São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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ECONOMIA EM TRANSE

Eletrônicos terão aumento de até 45% e remédio pode ficar 14% mais caro; farinha de trigo sobe 44%

Indústrias já preparam onda de reajustes

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Da farmácia à padaria. O consumidor vai perceber, dentro de 20 a 30 dias, uma subida generalizada nos preços em decorrência da puxada na cotação do dólar.
Laboratórios farmacêuticos, que estimavam uma elevação de 7,5% quando o dólar estava em R$ 2,75, pensam em rever o aumento para taxas superiores a 14%. O reajuste nos produtos eletroeletrônicos deve variar de 35% a 45%, segundo a Folha apurou. Reuniões para definir a taxa acontecem a partir de hoje. O pão francês já custa mais e novos reajustes devem acontecer neste mês.
Moinhos de trigo informam que o produto chega hoje nas padarias custando até 25% a mais do que em junho. Isso ocorre devido à elevação no valor da moeda americana no começo do mês passado. O problema é que se o preço do dólar se mantiver no patamar dos R$ 3, haverá uma segunda rodada de aumentos. "Não há outra coisa a fazer senão repassar a subida no preço do trigo", diz Ronald Guth, presidente da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo).

Pãozinho sente
"De março até a semana passada houve um aumento no custo da farinha, vendida para as padarias, de 44%. Isso inclui a variação do câmbio e outros custos", afirma Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, o maior do país.
A tonelada do trigo argentino custa US$ 177. No início de julho, pagava-se R$ 513,3 por ele. Ontem, com a alta no dólar, a tonelada já estava em R$ 614,2- uma elevação de 19,6%
A lista de aumentos vai mais longe: os produtos eletrônicos devem entrar nesse movimento também. Os estoques de matérias-primas importadas para itens como TV e videocassete estão muito ajustados e, portanto, há necessidade de novas encomendas. Há empresas com contratos para pagamento do insumo com base no dólar do dia. O resultado será uma elevação no custo do produto final.
A Abinee, que representa as companhias de telecomunicações, energia e componentes, disse que as empresas já estão discutindo futuros aumentos. "Sabemos da dificuldade que um ato desse representa, porém as indústrias não podem operar com prejuízo", informou, em nota, Carlos de Paiva Lopes, presidente da entidade. Cada empresa definirá a sua taxa.
A Folha apurou que os empresários do setor já começam a conversar entre si sobre aumentos de preços em agosto. Os índices de reajustes variam entre 35% a 45%.
As empresas do setor eletroeletrônico sofrem forte impacto da variação do dólar sobre seus custos, já que 75% a 80% de seus insumos são importados. No caso de computador, o índice de importação chega a 90%.

Choque nas vendas
Companhias do setor pretendem se encontrar, a partir de hoje, para discutir alternativas para enfrentar essa alta do dólar e o baixo volume de vendas. Uma das alternativas, de acordo com o que a Folha apurou, é a paralisação da produção.
A venda de produtos eletroeletrônicos caiu 16,27% em junho em relação a maio, segundo dados que acabaram de ser fechados da Eletros, associação dos fabricantes. Já em comparação a junho do ano passado, as vendas do setor registraram uma alta de 24,65%. Em junho de 2001, a indústria parou em, razão do racionamento.
O mesmo acontece com o setor farmacêutico. Cerca de 30% a 40% das matérias-primas são importadas. A pressão incide inclusive sobre os genéricos. Em junho, a Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica solicitou ao governo reajuste médio de 7,5%. Isso antes de o dólar ultrapassar os R$ 2,75. Como ultrapassou a os R$ 3, a defasagem no preço dos medicamentos já atinge 14,5%.
Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira das Empresas Fabricantes de Embalagens Laminadas Flexíveis e da Abrinq (Associação dos Fabricante de Brinquedos), diz que a alta do dólar ""terá efeito catastrófico". No setor de embalagens laminadas flexíveis, usadas pelas indústrias de alimentos, as pressões decorrentes da depreciação cambial nos últimos 60 dias apontam para aumentos de entre 10% e 15% nos preços dos produtos.
""É um círculo perverso. A matéria-prima que recebo da petroquímica é cotada em dólares. Mas não posso repassar a alta para a indústria alimentícia. Isso porque diminuiu o nível de compras do setor com a redução na demanda por alimentos", diz.
As indústrias de brinquedos sofrem pressões por aumentos médios de 18%, segundo ele.


Colaborou JOSÉ ALAN DIAS,

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