São Paulo, terça-feira, 01 de maio de 2007

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Cortador trabalha duro, mas recebe bem, diz Rodrigues

Para ex-titular da Agricultura, trabalho na cana é "bruto, pesado, mas bem remunerado'

Roberto Rodrigues se refere a estudo apontando que rotina de cortadores faz com que tenham vida útil de trabalho inferior à dos escravos

MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que comandou a pasta no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que o trabalho dos cortadores de cana é "bruto, pesado, mas bem remunerado".
A afirmação de Rodrigues se refere à reportagem publicada anteontem pela Folha, mostrando, segundo a pesquisadora da Unesp Maria Aparecida de Moraes Silva, que a rotina imposta aos cortadores de cana faz com que eles tenham vida útil de trabalho inferior à dos escravos.
Dezenove mortes foram registradas nos canaviais do Estado de São Paulo desde abril de 2004, supostamente por excesso de trabalho, e estão sob investigação do Ministério Público do Trabalho.
Em média, um trabalhador recebe R$ 2,40 por tonelada de cana-de-açúcar cortada. Sindicatos da categoria afirmam que o salário mensal varia de R$ 700 a R$ 1.200.
Moraes Silva diz que alguns trabalhadores chegam a cortar até 15 toneladas de cana por dia e que o esforço físico diário acarreta sérios problemas à saúde dos trabalhadores.
Sobre as mortes, a Unica (associação das usinas) diz que não há comprovação científica de que elas são provocadas pelo esforço físico.
"O corte de cana com a mão é um trabalho muito duro, bruto e a tendência é a substituição pela mecanização. Outra vertente mostra que a mecanização muito rápida produzirá um desemprego maciço no campo. É preciso encontrar um caminho de tal forma que não haja nenhuma crise social a partir do desemprego nem crescimento dessa imagem negativa de que o corte de cana é um trabalho similar ao trabalho escravo", afirmou o ex-ministro.
Rodrigues disse que a discussão tem que ser feita "sem paixão, com cuidado e clareza".
O ex-ministro disse ainda que propôs ao governo paulista e ao próprio governo federal que use áreas (de 5% a 7%) de São Paulo com culturas permanentes mais nobres, como a fruticultura, para absorver a mão-de-obra dispensada com a mecanização do corte da cana e reutilizá-la de uma forma mais adequada.
Já o secretário de Estado da Agricultura, João Sampaio, afirmou que o setor sucroalcooleiro está em evidência no momento e que, por isso, aparecem problemas como os relatados na reportagem que até então poderiam não ser considerados.
"A discussão é o melhor caminho, o governo está aberto a isso, e já está negociando. Os abusos serão coibidos. A gente só precisa normatizar, ver se as normas estão condizentes", afirmou o secretário.
A reportagem da Folha mostrou ainda que o avanço da plantação de cana-de-açúcar promove uma concentração da produção nas mãos de usinas e grandes fornecedores, eliminando pequenos produtores.
Pedro Ramos, professor e pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), diz que apenas 25% da cana moída pelas usinas é proveniente de fornecedores independentes. Ele teme por uma concentração ainda maior no futuro.


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