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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Copom diz que parada da economia "não é tão forte" e que queda maior dos juros não seria prudente

BC admite estagnação, mas não vê crise

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de reconhecer a contínua queda da inflação e o quadro de estagnação econômica neste ano, o Banco Central diz acreditar que não havia elementos que justificassem uma redução dos juros maior do que o 1,5 ponto percentual decidido na semana passada, em reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC).
Nos últimos dias, o BC tem sofrido fortes críticas por não ter promovido um corte maior na taxa Selic, que foi fixada em 24,5% ao ano. Ontem, a instituição divulgou a ata da reunião do Copom e usou o documento para se defender.
De maneira geral, o BC bate nas seguintes teclas para justificar seus atos: a estagnação da economia não é tão forte quanto mostram os dados disponíveis, a expectativa de queda da inflação não é tão certa quanto se acredita e a manutenção dos juros em níveis elevados foi a única coisa que impediu uma disparada dos preços nos últimos meses.
Diante desse quadro, portanto, o raciocínio é que uma queda maior dos juros não só não seria necessária para reativar a economia como não seria prudente em termos de controle da inflação.
Ainda assim, dados contidos no próprio documento do BC parecem colocar em dúvida essa tese.
De acordo com o BC, os indicadores econômicos disponíveis refletem, de maneira "defasada", o "cenário adverso" observado no início do ano, quando, em meio à transição para o novo governo, ainda havia dúvidas em relação à trajetória do câmbio e da inflação, por exemplo.
Em outras palavras, o BC acredita que as condições atuais são suficientes para uma maior recuperação da economia, que só não retomou o crescimento por causa de eventos ocorridos nos últimos meses. Logo, não seria necessária uma maior redução dos juros.
Os dados apontados pelo BC na ata do Copom, porém, mostram forte retração na atividade econômica, com queda nas vendas do varejo, na confiança dos consumidores e dos empresários, na produção de bens intermediários e nas vendas da indústria de transformação.
Ainda assim, o BC diz que o crescimento econômico deve se intensificar no segundo semestre, graças à "melhora nos fundamentos macroeconômicos", expressão utilizada para se referir a aspectos como inflação, contas externas e dívida pública.
Do lado da inflação, o argumento é que expectativa de queda nos preços não é algo tão certo quanto alguns analistas dizem, pois algumas projeções estariam embutindo um certo "otimismo" e podem não se confirmar.
Segundo o BC, muitas estimativas não consideram, nos seus cálculos, o impacto que a redução dos juros -que ocorrerá "gradativamente"- terá sobre a inflação, subestimando-a.
Portanto, dado que a inflação pode não cair tanto quanto se espera, estaria justificada a necessidade da manutenção dos juros em níveis elevados, segundo o BC.
Em outros trechos da ata do Copom, por outro lado, o BC reconhece que "a inflação manteve a tendência declinante observada ao longo dos últimos meses", resultado atribuído "fundamentalmente" aos juros altos praticados atualmente.
Para a instituição, os últimos índices de preços divulgados "reforçam a percepção de que a convergência da trajetória da inflação para as metas está se dando a uma velocidade maior do que a que vinha sendo observada".


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