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EFEITO ARAPUÃ
Três redes de lojas chegam a representar 50% do faturamento dos fabricantes de eletroeletrônicos
Concentração no varejo preocupa indústria
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
A concentração de pontos-de-venda estratégicos nas
mãos de poucas redes do comércio
está em plena discussão entre os
fabricantes de eletroeletrônicos.
A crise financeira da Arapuã,
que tem uma dívida próxima de
R$ 700 milhões, acabou trazendo à
tona um assunto que sempre
preocupou os fabricantes -a concentração-, mas nunca em tamanha proporção.
Um levantamento rápido feito
nesta semana com os fornecedores
da Arapuã constata que Ponto
Frio, Casas Bahia e Arapuã chegam a escoar sozinhas cerca de
50% da venda da indústria eletroeletrônica. Juntas, essas três redes,
que têm cerca de 800 lojas espalhadas pelo país, faturaram cerca de
R$ 6,5 bilhões no ano passado.
A dimensão do perigo que é vender muito para poucos deve desencadear um movimento de empresários para estimular a venda
para pequenos e médios lojistas.
"Estamos trabalhando num
projeto para ver como é possível
salvar o varejo médio. A meta é
evitar a concentração", diz Lourival Kiçula, diretor-geral da Sanyo.
Na Multibrás, dona das marcas
Brastemp e Consul, cerca de 35% a
40% das vendas estão concentradas nas redes Arapuã, Casas Bahia
e Ponto Frio. "Depender de poucos lojistas sempre é ruim. Mas a
Multibrás tem condição de absorver alguma perda com a Arapuã",
diz Magali Bim, analista do banco
BBA. A empresa tem a receber da
Arapuã cerca de R$ 80 milhões.
Na Sanyo, três redes de lojas, cujos nomes não foram revelados,
são responsáveis por 25% do faturamento da empresa. Para ela, o
ideal é que esse percentual, já inferior ao da média da indústria, seja
ainda menor.
Concentração maior
Pelo que sentem os analistas de
investimento e os especialistas em
varejo, a tendência é aumentar
ainda mais a concentração das redes. Isso porque quanto mais lojas
uma rede tem, maior é o seu poder
de barganha com os fornecedores,
o que a torna mais competitiva.
É contra isso que os fornecedores estão lutando no caso da Arapuã. Samuel Klein, dono da Casas
Bahia, e Ricardo Mansur, dono do
Mappin e da Mesbla, estão praticamente banidos pelos credores
como candidatos possíveis a adquirir a Arapuã, pois, ao comprar
a rede, eles se tornariam ainda
mais potentes.
Os credores da Arapuã, que estão tentando acertar com a família
Simeira Jacob -que controla a rede- um acordo para gerir a empresa, gostariam que ela passasse
para as mãos de um grupo estrangeiro para atiçar a concorrência
local.
"Mas isso é difícil. Não é nada
fácil para um grupo de fora, que
não está acostumado a vender por
meio de crediário, vir para um
país que tem tradição de vender
eletroeletrônicos por meio de financiamento ao consumidor",
diz Esther Hiranobe, analista do
Caspian Securities.
Credores
Enquanto a situação da Arapuã
não se resolve -os credores, a família Simeira Jacob e o banco Pactual, chamado a apresentar uma
proposta de acordo, ainda não se
entenderam-, os fabricantes de
eletroeletrônicos analisam com
mais atenção o efeito da Arapuã
nos seus resultados, especialmente aqueles que vêm registrando
prejuízo.
A Gradiente encerrou o ano passado com prejuízo de R$ 100 milhões e o primeiro trimestre deste
ano com prejuízo de mais R$ 10,4
milhões. Com R$ 24 milhões a receber da Arapuã, a Gradiente ainda não decidiu se fará provisão
contando com perdas da rede.
A Sharp, que tem a receber da
Arapuã cerca de R$ 80 milhões, é
outra empresa que não teve um
primeiro trimestre positivo. Fechou os três primeiros meses de 98
com prejuízo de R$ 26 milhões.
A Sharp admite que a Arapuã
deve ter efeito negativo no balanço
da companhia, mas informa que
ela tem condição financeira para
aguentar o alongamento no prazo
de pagamento da Arapuã, pois
tem em caixa US$ 160 milhões.
Se a Arapuã quebrar, segundo o
Pactual, os credores vão receber
menos de 7% da dívida da rede.
Pela proposta do banco, os credores voltam a fornecedor mercadorias para a Arapuã mediante recebimento à vista. A empresa, sob
nova gestão, teria condição de
quitar uma parte da dívida em até
12 meses. Outra parte do débito
deveria ser quitada com a venda
da empresa.
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