São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2008

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Governo Bush propõe maior controle do setor financeiro

Propostas devem levar anos para serem implementadas, admite o Tesouro

Entre as medidas, estão maior fiscalização bancária e uma espécie de "polícia financeira" para investigar instituições em risco

J. Scott Applewhite/Associated Press
O secretário Paulson durante anúncio das novas propostas


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Na maior proposta de reforma do mercado financeiro americano desde a Grande Depressão, iniciada em 1929, o secretário do Tesouro de George W. Bush anunciou os principais pontos de seu plano ontem.
Entre eles, está o fortalecimento do papel do Fed, o banco central americano, e uma maior regulação de setores da economia do país que até então gozavam de grande liberdade.
Pelo apresentado na manhã de ontem em Washington pelo secretário Henry Paulson Jr., o Fed ganha poderes para regular também outras áreas financeiras que não só bancos comerciais, como bancos de investimento e financeiras. Além disso, o órgão presidido por Ben Bernanke contaria com uma espécie de "polícia financeira" -agentes de elite que seriam enviados a investigar bancos cuja situação possa representar riscos ao sistema financeiro.
É uma resposta às críticas de analistas e economistas de que a principal autoridade monetária dos EUA tem um arsenal limitado de armas -fixação de taxas de juros, injeção maior ou menor de dinheiro no mercado- para atacar crises de um mundo financeiro cada vez mais complexo e opaco.
Já a criação do grupo de agentes serviria para evitar que casos como o que levou à venda do Bear Stearns sejam debelados antes de gerar pânico.
Mas o próprio Paulson, ex-dirigente de um desses bancos, o Goldman Sachs, admite que a implantação das mudanças deve levar anos. E terão enormes dificuldades no Congresso.
De acordo com o plano, ganham maior vigilância as agências imobiliárias, que estão no ponto zero da crise, iniciada nos financiamentos de imóveis a clientes de alto risco. A idéia é unificar sob uma comissão do governo federal a ser criada o mar de leis e regulamentos do setor, hoje sob jurisdição de cada um dos 50 Estados, muitas vezes conflitantes e pouco claros. E o setor de seguros ganharia uma seção específica no Tesouro.
Por fim, entre os pontos principais apresentados num cartapácio de 212 páginas por Paulson na manhã de ontem, estão a fusão da SEC (Securities and Exchange Commission), a equivalente americana da brasileira CVM (Comissão de Valores Imobiliários), à Comissão de Negociação Futura de Commodities.
Neófito em Washington, aonde chegou após três décadas em Wall Street, o secretário afirmou que ele e seus colegas trabalham no projeto há meses e que não se tratava de uma reação à crise: "Nossa estrutura regulatória atual não foi feita para lidar com o sistema financeiro moderno. Grande parte foi feita após a Grande Depressão, como reação -um padrão de criar regras como resposta a inovações mercadológicas ou ao estresse do mercado."


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