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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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LUÍS NASSIF

Saídas para a instabilidade

O moderfrota tornou-se padrão de plano de governo bem-sucedido. Os financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para a compra de caminhões, permitiram 25% de aumento na safra, na compra de insumos. O modelo adotado foi uma repetição de experiência ocorrida na era Geisel, quando se fixou um teto para a correção monetária dos financiamentos em 20%. Ao estabelecer o teto, eliminou-se um fator de risco para os tomadores, e a economia respondeu.
Em outros tempos, foram bem-sucedidas experiências de minimização de riscos, como os CCRs (Convênios de Crédito Recíproco), que estimularam empresas a buscar novos mercados. Por esses convênios, os BCs dos respectivos países faziam uma conta de compensação entre exportações e importações e garantiam os exportadores.
Experiências desse tipo, no entanto, têm esbarrado em uma resistência muito grande da área financeira de sucessivos governos, especialmente do Banco Central, do Tesouro e da Receita.
Após o Moderfrota, o BNDES propôs um novo programa para renovar a frota de autônomos, com juros limitados a 20% ao ano. Os bancos toparam a proposta, que consiste em financiar 70% do caminhão, com os outros 30% sendo bancados pelo caminhoneiro com a venda do caminhão velho.
A taxa Selic está em queda, as projeções indicam que deverá se situar abaixo dos 20% no final do ano. O risco do Tesouro fica minimizado. Mas não se consegue vencer essa ortodoxia.
Há uma notável falta de discernimento sobre o papel de governo e suas diversas formas de atuação. A redução da volatilidade, dos fatores de risco externos ao negócio, é elemento essencial para estimular investimentos privados. São dessa natureza os programas de equalização de taxas de juros de financiamentos às exportações, por exemplo.
Agora mesmo há um amplo programa de construção de novas hidrelétricas sendo pensado. Havendo tomadores, será possível em quatro anos aumentar a capacidade do setor elétrico brasileiro de 70 milhões de MWh para 95 milhões de MWh. Há estudos sobre uma grande hidrelétrica no Xingu e o complexo do rio Madeira, assim que forem superados os problemas ambientais e com áreas indígenas.
Mas o investidor quer estabilidade cambial (se for externo), estabilidade contratual e perspectivas de crescimento -ninguém irá investir em um país emergente, a não ser se o mercado tiver um potencial de crescimento maior do que nos países desenvolvidos.
No caso brasileiro, a cada dois anos explode uma crise cambial, que arrebenta com as projeções de retorno dos investidores externos. Depois, a indexação explode com os reajustes contratuais, provocando reação política contra eles.
Enquanto não houver uma economia minimamente previsível, há que ter imaginação para pensar em saídas legítimas, visando minimizar os riscos extra-negócio dos empreendimentos.

Lançamento
Os leitores estão convidados para o lançamento do meu livro "O Jornalismo dos anos 90", amanhã, às 11h, na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

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Luisnassif@uol.com.br


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