São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

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BCs vêem economia global em "ponto crítico"

BIS alerta para ameaça da inflação e da desaceleração econômica e diz que mundo vive maior turbulência desde a Segunda Guerra

Relatório atribui situação aos próprios BCs, por não terem mantido os juros altos o suficiente no início da década para conter bolha de crédito


MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Uma dupla ameaça está empurrando a economia mundial para um "ponto crítico". A convergência de inflação e desaceleração econômica é a fonte do perigo, alerta o BIS, entidade que monitora o sistema financeiro internacional e é uma espécie de banco central dos bancos centrais.
Em seu relatório anual, o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) diz que o mundo vive a maior turbulência financeira desde a Segunda Guerra. "Uma poderosa interação entre inovação no mercado financeiro, frouxa regulamentação interna e externa e fáceis condições monetárias globais por um longo período nos levou à atual situação adversa", diz o relatório.
Na prática, o relatório põe parte da culpa pela crise nos próprios BCs, por não terem mantido as taxas de juros altas o suficiente no começo da década para conter o surgimento de uma bolha de crédito.
Hoje, o aumento da inflação no mundo é "um perigo claro e real", afirma o BIS, notando que a escalada dos preços preocupa principalmente em países emergentes, como o Brasil, que devem aumentar as taxas de juros e permitir a valorização de suas moedas para deter o o contágio da inflação em outras regiões do planeta.
Ao mesmo tempo, a organização com sede na Suíça adverte que a economia mundial voltou a mostrar sinais de desaceleração mais acentuada e que o risco de recessão nos EUA ainda é "significativo". E reconhece que a combinação de pressão inflacionária com menor atividade econômica cria novamente um dilema para os bancos centrais, divididos entre elevar os juros para afastar o primeiro perigo ou cortá-los para enfrentar o segundo.

Desafio
"A ameaça imposta pelo ressurgimento da inflação chega justamente num momento em que os riscos ao crescimento global causados pelo acentuado aumento nos preços do petróleo e pelo aperto nas condições de crédito em algumas economias-chave aumentaram", disse o diretor-geral do BIS, Malcolm Knight. "Isso apresenta aos bancos centrais um grande desafio em política monetária."
Em sua última reunião regular, há dois meses, o BIS já manifestara preocupação com o avanço da inflação, mas parecia convencido de que o pior da crise econômica mundial havia ficado para trás. E indicava que a demanda interna aquecida dos maiores países emergentes, como China, Índia e Brasil, era uma bênção capaz de compensar a desaceleração nos países industrializados.
Agora, a bênção parece ter virado um perigo. "Nesses países [emergentes], as pressões causadas pela demanda continuam fortes", disse Knight. "Seria apropriado elevar os juros e permitir a valorização do câmbio para conter a inflação." Para ele, os desafios dos emergentes são "particularmente grandes", já que os preços dos alimentos consomem fatia maior do orçamento doméstico.
Knight disse ainda que, com o aumento de sua participação na economia mundial, os países emergentes também passam a ter mais responsabilidades. "Os dias em que o curso do progresso econômico global era ditado por poucas economias avançadas terminaram", afirmou o gerente-geral do BIS. "O crescente peso dos países emergentes claramente trouxe vantagens, mas também cria responsabilidades internacionais."
Embora o BIS deixe claro que a inflação é hoje o principal inimigo, em um de seus cenários mais pessimistas o relatório diz que o baixo crescimento poderá se prolongar por um período mais longo do que se prevê. Com os altos preços dos alimentos e do petróleo, o estouro da bolha imobiliária e a falta de crédito no mercado, a situação poderia se inverter e virar deflação, uma possibilidade remota, de acordo com o BIS, mas digna de atenção.


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