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Inovar não é tão fácil quanto no passado, diz criador do YouTube
Para Hurley, seria difícil o site crescer sem o Google, que o adquiriu por US$ 1,65 bi
CHRYSTIA FREELAND
DO "FINANCIAL TIMES"
Chad Hurley, na época com
31 anos e especialista em interfaces para usuários, e alguns
amigos tropeçaram na idéia do
YouTube há pouco mais de três
anos, quando quiseram compartilhar vídeos e acharam os
serviços existentes pouco convenientes. Em 2006, o YouTube já era um fenômeno cultural
tão grande que o Google pagou
US$ 1,65 bilhão por ele.
Eric Schmidt, executivo-chefe do Google, acredita que o vídeo on-line é o avanço mais importante da web nos últimos 12
meses. De acordo com a Nielsen NetRatings, o YouTube
transmite quase metade dos vídeos assistidos nos Estados
Unidos e mais que o dobro do
transmitido por seus dez maiores concorrentes juntos.
O YouTube é um fator de peso na política e na cultura popular, mas enfrenta desafios
das empresas de mídia tradicional, que o acusam de violar
copyright. Ainda não conseguiu
forma eficaz de transformar
sua audiência em lucros. A seguir, trechos de entrevista.
PERGUNTA - Você tem saudade de
quando o YouTube era só você e
seus amigos fazendo algo divertido?
CHAD HURLEY - É bem mais fácil
quando são apenas duas pessoas criando um produto. Mas,
à medida que a equipe vai crescendo -e você tem um sistema
que é usado por milhões de pessoas-, não é mais tão fácil tomar decisões rápidas. Estamos
contentes por inovar mais ou
menos rapidamente, mas não é
como no passado.
PERGUNTA - Você lamenta a perda
da independência após a aquisição?
HURLEY - Não. Foi uma decisão
difícil, mas provavelmente teria sido muito difícil para o
YouTube [sozinho] sobreviver
e crescer como tem feito. Pudemos resolver muitas limitações
e tensões impostas ao sistema,
quando precisávamos de mais
máquinas para acelerar a quantidade de vídeos exibidos. Fazemos parte do Google, mas nos
sentimos independentes. Temos nosso escritório. Eric,
Larry e Sergey [executivo-chefe e co-fundadores do Google]
nos pressionam para tomarmos decisões de modo mais independente, como equipe. Em
termos de cultura, o YouTube
realmente se encaixa com o que
o Google está tentando realizar.
PERGUNTA - Como vocês prevêem
ganhar dinheiro?
HURLEY - Com uma combinação de coisas. Temos anúncios
"in-vídeo", no qual a pessoa
participa clicando sobre um
anúncio ou fazendo passar um
vídeo dentro do que está vendo.
A reação tem sido ótima, melhor do que com a publicidade
tradicional de display, banners
ou anúncios de imagem ou texto. Acabamos de concluir a
compra da DoubleClick (de assistência ao anunciante), e parte da tecnologia vai nos ajudar.
PERGUNTA - Vocês não se sentiram
tentados pelo "pre-roll" (em que o
usuário tem de assistir a um anúncio
antes de ver o vídeo que escolheu)?
HURLEY - Os "pre-rolls" teriam
sido uma ótima solução para
ganhar muito dinheiro rapidamente, mas poderiam prejudicar a comunidade construída. A
motivação para a entrada para
o Google foi o desejo de alavancar a maneira como as pessoas
podem promover vídeos, como
promovem sites.
PERGUNTA - Alguns governos talvez achem que os conteúdos devem
ser filtrados ou censurados por razão política. Qual a sua opinião?
HURLEY - Sempre trabalhamos
com governos locais respeitando leis e culturas. Nossas ferramentas proporcionam flexibilidade para retirar materiais que
não deveriam estar no site.
PERGUNTA - Alguns criadores tradicionais de conteúdos estão criando
os próprios sites, como a Hulu. Serão
futuros concorrentes?
HURLEY - Eles são mais competitivos que as emissoras de TV
tradicionais ou outros serviços
de vídeo sob demanda. Estamos trabalhando com a Hulu:
ela tem um canal (no YouTube)
em que coloca clipes promocionais para atrair tráfego. Estamos abrindo nossa API (interface de programação de aplicativos), para que as pessoas façam aplicativos de vídeo baseados no que desenvolvemos.
PERGUNTA - Alguns momentos importantes na campanha eleitoral
nos EUA foram fenômenos do
YouTube. Isso o surpreendeu?
HURLEY - Esperamos ter contribuído para fazer mais pessoas
participarem. A internet está
num momento de virada neste
ano, na influência nas eleições.
Tradução de CLARA ALLAIN
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