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RECEITA ORTODOXA
Encargos da dívida somaram R$ 74,3 bilhões de janeiro a junho, 60% acima do mesmo período de 2002
Despesa com juros aumenta no governo Lula
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O esforço fiscal recorde do primeiro semestre deste ano não foi
suficiente para compensar o forte
crescimento dos juros da dívida
pública no período.
Entre janeiro e junho, União,
Estados, municípios e estatais
economizaram R$ 40 bilhões para
pagar juros, o maior ajuste fiscal
já feito no primeiro semestre desde que o Banco Central passou a
calcular essa estatística com a
atual metodologia, em 1991.
Apesar disso, essa economia foi
suficiente para honrar apenas
pouco mais da metade dos R$
74,3 bilhões em encargos da dívida pública que se acumularam no
período -valor 60% maior do
que o registrado no primeiro semestre de 2002.
Sob os seis meses de Lula, as
despesas com juros representaram 10% do PIB (Produto Interno
Bruto). No primeiro semestre de
2002, essa relação ficara em 7,5%.
Assim, mesmo conseguindo
obter um elevado superávit primário, o setor público teve um
grande déficit nas suas contas
quando se consideram os gastos
com juros. O chamado déficit nominal acumulado no primeiro semestre ficou em R$ 34,3 bilhões,
equivalente a 4,63% do PIB.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, espera que esse déficit siga crescendo, devendo encerrar o ano em
5% do PIB (R$ 82 bilhões).
De acordo com Lopes, o crescimento do déficit se deve à alta dos
juros ocorrida neste ano -1,5
ponto percentual nos dois primeiros meses do ano. Atualmente, metade da dívida do governo é
corrigida pela taxa Selic, hoje em
24,5% ao ano. Em julho de 2002,
essa taxa estava em 18%.
Responsável por fixar a Selic, o
BC justifica a alta dos juros com a
necessidade de conter a inflação.
Por esse motivo, o Brasil tem registrado elevado déficit nominal
desde o início do Plano Real, em
1994. Até 1998, as constantes elevações da taxa eram feitas para
evitar a alta do dólar e manter o
regime de câmbio controlado.
Em 1998, durante a crise russa,
os juros chegaram a ultrapassar
40% ao ano. Naquele período, o
déficit nas contas públicas ficou
em R$ 68 bilhões -o que equivalia a 7,46% do PIB da época.
Em 2002, o pagamento dos juros da dívida totalizou R$ 114 bilhões. Neste ano, estima-se que
esse valor suba para cerca de R$
150 bilhões. Já o superávit primário deve chegar a R$ 68 bilhões.
Quando o governo não consegue economizar dinheiro suficiente para pagar os juros da dívida, precisa tomar novos empréstimos para financiar as contas públicas. Cria-se, então, um problema de difícil solução: quanto
maior a dívida, mais juros se paga.
E, quanto maior a carga dos juros,
mais o governo precisa se endividar para financiar seu déficit.
No mês passado, a dívida líquida do setor público chegou a R$
856 bilhões, ou 55,4% do PIB. O
endividamento do governo só
não é maior por causa da queda
na cotação do dólar ocorrida no
primeiro semestre, o que reduziu
a dívida em reais. Cerca de 40%
do endividamento do governo é
corrigido pelo câmbio.
Nos primeiros seis meses do
ano, a queda do dólar foi responsável por uma redução de R$ 66
bilhões na dívida pública, segundo o BC. Os juros de R$ 74,3 bilhões, por outro lado, colaboraram para aumentar o endividamento do governo.
A recente queda da inflação
também tem colaborado para o
aumento da relação entre dívida e
PIB. Segundo a metodologia do
BC, o valor do PIB é corrigido pelo IGP-DI, índice que tem registrado fortes quedas nos últimos
meses. Assim, com um PIB menor, a proporção entre a dívida e o
total de riquezas produzida pela
economia sobe.
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