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ANÁLISE
Aumento de gasto para combater recessão não passa de uma vontade
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na tentativa de conciliar a fome e a vontade de comer, a administração petista atribui o
buraco orçamentário do primeiro bimestre ao que chama
de política fiscal anticíclica, ou
seja, a elevação dos gastos públicos destinada a combater a
ameaça de recessão no país. Até
aqui, porém, os dados mostram
apenas fome -arrecadação insuficiente para bancar compromissos assumidos muito antes
do agravamento da crise econômica global.
Do aumento de R$ 14,2 bilhões nas despesas, em comparação com janeiro e fevereiro
do ano passado, nada menos de
90% são explicados por medidas, legislações e imprevistos
sem nenhuma relação com decisões tomadas pelo governo
Lula com objetivo de reanimar
o consumo e o investimento.
A começar pela disparada da
folha de salários do funcionalismo público, que sozinha responde por quase 40% dos novos gastos. Trata-se do resultado de um pacote de reajustes
escalonados negociado com os
sindicatos ainda no primeiro
semestre de 2008, quando o
máximo de conservadorismo
na elaboração do Orçamento
era a previsão de crescimento
econômico de 4,5% neste ano,
em vez dos 5% anteriores.
Outros 34% das despesas
adicionais estão relacionados
ao reajuste do salário mínimo,
que segue uma regra definida
dois anos atrás: aplica-se a inflação acumulada desde o reajuste anterior mais a variação
do PIB do ano retrasado. Aposentadorias, pensões, auxílio-doença, benefícios assistenciais e seguro-desemprego
crescem com o mínimo -e com
o aumento do número de beneficiários, totalmente fora do
controle do governo.
Nos programas e nas ações
em que o presidente e seus ministros têm poder de decisão, o
único aumento de gastos visível
a olho nu, de R$ 2 bilhões, aconteceu na Saúde. Os gastos do setor, no entanto, seguem regra
semelhante à do salário mínimo, mas definida muito antes,
em 2000: eles sobem a cada ano
conforme a inflação e a expansão do PIB do ano anterior.
Completam a conta sentenças judiciais contra o Tesouro e
despesas adicionais dos poderes Legislativo e Judiciário, que
têm autonomia orçamentária.
Já a tal política anticíclica
não passa, ao menos nos resultados do bimestre, de uma vontade. Seu instrumento clássico,
o investimento público, teve
uma elevação contabilizada em
casas depois da vírgula -de R$
2,4 bilhões para R$ 2,7 bilhões.
Se consideradas só as obras
prioritárias em infraestrutura,
livres de bloqueio de gastos, a
alta foi de R$ 0,6 bilhão para R$
0,8 bilhão, ou 1,4% do aumento
total de gastos. Os subsídios ao
setor agrícola passaram de R$
0,6 bilhão para, arredondando
para cima, R$ 1 bilhão.
Não houve, a rigor, política
fiscal no período. Só neste mês,
quando foi definida a programação orçamentária inicial para o ano, a área econômica indicou, sem afirmações categóricas, a intenção de perseguir
metas fiscais mais frouxas no
ano. Antes de sair do improviso, porém, é preciso saber até
onde a receita vai cair.
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