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LUÍS NASSIF
Um PIB para cada gosto
Persistindo a alta do real e reduzido o ritmo de queda de juros, os fatores de demanda tendem a se dissolver
QUANTO O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro está
crescendo, tomando-se por
base o 1,4% de crescimento no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior? Dependendo da fita métrica, pode estar crescendo
5,7% ao ano, ou meros 2,4%. É mais
provável que esteja em 2,4%, acelerando de forma moderada.
Há duas maneiras de medir o desempenho do PIB (Produto Interno
Bruto). Uma é no acumulado de 12
meses. Outra é dessazonalizando os
dados trimestrais (isto é, tirando as
influências típicas do período analisado) e, depois, anualizando-os -isto é, extrapolando o desempenho do
trimestre para o ano todo. Cada um
escolhe o número que mais lhe apetece.
Se se fossem anualizar resultados
trimestrais, no terceiro trimestre do
ano passado, o PIB dessazonalizado
caiu 0,8% em relação ao trimestre
anterior. Anualizada, a queda seria
de -3,16%. Mas o governo preferiu
recorrer ao acumulado de 12 meses.
Se fosse proceder da mesma forma agora, veria-se que, no acumulado de 12 meses, o PIB passou de
2,3% em 2005 para 2,4% nos 12 meses encerrados no primeiro trimestre de 2006 -uma alta irrisória.
Entre os componentes de demanda, anota Rogério Mori, da Escola de
Economia da FGV-SP, o consumo
de famílias cresceu 0,5%, contra
1,2% no trimestre passado -portanto, demonstrando desaceleração.
Houve uma melhoria no consumo
do governo e na formação bruta de
capital fixo, em razão da liberação de
restos a pagar do Orçamento e do investimento em estradas. O setor industrial cresceu 5%, mas fortemente puxado pela extrativa mineral e
construção civil.
O problema básico é que, persistindo a apreciação do real e reduzido
o ritmo de queda de juros, esses fatores de demanda tendem a se dissolver no horizonte do ano. E aí se entra na armadilha básica do governo.
O Banco Central e o Tesouro trabalharam, em todos esses anos, com
a perspectiva de uma economia internacional estável -mesmo com
todos os fatores de desequilíbrio
presentes no horizonte. No ano passado, o então secretário do Tesouro,
Joaquim Levy, conseguiu aprovar
medidas desonerando o capital estrangeiro para a aplicação em títulos
públicos. Sua visão era monotônica:
o investidor estrangeiro aceita taxas
menores e prazos maiores mais do
que os investidores nacionais. Conferiu-se um privilégio ao investidor
externo, para poder esticar o prazo
da dívida e reduzir os juros.
Ao mesmo tempo, o BC continuou
a apostar na melhoria dos tais "fundamentos", aguardando o esperado
dia em que o risco Brasil cairia tanto
que o dinheiro externo entraria, farto e barato, irrigando a economia.
Não se levou em conta que a remuneração do investidor externo
depende dos juros mas também do
câmbio. Agora, ao primeiro espirro
da política de juros dos EUA, os dólares saem correndo, há uma desvalorização cambial. Do lado do Tesouro, há uma recompra de títulos
públicos a preços elevados e um
abandono do esforço para esticar o
prazo da dívida. Do lado do BC, uma
redução do ritmo de queda do juro.
Enquanto não se estipularem barreiras de entrada a esse capital especulativo, a roda vai continuar rodando sem sair do lugar.
@ - Luisnassif uol.com.br
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