São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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LATINOS EM TRANSE

Uruguaios fazem fila nos caixas eletrônicos temendo um "corralito"; país também espera dinheiro do FMI

Uruguai prorroga feriado bancário até sexta

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O governo uruguaio decidiu estender pelo menos até o final desta semana o feriado bancário decretado anteontem para conter a fuga de depósitos dos bancos.
Ontem, circularam boatos de que o governo implementaria limitações para o saque dos depósitos ou de que os correntistas poderiam ser obrigados a receber títulos públicos em troca dos recursos depositados.
Revoltado, um grupo de uruguaios saqueou um supermercado de Montevidéu. Oito pessoas foram presas pela polícia. Além disso, as agências de classificação de risco Fitch e Moody's rebaixaram de novo a nota do país.
O ministro Alejandro Atchugarry (Economia) tentou acalmar os nervos e negou diversas vezes que o governo tenha a intenção de implantar um "corralito" (nome dado pelos argentinos às restrições para saques) para evitar uma nova corrida bancária.
Atchugarry não garantiu que os bancos serão reabertos na próxima segunda-feira. Ele disse apenas que o país busca apoio para "fortalecer o sistema financeiro" e "defender os correntistas".
Uma missão uruguaia está em Washington há uma semana para negociar a liberação de mais recursos. Novas medidas econômicas só devem ser divulgadas pelo governo após o FMI confirmar um novo acordo.
Segundo a imprensa local, o país estaria muito próximo de obter uma ajuda dos organismos financeiros internacionais de US$ 1,5 bilhão, que chegaria ao país na segunda-feira. Desse total, US$ 700 milhões representariam o adiantamento de um empréstimo já acertado com o FMI e outros US$ 800 milhões viriam de organismos internacionais e do G-7.
Além disso, o país já tinha conseguido no primeiro semestre uma ajuda internacional de US$ 3 bilhões. Todos esses recursos devem garantir a devolução dos depósitos bancários aos correntistas, reforçar as reservas internacionais e garantir o pagamento da dívida pública até o final de 2003.
Ontem, apesar do feriado bancário, os caixas automáticos de Montevidéu permitiram o saque de recursos até um limite de 5.000 pesos uruguaios (US$ 192). Houve filas de correntistas.
Sem liquidez no mercado e com a expectativa de acordo com o FMI, o dólar caiu 13,3%, vendido a 26 pesos nas casas de câmbio uruguaias. Para o ex-presidente do BC uruguaio, Ramón Díaz, os bancos voltarão a sofrer com a fuga de depósitos na próxima segunda-feira se o feriado for levantado. Para ele, nesse cenário o país poderia chegar à moratória da dívida externa ou a impedir a saída de recursos dos bancos por meio de um "corralito".



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