São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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Preço dos alimentos atinge pico de 50 anos, diz relatório da FAO

DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho, representante do Brasil na FAO, diz que "crise não é palavra excessiva" para descrever a disparada de preços dos alimentos e, mais abrangentemente, a segurança alimentar no planeta.
Nem assim, no entanto, a cúpula em Roma produzirá mais que uma declaração política. Até porque não é nesse tipo de encontro que se coloca um prato de comida à mesa dos 850 milhões de pessoas que passam fome no mundo ou se põe um freio ao aumento dos preços.
O freio até que seria da maior conveniência: segundo documento divulgado pela FAO como base técnica para a cúpula, "nos três primeiros meses de 2008 os preços internacionais nominais [sem descontar a inflação] de todas as principais commodities alimentícias atingiram seus mais altos níveis em cerca de 50 anos".
Os saltos são sucessivos, diz ainda o texto: em 2006, o índice de preços de 55 commodities alimentícias, elaborado pela FAO, subiu 8% sobre 2005. Em 2007, a alta foi de 24%. Nos três primeiros meses deste ano, comparados ao primeiro trimestre de 2007, deu-se a disparada para 53%.
Pior: "O que distingue o atual estado dos mercados agrícolas é a ocorrência de um salto nos preços mundiais de não apenas uns poucos [produtos] mas praticamente todas as grandes commodities de alimentação de pessoas e animais", diz o documento. Como se já não bastasse, o texto prevê que os preços continuarão elevados mesmo que se dissipem os efeitos dos choques de curto prazo.
A revista britânica "The Economist", que alçou a inflação a tema de sua capa em edição do mês passado, calcula que a média mundial de inflação subiu para 5,5%, "o nível mais alto desde 1999". E prevê que dois terços da população mundial provavelmente sofrerão inflação de dois dígitos ainda neste verão (que, no hemisfério Norte, começa dentro de 20 dias).
"O elevado custo de vida aflige 1 bilhão de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza, 70% delas na África, e a outros 4 bilhões que vivem nos países mais pobres do mundo", afirma Willie Reimer, diretor da ONG norte-americana Comida, Desastre e Recursos Materiais.
A cúpula de Roma listará os muito supostos ou reais culpados pelos altos preços da alimentação. Mas Lula está convencido de que o grande culpado é o aumento do consumo, em especial em países emergentes como China, Índia e o próprio Brasil.
Tem razão. Joachim von Braun, diretor-geral do Instituto de Pesquisa sobre Política Internacional de Alimentação, diz que o crescimento do poder de compra nesses países responde por metade dos aumentos. Na medida em que as classes médias se tornam mais afluentes, os padrões de consumo mudam, freqüentemente no sentido de uma dieta mais rica em carne e produtos lácteos, por sua vez mais intensivos no uso tanto de grãos como de água. (CR)


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