São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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perspectivas

Reclassificação vai dar frutos só a longo prazo

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A inclusão do Brasil no seleto grupo de economias consideras boas para investir, segundo classificação de agências internacionais de rating, é a "coroação de um processo" de melhoria nos indicadores econômicos do país muito mais do que o início de uma nova fase de exuberância.
Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pela Folha, que consideram que novos frutos serão colhidos pelo país apenas a longo prazo, quando se confirmar um aumento dos investimentos de maior qualidade em setores que permitirão ao Brasil crescer mais sem pressões na inflação.
Segundo o economista Paulo Leme, da Goldman Sachs, a reclassificação da nota atribuída ao Brasil pela S&P (Standard & Poor's) é um reconhecimento do trabalho feito pelo governo nos últimos anos, que se refletiu numa enorme capacidade do país de resistir à recente turbulência financeira internacional.
No entanto, isso não deve se traduzir em ganhos de curto prazo porque, como era esperado, os investidores e os analistas já incluíam a melhoria econômica verificada no Brasil nos cálculos dos rendimentos esperados e na alocação de recursos para o país.
"O impacto é positivo porque alguns investidores que não tinham o Brasil na tela do radar poderão colocá-lo, mas não será uma revolução", afirma Leme.
"Não haverá um boom de recursos para o Brasil porque eles já estavam vindo nos últimos anos. Os mesmos fatores que justificam o "investment grade" agora foram os que atraíram investimentos estrangeiros diretos recentemente", diz.

Importância menor
Para o economista Fábio Akira, do JPMorgan, alcançar o nível de "investment grade" hoje não tem a mesma repercussão do passado. O selo, segundo ele, perdeu muito da importância que tinha porque a maior parte das economias emergentes fez o dever de casa e conseguiu melhorar seus indicadores econômicos com políticas consideradas responsáveis pelo mercado financeiro.
"Com isso, as economias emergentes viraram uma classe de ativos mais homogênea e os ratings perderam parte da sua importância." O Brasil, destaca, mesmo antes de ter o selo, já era considerado como "investment grade". O risco atribuído ao país e o seguro pago nas operações já eram semelhantes aos dos países que tinham essa classificação de grau de investimento.
Além disso, a avaliação da dívida interna pelas agências já tinha esse patamar de investimento desde maio do ano passado. Como 90% do endividamento brasileiro está nas mãos de pessoas que atuam no país, e não no exterior, o feito é considerado até mais importante, apesar de não ter sido tão comemorado pelo governo.
Os economistas lembram ainda que as restrições impostas por alguns fundos de investimento para aplicações em mercados e títulos que não fossem considerados "investment grade" foram flexibilizadas depois que grandes companhias, como Ford e GM (General Motors), foram rebaixadas pelas agências de risco.
"Se não fosse assim, muitos fundos teriam que desovar no mercado os papéis que tinham de empresas com notas rebaixadas", afirma Akira.


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