" ainda elevados aplicados pelos bancos impedem crescimento maior de operações de crédito e do próprio PIB

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da tendência de crescimento no faturamento apontada no balanço das 43,3 mil empresas analisadas pela Serasa, são os bancos quem têm registrado aumentos bem maiores nos ganhos com a intermediação financeira (o "faturamento" do setor financeiro).
Segundo os dados da Serasa, entre 2004 e 2006, as 43,3 mil empresas aumentaram o faturamento em 6,4%. Já a receita bruta (o faturamento com intermediações) dos 50 maiores bancos do país subiu 41% no mesmo período, segundo cálculos do Inepad.
O resultado dos bancos é muito melhor por conta dos "spreads" altos. O "spread" é a diferença entre o que o banco paga para captar dinheiro e a quanto ele empresta esse mesmo recurso a terceiros.
Hoje, o total de crédito concedido pelos bancos em toda a economia é muito baixo na comparação com outros países. Equivale a aproximadamente 32% do PIB.
Se os "spreads" fossem bem menores, certamente o "custo" do dinheiro seria mais baixo e haveria mais crédito impulsionando as vendas de geladeiras, automóveis e imóveis.
"A expansão do crédito vem ganhando força nos últimos anos, mas continua muito lenta na comparação com outros países", afirma Amador Rodriguez, da Serasa.
Marcel de Marco, do Inepad, acredita que apenas no longo prazo os bancos vão acabar "entrando na mesma curva do resto da economia", baixando os "spreads" e permitindo a ampliação do crédito.
Na semana passada, pesquisa do Banco Central revelou que os bancos continuam mantendo os "spreads" elevados apesar da contínua queda do custo de captação de dinheiro.
Ou seja, a queda no custo dos empréstimos nos últimos meses teria sido maior se os bancos tivessem repassado totalmente aos tomadores e devedores o alívio proporcionado pela queda da Selic (a taxa básica de juros do país).
Entre setembro de 2005 e fevereiro passado, a Selic caiu de 19,75% ao ano para 13% (-6,75 pontos percentuais). No mesmo período, o "spread" passou de 29,4% para 27,6% (-1,8 p.p.).
Os bancos afirmam que a Selic não guarda relação com os "spreads", que seriam determinados por outros custos de captação de dinheiro e pelos riscos de inadimplência nas operações de crédito.
Representantes da indústria afirmam que a redução dos juros ainda não chegou ao setor exatamente por conta da manutenção de "spreads" elevados. "A carga tributária alta, o "spread" bancário e, principalmente, o câmbio desfavorável continuam dificultando a vida da indústria", afirma José Ricardo Roriz Coelho, diretor titular do Departamento de Competitividade da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Ao avaliar o levantamento feito pela Serasa, ele afirma que, apesar do maior vigor das empresas, o Brasil poderia aproveitar melhor o crescimento da economia mundial.
"O problema não é que não estamos crescendo. É que estamos crescendo muito menos do que os concorrentes, como China, Índia e Rússia." (MP e FCZ)


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