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ANÁLISE
Para Chrysler, parte difícil virá após concordata
DO "NEW YORK TIMES"
Quando o presidente Obama
anunciou o plano do governo
de reorganização da Chrysler,
em abril, ele prometeu que a
concordata seria "rápida", "eficiente" e "controlada".
E a Chrysler está, de fato,
atravessando rapidamente o
processo e parece estar a caminho de emergir logo como uma
nova companhia, apenas um
mês depois de entrar com o pedido de concordata.
Então, a parte difícil começa.
A Chrysler vai ter menores
custos trabalhistas, menos dívida e uma nova parceria com a
montadora italiana Fiat. Porém, estará competindo em um
mercado brutal, que pode tornar, na comparação, os tribunais em um refúgio.
Os americanos dificilmente
estão com intenção de comprar
carro, e as pessoas que estão adquirindo se dirigem para longe
das lojas da Chrysler.
Parte da explicação é a nuvem da concordata que ronda a
companhia. A General Motors,
nova empresa no mundo da
concordata, também está perdendo clientes por causa da sua
situação financeira frágil e do
seu futuro incerto.
Mas a Chrysler está ainda
mais vulnerável do que a GM
porque a sua linha de veículos
está fortemente ligada a picapes, minivans e utilitários esportivos, que saíram das graças
dos consumidores preocupados com o consumo de combustível. A Fiat prometeu
acrescentar carros menores e
esportivos à linha da Chrysler,
mas deve demorar dois anos.
A Chrysler, que está vivendo
dos empréstimos federais desde o começo deste ano, também vai precisar esticar os US$
7 bilhões que está recebendo do
Departamento do Tesouro para cobrir os prejuízos até que a
aliança com a Fiat comece a
render frutos. Para economizar, a Chrysler deixou ociosa a
maioria das suas fábricas para
tentar liquidar um enorme estoque de carros novos e cortou
drasticamente os gastos no desenvolvimento de produtos.
"Nós temos que ver o consumidor apoiando a empresa ao
comprar o produto dela, o que
não tem ocorrido", disse Rebecca Lindland, analista da empresa de pesquisa IHS Global
Insight. "Só porque eles saíram
da concordata não significa que
todos os problemas foram resolvidos", disse ela.
Com suas audiências no tribunal andando rapidamente
-até dois meses ainda seria
considerado absurdamente veloz-, a nova e reorganizada
Chrysler pode sair da concordata ainda nesta semana.
Quando sair, a companhia terá uma nova estrutura acionária, com um fundo do sindicato
dos funcionários aposentados
controlando 55%, a Fiat tendo
uma participação de 20%, que
pode chegar a 35%, e os governos de EUA e Canadá com participações minoritárias.
Ela também terá um novo
conselho e um novo presidente-executivo: C. Robert Kidder,
o ex-presidente do Conselho da
Borden Chemical e da Duracell.
O presidente-executivo da
Fiat, Sergio Marchionne, também pode comandar a
Chrysler. Ele já está se envolvendo nos planos de novos produtos e fazendo sugestões.
Apesar de a Fiat fornecer carros pequenos, novos motores e
tecnologia avançada para a
Chrysler, não vai colocar dinheiro na nova parceira.
Mesmo com todos os desafios que terá pela frente, a
Chrysler pelo menos vai ter
chance de ser bem-sucedida,
dizem analistas, porque ela reduziu a dívida, cortou fábricas e
postos de trabalho e financiou
com ações metade das suas
obrigações com o fundo de saúde dos aposentados.
"Só o tempo vai dizer a verdade, mas certamente todas essas
mudanças vão colocar a empresa em uma posição em que pode ser competitiva", disse Mark
DeGennaro, especialista em
concordata da firma Gruppo,
Levey & Company.
Apesar de isso representar
um novo começo para a empresa, fundada há 84 anos, a
Chrysler fracassou nas suas
duas tentativas anteriores de se
reinventar. Em 1998, a montadora alemã Daimler-Benz surpreendeu o mundo ao absorver
a Chrylser em uma fusão de
US$ 36 bilhões.
No entanto, o casamento dos
carros de luxo da Mercedes-Benz com os caminhões e os
utilitários da Chrysler fracassou, e a Daimler colocou à venda em 2007 a divisão dos EUA.
O seu próximo dono, a empresa de "private equity" Cerberus Capital, tentou organizar
a Chrysler e depois encontrar
alianças com outras montadoras para expandir a linha de
produtos. Essa estratégia também fracassou e, ao lado da crise, levou ao pedido de concordata em 30 de abril.
O processo tem sido levado
rapidamente e metodicamente
pelo juiz Arthur Gonzalez. As
audiências trouxeram uma nova visão sobre os problemas.
Uma das primeiras testemunhas durante a audiência sobre
a venda de ativos da montadora
para a nova Chrysler foi Thomas LaSorda, que se aposentou
no mês passado como vice-presidente-executivo da Chrysler.
No depoimento, LaSorda
contou como procurou no ano
passado parceiros ou compradores para a Chrysler. Ele falou
dos acordos que não vingaram
com a Nissan e a GM, e sobre os
esforços fracassados para conquistar o interesse de companhias sul-coreanas e indianas
para alianças com a Chrysler.
"Ninguém estava disposto a
nos dar um centavo", disse.
A oferta da Fiat de fornecer
carros pequenos e que consomem menos combustível, afirmou, foi "tão boa quanto dinheiro ou melhor". Depois de
32 anos no setor automotivo
com GM e Chrysler, LaSorda
disse que ficou claro para ele
que a empresa continuaria na
espiral de queda a não ser que
conseguisse atualizar a sua linha de veículos.
O advogado dos fundos de
pensão, Glenn Kurtz, passou a
maior parte da audiência de
quarta-feira defendendo que os
credores da Chrysler, inclusive,
poderiam conseguir muito
mais em uma liquidação da empresa do que os US$ 2 bilhões
recebidos do Tesouro para eliminar dívidas de US$ 7 bilhões.
Kurtz apresentou várias
mensagens de e-mail entre executivos da Chrysler, consultores e membros da força de trabalho do governo americano,
que, segundo ele, mostravam
que a concordata estava sendo
"apressada".
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