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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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NO LIMITE

Setores de energia e telefonia têm as piores previsões; AES avalia se "negócio pode ser melhorado ou vendido"

Múltis americanas têm "pé atrás" com Brasil

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

As maiores empresas americanas com investimentos diretos no Brasil mantêm uma avaliação negativa das suas operações no país. Além disso, indicam, nos balanços que publicaram nos EUA, que devem continuar restringindo investimentos na ampliação da capacidade instalada para economia brasileira.
No setor de infra-estrutura, o pessimismo com o Brasil nas áreas de energia e telefonia, principalmente, é ainda maior. O segmento é vital para a retomada de um crescimento sustentável que não comprometa as exportações e ameace as metas de inflação.
Para as americanas voltadas ao consumo, as recentes oscilações da taxa de câmbio e os juros altos levam à conclusão de que a economia brasileira ainda é frágil, e novos investimentos, arriscados.
Para várias empresas, ganhos obtidos na América Latina no primeiro trimestre de 2003 foram corroídos em boa medida por perdas no Brasil e na Argentina.
Essas conclusões constam dos balanços de 11 grandes companhias americanas com negócios no Brasil registrados até a semana passada na SEC (Securities and Exchange Commission, a comissão de valores mobiliários dos EUA) e compilados pela Folha.
As reclamações vão de empresas de primeira linha da área de consumo como Coca-Cola, Kodak e Xerox, ao setor financeiro, como o Fleetbostoon, controlador no Brasil do BankBoston.
Empresas do setor intermediário, como a Monsanto, também mantêm a disposição de diminuir os riscos relacionados ao Brasil.
É na área de infra-estrutura, no entanto, que o quadro é mais desanimador. No setor de energia, a AES avalia se o "negócio pode ser melhorado ou vendido" no Brasil, e a Duke Energy diz que seus resultados positivos foram "afetados" por Brasil e Argentina.
Na telefonia, a AT&T Latin America diz que está sendo forçada à "liquidação" dos negócios na região e a Bellsouth comunica aos acionistas que está "restringindo investimentos na região" pelo fato de "os negócios terem sido afetados pelas recentes crises no Brasil, na Argentina e na Venezuela".
"O Brasil está indo muito devagar e existem enormes incertezas em muitas empresas. Enquanto o país não tiver regras claras na área de infra-estrutura e estabilidade macroeconômica e cambial, dificilmente vai receber novos investimentos", afirma Mark Smith, vice-presidente da Câmara de Comércio dos EUA.
Smith representa 75 empresas americanas com investimentos no país e esteve no Brasil na semana passada para reuniões nos ministérios de Energia e Agricultura. "Estamos tentando ao menos manter o que já temos no Brasil", diz.
A principal reclamação das empresas com o país é em relação à previsibilidade para os negócios.
Boa parte dos novos investimentos americanos no Brasil ocorreu no início do Plano Real, a partir de 1994, quando as empresas podiam retirar seus lucros do país usando a paridade de quase US$ 1 por R$ 1.
Depois da desvalorização cambial de 1999, o lucro em dólar das americanas despencou. As empresas passaram a ter de gerar muito mais reais para obter a mesma quantidade de dólares.
Mais recentemente, quando o real se desvalorizou ao ponto de US$ 1,00 valer quase R$ 4,00, muitas companhias começaram a produzir mais para exportar.
Agora, reclamam que, com o dólar abaixo de R$ 3, as exportações começam a não compensar. Terão de buscar, de novo, outra opção. "As políticas macroeconômicas do governo Lula têm obtido crédito internacional, mas a tarefa-chave que falta agora no Brasil é restabelecer a previsibilidade", diz Felipe Illanes, diretor-adjunto de pesquisas para a América Latina da corretora Merrill Lynch.
Illanes acredita, no entanto, que se o Brasil conseguir "colocar a inflação para trás" e baixar os juros, há uma chance de reconquistar investimentos e a confiança de empresas estrangeiras.
Erik Peterson, diretor da área de economia global do Centro Internacional de Estudos Estratégicos, de Washington, vê outras dificuldades. "As companhias americanas não estão investindo nem no próprio país. O Brasil tem muito potencial, mas também muitas incógnitas e um histórico de altos e baixos. Nem todas as empresas estrangeiras tiveram uma boa experiência no país", afirma.


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