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Antônio Ermírio, 80, faz investimento de R$ 1,5 bi
Na semana do 80º aniversário do empresário, CBA recebe aporte bilionário
Livro comemorativo traz depoimentos de políticos
e personalidades como o presidente Lula, FHC, Serra
e o cantor Roberto Carlos
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Na semana em que completa
80 anos, na próxima quarta-feira, o empresário Antônio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, prepara-se para iniciar
o maior investimento da história da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), a sua menina-dos-olhos -aproximadamente R$ 1,5 bilhão.
Nacionalista, crítico contumaz dos juros altos e dos ganhos que essa política proporciona ao sistema financeiro
-apesar de o seu próprio grupo
ser dono de um dos bancos
mais rentáveis-, Antônio Ermírio comanda um conglomerado que se espalha pelos setores de cimento, financeiro, metalurgia e papel e celulose.
Sua história se confunde com
a da própria indústria. No mesmo 4 de junho de 1928, data de
nascimento do empresário, o
jornal "Folha da Manhã", que
originou a Folha, estampava
na primeira página a criação do
Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, o embrião da
Fiesp. O pai de Antônio Ermírio, o senador José Ermírio de
Moraes, fez parte da primeira
diretoria.
Comemorando seu 80º aniversário, o empresário, colunista da Folha, recebe de presente do ex-secretário de Educação de São Paulo Gabriel
Chalita e do economista e amigo José Pastore um livro com o
depoimentos de 80 pessoas.
Entre elas, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador José Serra e
empresários como Jorge Gerdau Johannpeter, Olavo Setubal e Lázaro Brandão, além de
familiares e personalidades como o cantor Roberto Carlos,
que apoiou sua candidatura ao
governo de São Paulo, nos anos
1980.
Casado com dona Maria Regina há 55 anos, nove filhos
(cinco homens e quatro mulheres) e 26 netos, a mais nova,
Laura, nascida em janeiro, Antônio Ermírio não preparou
nenhuma festa para comemorar seu aniversário. O vigor já
não é o mesmo de tempos
atrás, quando festejava a data
com um churrasco na sede da
CBA.
Nos últimos 60 anos, manteve uma rotina incansável. Levanta bem cedo, por volta das
5h, lê os jornais e vai para o escritório às 7h30, seja na Votorantim, que faz 90 anos neste
ano, ou no Hospital Beneficência Portuguesa, que preside há
40 anos. A jornada de trabalho
vai sempre até tarde.
Avesso a badalações e ostentações, Antônio Ermírio é dono
de hábitos simples. Durante
muitos anos, dirigiu seu próprio carro e caminhou pelas
ruas do centro de São Paulo
sem seguranças.
Um de seus melhores amigos, Pastore lembra que, certa
vez, quando os dois voltavam a
pé do restaurante Cad'Oro, onde Antônio Ermírio almoça
com freqüência, para o escritório da Votorantim, o empresário foi parado por um fotógrafo.
Incrédulo, indagou: "O senhor
não é o empresário Antônio Ermírio de Moraes?". A resposta
foi surpreendente: "Você está
louco, rapaz. Se eu fosse o Antônio Ermírio, você acha que
eu estaria andando pelas ruas
de São Paulo sem segurança?".
O rapaz seguiu caminho sem
fazer a foto.
Política
A política sempre está muito
presente na sua vida. Apoiou a
abertura do regime militar, iniciada no governo Geisel, e foi
um dos empresários que assinaram, em 1978, o "Documento
dos Oito", que pedia o fim do
regime militar e a volta da democracia. O empresário também se engajou no movimento
das Diretas Já.
Em 1986, lançou-se candidato, pelo PTB, à sucessão de
Franco Montoro no governo
paulista. Foi derrotado por
Orestes Quércia e disse que, pelo menos, tinha vencido Paulo
Maluf na disputa.
Nas eleições presidenciais de
2002, não escondeu seu apoio
ao então candidato José Serra.
Em entrevista concedida à Folha, afirmou que Lula estava
longe de ser um estadista. Era
uma resposta ao apoio manifestado dias antes pelo colega
industrial Eugênio Staub à candidatura do petista.
Nos últimos anos, porém,
Antônio Ermírio reviu suas
opiniões sobre o presidente.
Suas declarações mais recentes
têm sido de apoio à condução
da economia, e ele considera o
governo Lula uma "agradável
surpresa".
Outro revés na vida de Antônio Ermírio foi não ter conseguido ganhar o leilão de privatização da Vale, em 1997. Franco
favorito, acabou perdendo para
o empresário Benjamin Steinbruch, da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Fiel ao seu
estilo sincero, cumprimentou o
vitorioso, mas lembrou que ele
ainda não era do ramo.
Bom humor
Quem convive com Antônio
Ermírio afirma que ele é muito
bem-humorado, apesar de essa
não ser uma de suas características mais visíveis. Durante a
fracassada campanha ao governo do Estado, seguido por uma
tropa de repórteres, encontrou-se coincidentemente com
o seu alfaiate. O alfaiate se
aproximou de Antônio Ermírio
e cobrou o fato de ele só ir ao
seu bairro durante a campanha
política.
O empresário não teve dúvidas e sacou uma das suas: "Você
fica quieto porque senão eu
conto para os jornalistas que
você é o meu alfaiate".
Todos riram, afinal Antônio
Ermírio certamente não figuraria numa lista dos mais bem
vestidos do país.
O empresário se orgulha
também de nunca tirar férias.
Tanto que, em 1992, aos 64
anos, ele foi capa da Revista da
Folha por ter decidido tirar férias, a primeira após 35 anos de
trabalho e de sua formação em
engenharia no Colorado, nos
Estados Unidos.
Ele e dona Maria Regina foram às Montanhas Rochosas,
também nos Estados Unidos.
Antes, férias, só na lua-de-mel,
quando viajou com a mulher
para a Europa. Mesmo assim,
aproveitou para visitar algumas indústrias.
Bancos
Apesar das críticas de Antônio Ermírio aos bancos, ele é
muito amigo de dois dos maiores banqueiros do país: os presidentes do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro
Brandão, 81, e do Itaú, Olavo
Setubal, 85.
"Mas ele acabou criando um
banco e tomou gosto pelo negócio. Aliás, o banco dele é muito
competitivo e nos dá muito trabalho", afirma Brandão, que
destaca também a dedicação de
Antônio Ermírio à área social.
Foi o industrial-banqueiro,
por exemplo, que restaurou o
Mosteiro de São Bento, no centro de São Paulo.
Após ter lido no jornal sobre
as dificuldades da edificação,
foi andando até o mosteiro para
oferecer ajuda.
Anos depois, o mosteiro hospedou o papa Bento 16 em sua
visita ao Brasil. E o papa fez
questão de receber Antônio Ermírio e dona Maria Regina para
agradecer pela reforma. Disse a
Antônio Ermírio que ele já estava com muitos tijolos acumulados no céu.
Teatro
Versátil, o empresário já escreveu três peças de teatro, todas refletindo problemas sociais do Brasil. A primeira,
"Brasil S/A", foi uma crítica forte à especulação financeira no
país. E nem por isso deixou de
convidar seus amigos banqueiros para a estréia.
Depois veio "S.O.S. Brasil",
sobre os problemas da saúde no
país, que conhece bem por sua
atuação na Beneficência Portuguesa, e "Acorda Brasil", que
conta a história da criação
bem-sucedida de uma orquestra sinfônica na favela de Heliópolis, em São Paulo.
Um traço curioso da personalidade de Antônio Ermírio é
o de até hoje cultivar amizades
com dois colegas de infância, da
época em que cursava o primário no Colégio Rio Branco. São
eles o poeta Paulo Bonfim, 81, e
o marchand Gérard Loeb, 80,
que não têm nada a ver com a
sua vida empresarial.
Eles se conhecem há 70 anos,
a ponto de os depoimentos dos
dois no livro organizado por
Chalita terem sido incluídos na
parte dos familiares.
Até há pouco tempo, eles
mantinham uma relação muito
próxima também com dona Soledade, a professora que os alfabetizou. Eles trocavam bilhetes
e se encontravam freqüentemente. Há alguns anos, pouco
antes de morrer, dona Soledade
os chamou para dizer que estava muito preocupada porque a
letra deles estava muito feia.
Ela queria corrigir a caligrafia
dos ex-alunos.
Até hoje, Antônio Ermírio
mantém duas metas, uma de
aprender e outra de investir,
mesmo aos 80 anos.
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