São Paulo, segunda, 1 de junho de 1998

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EFEITO ARAPUÃ
Três redes de lojas chegam a representar 50% do faturamento dos fabricantes de eletroeletrônicos
Concentração no varejo preocupa indústria

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

A concentração de pontos-de-venda estratégicos nas mãos de poucas redes do comércio está em plena discussão entre os fabricantes de eletroeletrônicos.
A crise financeira da Arapuã, que tem uma dívida próxima de R$ 700 milhões, acabou trazendo à tona um assunto que sempre preocupou os fabricantes -a concentração-, mas nunca em tamanha proporção.
Um levantamento rápido feito nesta semana com os fornecedores da Arapuã constata que Ponto Frio, Casas Bahia e Arapuã chegam a escoar sozinhas cerca de 50% da venda da indústria eletroeletrônica. Juntas, essas três redes, que têm cerca de 800 lojas espalhadas pelo país, faturaram cerca de R$ 6,5 bilhões no ano passado.
A dimensão do perigo que é vender muito para poucos deve desencadear um movimento de empresários para estimular a venda para pequenos e médios lojistas.
"Estamos trabalhando num projeto para ver como é possível salvar o varejo médio. A meta é evitar a concentração", diz Lourival Kiçula, diretor-geral da Sanyo.
Na Multibrás, dona das marcas Brastemp e Consul, cerca de 35% a 40% das vendas estão concentradas nas redes Arapuã, Casas Bahia e Ponto Frio. "Depender de poucos lojistas sempre é ruim. Mas a Multibrás tem condição de absorver alguma perda com a Arapuã", diz Magali Bim, analista do banco BBA. A empresa tem a receber da Arapuã cerca de R$ 80 milhões.
Na Sanyo, três redes de lojas, cujos nomes não foram revelados, são responsáveis por 25% do faturamento da empresa. Para ela, o ideal é que esse percentual, já inferior ao da média da indústria, seja ainda menor.
Concentração maior
Pelo que sentem os analistas de investimento e os especialistas em varejo, a tendência é aumentar ainda mais a concentração das redes. Isso porque quanto mais lojas uma rede tem, maior é o seu poder de barganha com os fornecedores, o que a torna mais competitiva.
É contra isso que os fornecedores estão lutando no caso da Arapuã. Samuel Klein, dono da Casas Bahia, e Ricardo Mansur, dono do Mappin e da Mesbla, estão praticamente banidos pelos credores como candidatos possíveis a adquirir a Arapuã, pois, ao comprar a rede, eles se tornariam ainda mais potentes.
Os credores da Arapuã, que estão tentando acertar com a família Simeira Jacob -que controla a rede- um acordo para gerir a empresa, gostariam que ela passasse para as mãos de um grupo estrangeiro para atiçar a concorrência local.
"Mas isso é difícil. Não é nada fácil para um grupo de fora, que não está acostumado a vender por meio de crediário, vir para um país que tem tradição de vender eletroeletrônicos por meio de financiamento ao consumidor", diz Esther Hiranobe, analista do Caspian Securities.
Credores
Enquanto a situação da Arapuã não se resolve -os credores, a família Simeira Jacob e o banco Pactual, chamado a apresentar uma proposta de acordo, ainda não se entenderam-, os fabricantes de eletroeletrônicos analisam com mais atenção o efeito da Arapuã nos seus resultados, especialmente aqueles que vêm registrando prejuízo.
A Gradiente encerrou o ano passado com prejuízo de R$ 100 milhões e o primeiro trimestre deste ano com prejuízo de mais R$ 10,4 milhões. Com R$ 24 milhões a receber da Arapuã, a Gradiente ainda não decidiu se fará provisão contando com perdas da rede.
A Sharp, que tem a receber da Arapuã cerca de R$ 80 milhões, é outra empresa que não teve um primeiro trimestre positivo. Fechou os três primeiros meses de 98 com prejuízo de R$ 26 milhões.
A Sharp admite que a Arapuã deve ter efeito negativo no balanço da companhia, mas informa que ela tem condição financeira para aguentar o alongamento no prazo de pagamento da Arapuã, pois tem em caixa US$ 160 milhões.
Se a Arapuã quebrar, segundo o Pactual, os credores vão receber menos de 7% da dívida da rede. Pela proposta do banco, os credores voltam a fornecedor mercadorias para a Arapuã mediante recebimento à vista. A empresa, sob nova gestão, teria condição de quitar uma parte da dívida em até 12 meses. Outra parte do débito deveria ser quitada com a venda da empresa.



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