São Paulo, segunda-feira, 01 de junho de 2009

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ANÁLISE

Para Chrysler, parte difícil virá após concordata

DO "NEW YORK TIMES"

Quando o presidente Obama anunciou o plano do governo de reorganização da Chrysler, em abril, ele prometeu que a concordata seria "rápida", "eficiente" e "controlada".
E a Chrysler está, de fato, atravessando rapidamente o processo e parece estar a caminho de emergir logo como uma nova companhia, apenas um mês depois de entrar com o pedido de concordata.
Então, a parte difícil começa.
A Chrysler vai ter menores custos trabalhistas, menos dívida e uma nova parceria com a montadora italiana Fiat. Porém, estará competindo em um mercado brutal, que pode tornar, na comparação, os tribunais em um refúgio.
Os americanos dificilmente estão com intenção de comprar carro, e as pessoas que estão adquirindo se dirigem para longe das lojas da Chrysler.
Parte da explicação é a nuvem da concordata que ronda a companhia. A General Motors, nova empresa no mundo da concordata, também está perdendo clientes por causa da sua situação financeira frágil e do seu futuro incerto.
Mas a Chrysler está ainda mais vulnerável do que a GM porque a sua linha de veículos está fortemente ligada a picapes, minivans e utilitários esportivos, que saíram das graças dos consumidores preocupados com o consumo de combustível. A Fiat prometeu acrescentar carros menores e esportivos à linha da Chrysler, mas deve demorar dois anos.
A Chrysler, que está vivendo dos empréstimos federais desde o começo deste ano, também vai precisar esticar os US$ 7 bilhões que está recebendo do Departamento do Tesouro para cobrir os prejuízos até que a aliança com a Fiat comece a render frutos. Para economizar, a Chrysler deixou ociosa a maioria das suas fábricas para tentar liquidar um enorme estoque de carros novos e cortou drasticamente os gastos no desenvolvimento de produtos.
"Nós temos que ver o consumidor apoiando a empresa ao comprar o produto dela, o que não tem ocorrido", disse Rebecca Lindland, analista da empresa de pesquisa IHS Global Insight. "Só porque eles saíram da concordata não significa que todos os problemas foram resolvidos", disse ela.
Com suas audiências no tribunal andando rapidamente -até dois meses ainda seria considerado absurdamente veloz-, a nova e reorganizada Chrysler pode sair da concordata ainda nesta semana.
Quando sair, a companhia terá uma nova estrutura acionária, com um fundo do sindicato dos funcionários aposentados controlando 55%, a Fiat tendo uma participação de 20%, que pode chegar a 35%, e os governos de EUA e Canadá com participações minoritárias.
Ela também terá um novo conselho e um novo presidente-executivo: C. Robert Kidder, o ex-presidente do Conselho da Borden Chemical e da Duracell.
O presidente-executivo da Fiat, Sergio Marchionne, também pode comandar a Chrysler. Ele já está se envolvendo nos planos de novos produtos e fazendo sugestões.
Apesar de a Fiat fornecer carros pequenos, novos motores e tecnologia avançada para a Chrysler, não vai colocar dinheiro na nova parceira.
Mesmo com todos os desafios que terá pela frente, a Chrysler pelo menos vai ter chance de ser bem-sucedida, dizem analistas, porque ela reduziu a dívida, cortou fábricas e postos de trabalho e financiou com ações metade das suas obrigações com o fundo de saúde dos aposentados.
"Só o tempo vai dizer a verdade, mas certamente todas essas mudanças vão colocar a empresa em uma posição em que pode ser competitiva", disse Mark DeGennaro, especialista em concordata da firma Gruppo, Levey & Company.
Apesar de isso representar um novo começo para a empresa, fundada há 84 anos, a Chrysler fracassou nas suas duas tentativas anteriores de se reinventar. Em 1998, a montadora alemã Daimler-Benz surpreendeu o mundo ao absorver a Chrylser em uma fusão de US$ 36 bilhões.
No entanto, o casamento dos carros de luxo da Mercedes-Benz com os caminhões e os utilitários da Chrysler fracassou, e a Daimler colocou à venda em 2007 a divisão dos EUA.
O seu próximo dono, a empresa de "private equity" Cerberus Capital, tentou organizar a Chrysler e depois encontrar alianças com outras montadoras para expandir a linha de produtos. Essa estratégia também fracassou e, ao lado da crise, levou ao pedido de concordata em 30 de abril.
O processo tem sido levado rapidamente e metodicamente pelo juiz Arthur Gonzalez. As audiências trouxeram uma nova visão sobre os problemas.
Uma das primeiras testemunhas durante a audiência sobre a venda de ativos da montadora para a nova Chrysler foi Thomas LaSorda, que se aposentou no mês passado como vice-presidente-executivo da Chrysler.
No depoimento, LaSorda contou como procurou no ano passado parceiros ou compradores para a Chrysler. Ele falou dos acordos que não vingaram com a Nissan e a GM, e sobre os esforços fracassados para conquistar o interesse de companhias sul-coreanas e indianas para alianças com a Chrysler.
"Ninguém estava disposto a nos dar um centavo", disse.
A oferta da Fiat de fornecer carros pequenos e que consomem menos combustível, afirmou, foi "tão boa quanto dinheiro ou melhor". Depois de 32 anos no setor automotivo com GM e Chrysler, LaSorda disse que ficou claro para ele que a empresa continuaria na espiral de queda a não ser que conseguisse atualizar a sua linha de veículos.
O advogado dos fundos de pensão, Glenn Kurtz, passou a maior parte da audiência de quarta-feira defendendo que os credores da Chrysler, inclusive, poderiam conseguir muito mais em uma liquidação da empresa do que os US$ 2 bilhões recebidos do Tesouro para eliminar dívidas de US$ 7 bilhões.
Kurtz apresentou várias mensagens de e-mail entre executivos da Chrysler, consultores e membros da força de trabalho do governo americano, que, segundo ele, mostravam que a concordata estava sendo "apressada".


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