|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GM espera concordata rápida nos EUA
Maioria dos credores aceitou acordo para obter até 25% das ações da nova GM, que emergirá depois da reestruturação
Expectativa é que o processo aconteça após acordos prévios, evitando conflitos; Obama deve dar garantias à montadora
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Após 101 anos no mercado, a
General Motors, que já foi a
maior montadora de veículos
do mundo, deve entrar hoje
com pedido de concordata na
Justiça americana a partir de
uma corte de Nova York.
No final de semana, a maioria
dos credores de uma dívida de
US$ 27,2 bilhões fechou um
acordo para trocar os débitos
por até 25% da nova GM, empresa saudável que deve despontar a partir da concordata.
Com isso, dois dos maiores
ícones do capitalismo de mercado dos EUA, a GM e o banco
Citigroup, emergem da crise
como empresas em que o Estado detém a maioria das ações.
A reestruturação da GM, a
ser anunciada hoje antes da
abertura dos mercados, será
comandada pelo veterano Al
Koch, diretor da empresa de
consultoria AlixPartners LLP.
Ele já foi responsável pela recuperação da gigante de varejo
Kmart, entre outras.
Mais da metade dos credores
da GM aprovaram a troca de dívidas por ações, abrindo o caminho para a maior concordata
da história do setor industrial.
Assim como vem ocorrendo
com a Chrysler, a expectativa é
que todo o processo seja pavimentado por acordos prévios,
evitando conflitos na Justiça. A
projeção é que a empresa deixe
a concordada até agosto.
O presidente dos EUA, Barack Obama, agendou para a
manhã de hoje entrevista em
que deverá fazer comentários
sobre a concordata. No final de
abril, Obama fez o mesmo
quando a Chrysler entrou no
mesmo processo. Ele deve dar
todas as garantias de que seu
governo socorrerá a montadora, visando com isso incentivar
eventuais consumidores a não
desistirem de comprar automóveis da marca diante do temor de que ela venha a quebrar.
A GM acumula perdas de
mais de US$ 88 bilhões desde
2004. Nos últimos dias, as
ações da companhia perderam
valor, fechando a US$ 0,71 na
sexta-feira. Foi a cotação mais
baixa desde 1916. O presidente
da montadora, Fritz Henderson, agendou para hoje entrevista em Nova York para detalhar o processo de concordata.
Depois de entrar em concordata pelo chamado Capítulo 11
da Lei de Falências norte-americana, a GM deverá se desfazer
de uma série de negócios e marcas (como da deficitária Pontiac) e se concentrar na produção de veículos com maior penetração no mercado.
Além dos credores que ficarão com 25% da nova GM, os
principais sindicatos de operários da montadora, representados pela United Auto Workers,
terão uma fatia de 17,5% em
troca de concessões feitas e redução de benefícios -que fazem parte da reestruturação e
visam o corte de custos.
O governo dos EUA acabará,
portanto, como o maior acionista da General Motors, com
uma fatia que poderá ultrapassar os 57%. Desde o final do ano
passado, a GM recebeu quase
US$ 20 bilhões do Tesouro
norte-americano e poderá ter
novos créditos de até US$ 50
bilhões durante a reestruturação. Parte do dinheiro virá do
governo do Canadá, onde a
montadora também opera.
O Departamento do Tesouro
dos EUA havia dado prazo até
hoje para que a GM encontrasse uma saída para a sua crise e
entrasse finalmente em concordata. Essa foi a condição para continuar garantindo créditos para manter a montadora.
Contestação
Segundo Elliot Sloane, representante do comitê dos credores da GM, no total 975 investidores deram apoio ao plano de
troca de dívidas por ações, o
que corresponde a 54% do total
dos credores.
Alguns credores que não
aceitaram a proposta esperam
contestar a reestruturação na
Justiça durante o processo de
concordata. Será uma causa difícil, já que, normalmente em
casos como esses, em que a
maioria já concordou com o
plano de reestruturação, o juiz
tende a não considerar as queixas dos que ficaram de fora.
Durante o final de semana, o
governo alemão também anunciou formalmente um acordo
para a transferência da Opel (o
braço europeu da GM) para um
consórcio entre a canadense
Magna International, fabricante de peças de automóveis, e o
Sberbank russo. As operações
da GM na Europa incluem ainda a britânica Vauxhall.
Como parte do acordo, o governo alemão injetará cerca de
US$ 2,1 bilhões na Opel para
mantê-la viável durante uma
reestruturação de suas atividades na Europa.
No caso da Chrysler, o juiz federal Arthur J. Gonzalez deve
aprovar nesta segunda-feira a
venda de quase toda a companhia para a italiana Fiat após
três dias de audiências realizadas na semana passada também em Nova York.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Lei não implica liquidação Índice
|