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Propostas são recebidas com ceticismo
Plano tem de ser negociado no Congresso de maioria democrata, o que pode levar anos até ser concluído e implementado
Candidatos democratas criticam propostas para regular sistema; "Não é coelho tirado da cartola", defende Casa Branca
DE WASHINGTON
Um plano criado pelo secretário de um presidente impopular que tem menos de dez
meses restantes no poder, herdou o país com superávit de seu
antecessor democrata e, depois
de duas guerras, entregará uma
economia em crise ao seu sucessor. Além disso, que terá de
ser negociado ponto a ponto e
aprovado por um Congresso
comandado pela oposição.
Assim parte do mundo político norte-americano encarou a
ousada proposta de Henry
Paulson Jr., feita ontem -mesmo levando em conta que um
dos pilares do Plano Paulson é
uma maior interferência do governo na economia, pelo menos
nas agências imobiliárias e instituições de seguros, velhas reivindicações da oposição.
Uma das primeiras a se manifestar foi a senadora Hillary
Clinton, que disputa com Barack Obama a indicação de seu
partido à sucessão de Bush.
"Embora eu veja qualidades e
até concorde com algumas recomendações, acho que o governo republicano é muito lento para agir", disse a ex-primeira-dama. Para ela, ainda é grande a distância entre o que a
equipe econômica de Bush propõe e o que o país necessita.
Já Barack Obama foi irônico.
"George Bush finalmente percebeu que talvez nós precisemos ter algum controle sobre
os mercados financeiros", afirmou o senador por Illinois.
"Mas ele não está endurecendo
as regulações, não está impedindo o empréstimo predatório
que é responsável por vários
desses problemas."
De maneira geral, os democratas defendem uma ajuda estatal maior aos endividados pela chamada crise do "subprime", que atingiria cerca de 4
milhões de lares. O plano de
Paulson não lida diretamente
com o assunto, embora ganhe
fôlego em ambos os partidos do
Congresso nos últimos dias um
pacote feito especificamente
para aliviar essa fatia.
John McCain, o candidato
republicano, reagiu à proposta
do governo Bush como vem fazendo nas últimas semanas em
relação a outros tópicos emanados da Casa Branca atual
-com uma distância diplomática e sem se comprometer. De
acordo com o divulgado por sua
assessoria, ainda estudaria o
pacote para se pronunciar. Mas
acha bom que os empréstimos
temporários feitos pelo Fed para levar liquidez ao mercado sejam acompanhados de "transparência adicional".
Foi o suficiente para que Hillary o criticasse. "Não podemos permitir a política atual de
"esperar e não ver" ou a política
do senador McCain, de sentar
em suas mãos", disse. O republicano declarou anteriormente não ser um "expert" em economia e que provavelmente teria de se aplicar mais ao assunto ao longo da campanha.
Fogo semelhante, embora
mais ameno, veio do Congresso. "Falar de recolocar na rota o
sistema regulatório é uma idéia
maravilhosa", disse o democrata Chris Dodd, presidente do
comitê de finanças do Senado,
que em última instância será o
interlocutor de Paulson na Casa. "Mas, francamente, [o plano] não lida com as questões
com as quais nós estamos nos
debatendo."
É o que acha também a presidente do Congresso, Nancy Pelosi, para quem o plano "é um
passo na direção certa". "Mas
nós precisamos ir mais fundo,
dar passos agora para ajudar famílias que estão sofrendo",
afirmou. A reação fez com que o
economista Lou Candrall, da
investidora Wrightson Icap, de
Jersey City, em Nova Jersey,
previsse uma disputa longa:
"Não digo cinco ou seis anos,
mas será uma boa discussão".
Antecipando-se às críticas, o
próprio Paulson disse que a sua
era uma proposta para o futuro.
"Esse projeto lida com questões complexas e de longo prazo que não deveriam ser decididas no meio de situações de estresse nem ser implementadas
de forma a adicionar ônus a um
mercado já sob pressão", afirmou. "Essas idéias requerem
uma discussão cuidadosa e não
serão decididas neste mês ou
mesmo neste ano."
Suas palavras encontraram
eco na porta-voz da Casa Branca. "É uma tentativa ambiciosa,
mas o presidente não foge de
grandes desafios", defendeu
Dana Perino. Para ela, "o secretário Paulson vem trabalhando
nesse pacote por quase um ano,
então não é como se ele tivesse
tirado um coelho da cartola".
Sobre a negociação com o Legislativo, Perino disse que
"membros do Congresso terão
muito a oferecer".
O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, avaliou a proposta como "equilibrada e bem
pensada para modernizar o sistema financeiro". "A estrutura
regulatória confusa e duplicada
de nosso país se converteu num
problema cada vez maior para a
nossa competitividade."
Em Wall Street, a proposta
de regulação dos bancos de investimento foi criticada por reduzir a possibilidade de alavancagem dos resultados.
Bancos de investimento como Goldman Sachs e Morgan
Stanley, que não são monitorados pelo Fed, têm conseguido
aumentos consideráveis em
seus balanços.
Um banqueiro de Wall Street
ponderou que, se o regulador
impuser regras de bancos comerciais para os de investimento, seu modelo de negócios
será seriamente afetado.
(SÉRGIO DÁVILA)
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