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ARTIGO
Por que o G20 fracassará
MARTIN WOLF
"DO FINANCIAL TIMES"
A CONFERÊNCIA de cúpula do G20 parece destinada a realizar progressos. Mas suas realizações
precisam ser medidas não apenas diante do desempenho do
passado, mas com relação à "feroz urgência do agora". E, infelizmente, não serão suficientes.
A OCDE prevê agora contração de 4,3% nas economias dos
países avançados neste ano, seguida por estagnação em 2010.
Nos países avançados que a integram, o desemprego pode subir em 25 milhões de pessoas
até 2010. Enquanto isso, o FMI
prevê que a economia mundial
se contrairá neste ano entre
0,5% e 1%. Isso representaria
uma elevação de cerca de 4% na
"diferença de produção", a diferença entre o potencial produtivo e a produção efetiva.
Será que o G20 se provará capaz de enfrentar esses excepcionais desafios? A resposta é
não. O que é necessário é uma
grande ampliação na demanda
e uma virada em sua distribuição, dos países cronicamente
deficitários para os superavitários. Em ambos os pontos, o
progresso será muito limitado.
A OCDE argumenta que as
medidas de estímulo adotadas
pelos governos em resposta à
crise elevarão o PIB desses países em média por só 0,5%, em
2009 e 2010. Além disso, a demanda adicional está surgindo
pelo menos em igual medida
nos países deficitários e superavitários. Isso não é receita para uma solução dos desequilíbrios mundiais, mas sim para
seu prolongamento indefinido.
Infelizmente, não há consenso sobre as causas subjacentes
da crise ou as melhores maneiras de escapar dela. EUA e Reino Unido concordam que os excessos financeiros tiveram origem não na desregulamentação
e sim no imenso excedente de
oferta dos países superavitários, principalmente China,
Alemanha e Japão. Mas a China e europeus liderados pela
Alemanha argumentam que a
culpa cabe integralmente aos
perdulários países deficitários.
No entanto, a China também
espera que o mundo em breve
possa voltar a absorver seu excesso de oferta.
Na entrevista do "Financial
Times" com Angela Merkel, a
chanceler alemã disse que "a
economia alemã depende muito de exportações, e isso não é
algo que se possa mudar em
dois anos". Acrescentou ainda
que "não é algo que desejemos
mudar". Parafraseando: "O resto do mundo precisa encontrar
uma maneira de absorver a
nossa oferta excedente, mas de
maneira sustentável, por favor". Mas o que acontece se isso
não ocorrer? Em 2007, os China, Alemanha e Japão registraram um superávit agregado de
US$ 835 bilhões em conta corrente. Logicamente, os países
deficitários que lhes servem como contraparte precisam gastar mais do que ganham por
igual montante. Mas os países
deficitários já não podem captar recursos junto a credores
voluntários com bom crédito.
Essa mudança é o aspecto
central da crise. Os países superavitários, que dependiam do
setor privado dos países deficitários para que realizasse por
eles sua captação irresponsável, demonstram padrão muito
diferente: o balanço em seu setor privado mudará pouco e,
em todos os casos, continuará a
exibir um grande superávit o
tempo todo: grandes superávits
em conta corrente quase sempre significam poupança excedente no setor privado. Mas, na
medida em que seus superávits
externos caiam, os déficits fiscais crescerão, em parte por decisão política deliberada mas
também devido às consequências automáticas das recessões.
Assim, as posições fiscais estão se deteriorando, e os superávits e déficits em conta corrente estão minguando em toda parte, à medida que o setor
privado dos países deficitários
reduz dramaticamente os seus
gastos. Mas a deterioração fiscal esperada é maior nos países
deficitários do que nos superavitários. Com a exceção do Japão, os déficits fiscais também
serão maiores nos países deficitários. O que essa análise nos
revela é bastante simples: não
está acontecendo quase nenhum ajuste nos desequilíbrios
estruturais subjacentes. Não
estamos no caminho para uma
saída duradoura da crise.
Assim, o que resta a fazer?
Esse deve ser o tema central do
G20. A economia mundial não
pode ser conduzida a um equilíbrio seguro por meio de medidas que encorajem número relativamente pequeno de países
a gastar até falir. A resposta depende, em parte, de mudanças
nas políticas dos países superavitários. Mas também em igual
medida de repensar o sistema
monetário internacional. Enquanto isso, a cúpula do G20
tratará em larga medida dos
sintomas imediatos da doença.
Encontrar uma cura de longo
prazo para o excesso crônico de
oferta mundial é tarefa que ficará para o futuro.
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