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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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PACOTE

Brasil defende que investimento em estatais deixe de ser considerado déficit

Para FMI, mudar regras é difícil

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) não vai se negar a discutir com o Brasil pedidos que o país tenha em uma eventual nova negociação neste ano, como a mudança defendida por autoridades brasileiras para que investimentos de empresas estatais deixem de ser computados como déficit.
A prioridade do Fundo, porém, será manter sistemas contábeis uniformes para os países que têm acordos com a instituição.
Segundo o porta-voz do FMI, Thomas Dawson, "há décadas" vários países têm defendido a mudança. "E certamente temos notado que esse tema voltou à tona na América Latina."
"Não surpreende que essa questão reapareça, pois há muitas pessoas e diferentes visões perfeitamente responsáveis sobre quais devem ser as prioridades para gastos e sobre como os diferentes tipos de gastos devem ser contabilizados", disse Dawson.
Embora também tenha dito que o Fundo está "disposto a discutir o tema individualmente", Dawson afirmou que "o importante é que o processo de acompanhamento contábil entre países seja, se não idêntico, comparável. Pois nosso trabalho é assegurar que os países obtenham uma situação financeira sustentável".
O Brasil e o Fundo estão finalizando a quarta revisão do acordo em vigor, que dará acesso a um saque de mais US$ 4,3 bilhões.
O Brasil deverá decidir nos próximos meses se quer firmar um novo entendimento com o Fundo a partir de novembro, quando acaba o acordo atual.
Além dessa mudança, a equipe econômica brasileira vem defendendo que sejam flexibilizados mecanismos que impedem municípios superavitários de obter novos empréstimos. As propostas, hoje proibidas pelo acordo em vigor, permitiriam mais investimentos e gastos do setor público.
Nesta semana, a Folha ouviu de um outro funcionário do Fundo que dificilmente as mudanças defendidas pelo Brasil serão adotadas. Na lógica do FMI, a exceção para o caso brasileiro teria de se tornar uma regra, por uma questão de isonomia, para todos os outros países -ponto frisado por Dawson durante entrevista na sede do Fundo ontem.
Sobre o fechamento de um novo acordo, Dawson disse que "é uma questão que cabe fundamentalmente ao Brasil resolver. Estamos discutindo o tema (com as autoridades brasileiras) e vamos continuar conversando".


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