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Preço dos alimentos atinge pico de 50 anos, diz relatório da FAO
DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA
O embaixador José Antonio
Marcondes de Carvalho, representante do Brasil na FAO, diz
que "crise não é palavra excessiva" para descrever a disparada de preços dos alimentos e,
mais abrangentemente, a segurança alimentar no planeta.
Nem assim, no entanto, a cúpula em Roma produzirá mais
que uma declaração política.
Até porque não é nesse tipo de
encontro que se coloca um prato de comida à mesa dos 850
milhões de pessoas que passam
fome no mundo ou se põe um
freio ao aumento dos preços.
O freio até que seria da maior
conveniência: segundo documento divulgado pela FAO como base técnica para a cúpula,
"nos três primeiros meses de
2008 os preços internacionais
nominais [sem descontar a inflação] de todas as principais
commodities alimentícias atingiram seus mais altos níveis em
cerca de 50 anos".
Os saltos são sucessivos, diz
ainda o texto: em 2006, o índice
de preços de 55 commodities
alimentícias, elaborado pela
FAO, subiu 8% sobre 2005. Em
2007, a alta foi de 24%. Nos três
primeiros meses deste ano,
comparados ao primeiro trimestre de 2007, deu-se a disparada para 53%.
Pior: "O que distingue o atual
estado dos mercados agrícolas
é a ocorrência de um salto nos
preços mundiais de não apenas
uns poucos [produtos] mas
praticamente todas as grandes
commodities de alimentação
de pessoas e animais", diz o documento. Como se já não bastasse, o texto prevê que os preços continuarão elevados mesmo que se dissipem os efeitos
dos choques de curto prazo.
A revista britânica "The Economist", que alçou a inflação a
tema de sua capa em edição do
mês passado, calcula que a média mundial de inflação subiu
para 5,5%, "o nível mais alto
desde 1999". E prevê que dois
terços da população mundial
provavelmente sofrerão inflação de dois dígitos ainda neste
verão (que, no hemisfério Norte, começa dentro de 20 dias).
"O elevado custo de vida aflige 1 bilhão de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza, 70% delas na África, e a outros 4 bilhões que vivem nos
países mais pobres do mundo",
afirma Willie Reimer, diretor
da ONG norte-americana Comida, Desastre e Recursos Materiais.
A cúpula de Roma listará os
muito supostos ou reais culpados pelos altos preços da alimentação. Mas Lula está convencido de que o grande culpado é o aumento do consumo,
em especial em países emergentes como China, Índia e o
próprio Brasil.
Tem razão. Joachim von
Braun, diretor-geral do Instituto de Pesquisa sobre Política
Internacional de Alimentação,
diz que o crescimento do poder
de compra nesses países responde por metade dos aumentos. Na medida em que as classes médias se tornam mais afluentes, os padrões de consumo mudam, freqüentemente
no sentido de uma dieta mais
rica em carne e produtos lácteos, por sua vez mais intensivos no uso tanto de grãos como
de água.
(CR)
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