São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2008

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Propostas são recebidas com ceticismo

Plano tem de ser negociado no Congresso de maioria democrata, o que pode levar anos até ser concluído e implementado

Candidatos democratas criticam propostas para regular sistema; "Não é coelho tirado da cartola", defende Casa Branca

DE WASHINGTON

Um plano criado pelo secretário de um presidente impopular que tem menos de dez meses restantes no poder, herdou o país com superávit de seu antecessor democrata e, depois de duas guerras, entregará uma economia em crise ao seu sucessor. Além disso, que terá de ser negociado ponto a ponto e aprovado por um Congresso comandado pela oposição.
Assim parte do mundo político norte-americano encarou a ousada proposta de Henry Paulson Jr., feita ontem -mesmo levando em conta que um dos pilares do Plano Paulson é uma maior interferência do governo na economia, pelo menos nas agências imobiliárias e instituições de seguros, velhas reivindicações da oposição.
Uma das primeiras a se manifestar foi a senadora Hillary Clinton, que disputa com Barack Obama a indicação de seu partido à sucessão de Bush. "Embora eu veja qualidades e até concorde com algumas recomendações, acho que o governo republicano é muito lento para agir", disse a ex-primeira-dama. Para ela, ainda é grande a distância entre o que a equipe econômica de Bush propõe e o que o país necessita.
Já Barack Obama foi irônico. "George Bush finalmente percebeu que talvez nós precisemos ter algum controle sobre os mercados financeiros", afirmou o senador por Illinois. "Mas ele não está endurecendo as regulações, não está impedindo o empréstimo predatório que é responsável por vários desses problemas."
De maneira geral, os democratas defendem uma ajuda estatal maior aos endividados pela chamada crise do "subprime", que atingiria cerca de 4 milhões de lares. O plano de Paulson não lida diretamente com o assunto, embora ganhe fôlego em ambos os partidos do Congresso nos últimos dias um pacote feito especificamente para aliviar essa fatia.
John McCain, o candidato republicano, reagiu à proposta do governo Bush como vem fazendo nas últimas semanas em relação a outros tópicos emanados da Casa Branca atual -com uma distância diplomática e sem se comprometer. De acordo com o divulgado por sua assessoria, ainda estudaria o pacote para se pronunciar. Mas acha bom que os empréstimos temporários feitos pelo Fed para levar liquidez ao mercado sejam acompanhados de "transparência adicional".
Foi o suficiente para que Hillary o criticasse. "Não podemos permitir a política atual de "esperar e não ver" ou a política do senador McCain, de sentar em suas mãos", disse. O republicano declarou anteriormente não ser um "expert" em economia e que provavelmente teria de se aplicar mais ao assunto ao longo da campanha.
Fogo semelhante, embora mais ameno, veio do Congresso. "Falar de recolocar na rota o sistema regulatório é uma idéia maravilhosa", disse o democrata Chris Dodd, presidente do comitê de finanças do Senado, que em última instância será o interlocutor de Paulson na Casa. "Mas, francamente, [o plano] não lida com as questões com as quais nós estamos nos debatendo."
É o que acha também a presidente do Congresso, Nancy Pelosi, para quem o plano "é um passo na direção certa". "Mas nós precisamos ir mais fundo, dar passos agora para ajudar famílias que estão sofrendo", afirmou. A reação fez com que o economista Lou Candrall, da investidora Wrightson Icap, de Jersey City, em Nova Jersey, previsse uma disputa longa: "Não digo cinco ou seis anos, mas será uma boa discussão".
Antecipando-se às críticas, o próprio Paulson disse que a sua era uma proposta para o futuro. "Esse projeto lida com questões complexas e de longo prazo que não deveriam ser decididas no meio de situações de estresse nem ser implementadas de forma a adicionar ônus a um mercado já sob pressão", afirmou. "Essas idéias requerem uma discussão cuidadosa e não serão decididas neste mês ou mesmo neste ano."
Suas palavras encontraram eco na porta-voz da Casa Branca. "É uma tentativa ambiciosa, mas o presidente não foge de grandes desafios", defendeu Dana Perino. Para ela, "o secretário Paulson vem trabalhando nesse pacote por quase um ano, então não é como se ele tivesse tirado um coelho da cartola". Sobre a negociação com o Legislativo, Perino disse que "membros do Congresso terão muito a oferecer".
O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, avaliou a proposta como "equilibrada e bem pensada para modernizar o sistema financeiro". "A estrutura regulatória confusa e duplicada de nosso país se converteu num problema cada vez maior para a nossa competitividade."
Em Wall Street, a proposta de regulação dos bancos de investimento foi criticada por reduzir a possibilidade de alavancagem dos resultados.
Bancos de investimento como Goldman Sachs e Morgan Stanley, que não são monitorados pelo Fed, têm conseguido aumentos consideráveis em seus balanços.
Um banqueiro de Wall Street ponderou que, se o regulador impuser regras de bancos comerciais para os de investimento, seu modelo de negócios será seriamente afetado.
(SÉRGIO DÁVILA)


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