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LUÍS NASSIF
Um Banco Central suíço
O respeito do Banco Central pelo tal de mercado
precisa ser revisto. Há escassez
de dólares no mercado, procura
por parte de empresas que precisam honrar seus compromissos.
Mas a falta de liquidez estimula
o poder de meia dúzia de especuladores. Em um mercado menos irracional, há grandes bancos atuando contraciclicamente: vendem quando sentem que
o preço está alto; compram
quando sentem que está baixo.
Em momentos de paroxismo,
esses agentes saem do mercado,
que fica tomado pelos especuladores. Meia dúzia deles consegue promover um carnaval pela
ausência dos profissionais. E
promove porque é previsível o
resultado de suas ações, o mercado está em suas mãos.
Nesse contexto de tiroteio, a
única coisa a inibir a atuação
desses jogadores seria introduzir
uma dose de risco em suas
ações, um jogador poderoso,
que operasse o mercado, bancasse suas apostas e lhes infligisse prejuízos. O grande croupier
desse mercado é o BC. É ele
quem tem dinheiro em caixa e,
mais do que isso, conhece a posição de cada jogador.
Em outros momentos da história, o BC conseguiu segurar o
mercado operando um saco de
maldades, um porrete na cabeça dos especuladores. Quando o
mercado se aquecia, o BC entrava vendendo dólares e, quando
as cotações cediam, entrava
comprando e refazendo seu caixa. Conseguiu administrar crises cambiais terríveis dispondo
de US$ 1 bilhão de cacife. Está
certo que o mundo hoje é outro,
e as dimensões e interações entre mercados não permitem manobras muito ousadas. Além
disso, o BC quer implantar regras impessoais no mercado.
Mas o mercado está seco, ilíquido, e esse estilo suíço não está
sendo eficaz. Colocar US$ 50 milhões por dia no mercado é gastar reservas e anular a grande
arma do BC para conter os especuladores: o fator surpresa.
A mesa do BC perdeu muito
da sua capacidade operacional,
até por conta do novo estilo implantado. Mas não teria nenhuma dificuldade em voltar a operar o mercado, principalmente
tendo em vista a grande experiência acumulada pela atual
diretoria do BC, quando na atividade privada.
Não é o momento de ser suíço.
FHC e o câmbio
Sempre que se leva um tranco
na vida por motivo fútil, o único
consolo que permite reduzir o
sentimento de desperdício é a lição aprendida. O que o país passa hoje, com a crise cambial,
merece ser analisado, reanalisado, pesado e aprendido por todos: candidatos à Presidência,
mídia e analistas em geral.
A economia, assim como a
saúde individual, não suporta
desaforos. Durante quatro anos
e meio o país foi submetido a
um equívoco monumental na
política cambial. Nem é o caso
de rememorar o besteirol que
sustentou essa política.
Os defensores partiam do
princípio de que a liquidez internacional seria eterna e infinita e que, portanto, o país tinha
que acabar com os superávits
comerciais para abrir espaço
para o fluxo financeiro. Os críticos sustentavam que não, que o
país tinha que ser cauteloso para não criar novas vulnerabilidades.
Agora está claríssimo que os
argumentos dos defensores -os
"novos economistas", como dizia Delfim Netto- não tinham
a menor consistência. Mas, depois do desastre, qual a vantagem de saber quem tinha a razão? O mal está feito e existem
muitos culpados.
Há duas lições a tirar do episódio, embora sejam poucas as esperanças de que sejam seguidas.
A primeira é que grande defesa
institucional de que um país
dispõe é saber, antecipadamente, escolher a linha de pensadores mais consistente. Ainda hoje,
autores dos maiores equívocos
da história econômica contemporânea continuam tendo espaço desproporcional ao seu nível
de acerto, pautando jornais e revistas, ajudando a preparar os
novos desastres futuros. Não se
trata de censurá-los, mas avalizá-los significa não apenas entregar carne de terceira aos seus
leitores, como atribuir-lhes uma
influência que não estão aptos a
exercer.
A segunda lição é que, em
qualquer hipótese, política boa é
política conservadora. Toda política econômica tem que ser otimista no discurso, mas conservadora na ação.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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