São Paulo, segunda-feira, 01 de junho de 2009

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GM espera concordata rápida nos EUA

Maioria dos credores aceitou acordo para obter até 25% das ações da nova GM, que emergirá depois da reestruturação

Expectativa é que o processo aconteça após acordos prévios, evitando conflitos; Obama deve dar garantias à montadora

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Após 101 anos no mercado, a General Motors, que já foi a maior montadora de veículos do mundo, deve entrar hoje com pedido de concordata na Justiça americana a partir de uma corte de Nova York.
No final de semana, a maioria dos credores de uma dívida de US$ 27,2 bilhões fechou um acordo para trocar os débitos por até 25% da nova GM, empresa saudável que deve despontar a partir da concordata.
Com isso, dois dos maiores ícones do capitalismo de mercado dos EUA, a GM e o banco Citigroup, emergem da crise como empresas em que o Estado detém a maioria das ações.
A reestruturação da GM, a ser anunciada hoje antes da abertura dos mercados, será comandada pelo veterano Al Koch, diretor da empresa de consultoria AlixPartners LLP. Ele já foi responsável pela recuperação da gigante de varejo Kmart, entre outras.
Mais da metade dos credores da GM aprovaram a troca de dívidas por ações, abrindo o caminho para a maior concordata da história do setor industrial.
Assim como vem ocorrendo com a Chrysler, a expectativa é que todo o processo seja pavimentado por acordos prévios, evitando conflitos na Justiça. A projeção é que a empresa deixe a concordada até agosto.
O presidente dos EUA, Barack Obama, agendou para a manhã de hoje entrevista em que deverá fazer comentários sobre a concordata. No final de abril, Obama fez o mesmo quando a Chrysler entrou no mesmo processo. Ele deve dar todas as garantias de que seu governo socorrerá a montadora, visando com isso incentivar eventuais consumidores a não desistirem de comprar automóveis da marca diante do temor de que ela venha a quebrar.
A GM acumula perdas de mais de US$ 88 bilhões desde 2004. Nos últimos dias, as ações da companhia perderam valor, fechando a US$ 0,71 na sexta-feira. Foi a cotação mais baixa desde 1916. O presidente da montadora, Fritz Henderson, agendou para hoje entrevista em Nova York para detalhar o processo de concordata.
Depois de entrar em concordata pelo chamado Capítulo 11 da Lei de Falências norte-americana, a GM deverá se desfazer de uma série de negócios e marcas (como da deficitária Pontiac) e se concentrar na produção de veículos com maior penetração no mercado.
Além dos credores que ficarão com 25% da nova GM, os principais sindicatos de operários da montadora, representados pela United Auto Workers, terão uma fatia de 17,5% em troca de concessões feitas e redução de benefícios -que fazem parte da reestruturação e visam o corte de custos.
O governo dos EUA acabará, portanto, como o maior acionista da General Motors, com uma fatia que poderá ultrapassar os 57%. Desde o final do ano passado, a GM recebeu quase US$ 20 bilhões do Tesouro norte-americano e poderá ter novos créditos de até US$ 50 bilhões durante a reestruturação. Parte do dinheiro virá do governo do Canadá, onde a montadora também opera.
O Departamento do Tesouro dos EUA havia dado prazo até hoje para que a GM encontrasse uma saída para a sua crise e entrasse finalmente em concordata. Essa foi a condição para continuar garantindo créditos para manter a montadora.

Contestação
Segundo Elliot Sloane, representante do comitê dos credores da GM, no total 975 investidores deram apoio ao plano de troca de dívidas por ações, o que corresponde a 54% do total dos credores.
Alguns credores que não aceitaram a proposta esperam contestar a reestruturação na Justiça durante o processo de concordata. Será uma causa difícil, já que, normalmente em casos como esses, em que a maioria já concordou com o plano de reestruturação, o juiz tende a não considerar as queixas dos que ficaram de fora.
Durante o final de semana, o governo alemão também anunciou formalmente um acordo para a transferência da Opel (o braço europeu da GM) para um consórcio entre a canadense Magna International, fabricante de peças de automóveis, e o Sberbank russo. As operações da GM na Europa incluem ainda a britânica Vauxhall.
Como parte do acordo, o governo alemão injetará cerca de US$ 2,1 bilhões na Opel para mantê-la viável durante uma reestruturação de suas atividades na Europa.
No caso da Chrysler, o juiz federal Arthur J. Gonzalez deve aprovar nesta segunda-feira a venda de quase toda a companhia para a italiana Fiat após três dias de audiências realizadas na semana passada também em Nova York.


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