São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EXPANSÃO NO CAMPO

Lucro com exportação em 2001 capitalizou empresas, que planejam gastar mais com expansão

Agroindústria ignora crise e investe mais

CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL

As agroindústrias brasileiras, apesar da letargia que atinge a economia do país, planejam investimentos de centenas de milhões de dólares para aumentar a produção nos próximos trimestres. Os recursos para isso foram obtidos com os bons resultados dessas empresas no ano passado, principalmente com exportações.
Ainda assim, as empresas do setor lamentam a crise na Argentina, que, de certa forma, fez os resultados do setor ficarem aquém do possível. As exportações para o país vizinho caíram praticamente a zero no último ano.
A média de investimentos das grandes montadoras de máquinas agrícolas, por exemplo, ultrapassa os US$ 30 milhões anuais.
Um exemplo disso é a montadora italiana CNH, que toca plano de investimento de US$ 120 milhões entre 1999 e 2003, segundo Valentino Rizzioli, presidente da empresa para a América Latina. Com investimentos semelhantes nos últimos anos, a montadora atingiu um faturamento bruto de R$ 1,5 bilhão apenas em 2001. Para este ano, espera elevar esse valor em 10%.
A CNH não é a única montadora a crescer. A americana John Deere prevê um faturamento de R$ 750 milhões neste ano, R$ 146 milhões a mais que em 2001.
"Mas tivemos que investir principalmente no mercado interno, já que nosso principal parceiro, a Argentina, está fora do mercado desde o início do ano passado", diz Martin Mundstock, diretor comercial da John Deere.
O setor de máquinas agrícolas, é, porém, um dos únicos a manter crescimento em 2002 -de 30%, segundo a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).
Algumas agroindústrias, entretanto, planejam investimentos ainda mais expressivos, como é o caso da Aracruz, que investiu US$ 660 milhões no país entre 2000 e 2001 e planeja gastar mais US$ 800 milhões nos próximos anos.
Parte desse dinheiro será usada para finalizar e aumentar a capacidade da nova fábrica da empresa, em Aracruz (ES). Essa operação é considerada o maior investimento privado em uma única unidade realizado no ano. A fábrica vai ser responsável pelo aumento de 53% na produção até 2003. Assim, serão produzidos 2 milhões de toneladas de celulose.

Indústria de alimentos
Outra empresa que vem investindo pesadamente nos últimos anos na expansão de suas unidades é a Perdigão. Com isso, a empresa teve resultados bastante positivos em 2001. As vendas cresceram 35%, o lucro líquido, 271%, e as exportações, 102%.
"Investimos mais de R$ 131 milhões em 2001. Quase um terço disso foi apenas para finalizar a construção da nova fábrica em Rio Verde [GO". Esse é o segredo do nosso crescimento, assim como nossa estratégia para exportar mais", diz Nildemar Secches, diretor-presidente da empresa.
O grande problema para as agroindústrias hoje, na opinião de Secches, é a instabilidade do dólar no momento. As constantes oscilações são, para ele, mais prejudiciais até que o fato de ele estar custando R$ 3. "Ficamos sem referência para o cálculo de custos e renda", diz.

Outros setores
O crescimento da agroindústria também foi bom para outros setores, como o de grãos.
A norte-americana Cargill, sexta colocada no ranking da FGV (Fundação Getúlio Vargas) das maiores empresas do agronegócio do Brasil, investiu US$ 20 milhões em um terminal portuário em Santarém (PA).
Essa nova instalação da empresa deve movimentar, inicialmente, cerca de 800 mil toneladas de soja e servir como fonte alternativa para o escoamento da produção de grãos dos Estados de Mato Grosso e do Pará.
A também norte-americana Monsanto, que atua na área de biotecnologia e insumos para a agricultura, assim como as demais, prevê crescimento. Ela espera um aumento de 30% em seu faturamento neste ano, atingindo US$ 650 milhões.
"Nossos investimentos planejados para o período 1999/2003 são da ordem de US$ 800 milhões", afirma Rodrigo Almeida, diretor de assuntos corporativos da Monsanto.
A empresa já gastou US$ 350 milhões na construção de uma fábrica de produtos químicos em Camaçari (BA), inaugurada em dezembro de 2001, na qual ainda devem ser investidos US$ 250 milhões. Com a fábrica, a empresa deixará de importar US$ 150 milhões por ano em componentes para seus fertilizantes. Produzindo lá mesmo o químico, a Monsanto espera exportar o mesmo valor que importava anualmente.



Texto Anterior: Conjuntura: Agronegócios sustentam PIB e exportação
Próximo Texto: Cooperativa eleva ganhos da agroindústria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.