São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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Inovar não é tão fácil quanto no passado, diz criador do YouTube

Para Hurley, seria difícil o site crescer sem o Google, que o adquiriu por US$ 1,65 bi

CHRYSTIA FREELAND
DO "FINANCIAL TIMES"

Chad Hurley, na época com 31 anos e especialista em interfaces para usuários, e alguns amigos tropeçaram na idéia do YouTube há pouco mais de três anos, quando quiseram compartilhar vídeos e acharam os serviços existentes pouco convenientes. Em 2006, o YouTube já era um fenômeno cultural tão grande que o Google pagou US$ 1,65 bilhão por ele.
Eric Schmidt, executivo-chefe do Google, acredita que o vídeo on-line é o avanço mais importante da web nos últimos 12 meses. De acordo com a Nielsen NetRatings, o YouTube transmite quase metade dos vídeos assistidos nos Estados Unidos e mais que o dobro do transmitido por seus dez maiores concorrentes juntos.
O YouTube é um fator de peso na política e na cultura popular, mas enfrenta desafios das empresas de mídia tradicional, que o acusam de violar copyright. Ainda não conseguiu forma eficaz de transformar sua audiência em lucros. A seguir, trechos de entrevista.

 

PERGUNTA - Você tem saudade de quando o YouTube era só você e seus amigos fazendo algo divertido?
CHAD HURLEY
- É bem mais fácil quando são apenas duas pessoas criando um produto. Mas, à medida que a equipe vai crescendo -e você tem um sistema que é usado por milhões de pessoas-, não é mais tão fácil tomar decisões rápidas. Estamos contentes por inovar mais ou menos rapidamente, mas não é como no passado.

PERGUNTA - Você lamenta a perda da independência após a aquisição?
HURLEY
- Não. Foi uma decisão difícil, mas provavelmente teria sido muito difícil para o YouTube [sozinho] sobreviver e crescer como tem feito. Pudemos resolver muitas limitações e tensões impostas ao sistema, quando precisávamos de mais máquinas para acelerar a quantidade de vídeos exibidos. Fazemos parte do Google, mas nos sentimos independentes. Temos nosso escritório. Eric, Larry e Sergey [executivo-chefe e co-fundadores do Google] nos pressionam para tomarmos decisões de modo mais independente, como equipe. Em termos de cultura, o YouTube realmente se encaixa com o que o Google está tentando realizar.

PERGUNTA - Como vocês prevêem ganhar dinheiro?
HURLEY
- Com uma combinação de coisas. Temos anúncios "in-vídeo", no qual a pessoa participa clicando sobre um anúncio ou fazendo passar um vídeo dentro do que está vendo. A reação tem sido ótima, melhor do que com a publicidade tradicional de display, banners ou anúncios de imagem ou texto. Acabamos de concluir a compra da DoubleClick (de assistência ao anunciante), e parte da tecnologia vai nos ajudar.

PERGUNTA - Vocês não se sentiram tentados pelo "pre-roll" (em que o usuário tem de assistir a um anúncio antes de ver o vídeo que escolheu)?
HURLEY
- Os "pre-rolls" teriam sido uma ótima solução para ganhar muito dinheiro rapidamente, mas poderiam prejudicar a comunidade construída. A motivação para a entrada para o Google foi o desejo de alavancar a maneira como as pessoas podem promover vídeos, como promovem sites.

PERGUNTA - Alguns governos talvez achem que os conteúdos devem ser filtrados ou censurados por razão política. Qual a sua opinião?
HURLEY
- Sempre trabalhamos com governos locais respeitando leis e culturas. Nossas ferramentas proporcionam flexibilidade para retirar materiais que não deveriam estar no site.

PERGUNTA - Alguns criadores tradicionais de conteúdos estão criando os próprios sites, como a Hulu. Serão futuros concorrentes?
HURLEY
- Eles são mais competitivos que as emissoras de TV tradicionais ou outros serviços de vídeo sob demanda. Estamos trabalhando com a Hulu: ela tem um canal (no YouTube) em que coloca clipes promocionais para atrair tráfego. Estamos abrindo nossa API (interface de programação de aplicativos), para que as pessoas façam aplicativos de vídeo baseados no que desenvolvemos.

PERGUNTA - Alguns momentos importantes na campanha eleitoral nos EUA foram fenômenos do YouTube. Isso o surpreendeu?
HURLEY
- Esperamos ter contribuído para fazer mais pessoas participarem. A internet está num momento de virada neste ano, na influência nas eleições.


Tradução de CLARA ALLAIN


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