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análise
Crise de crédito tomou viés moralista
DO "FINANCIAL TIMES"
A CRISE dos empréstimos imobiliários de
risco, ou "subprime",
nos EUA se transformou em
lição de moral. Os devedores
"subprime" -pessoas com
históricos de crédito desfavoráveis que realizaram hipotecas de custo elevado para comprar casas que estavam além de suas posses-
são apresentados como vítimas indefesas. As instituições que realizaram os empréstimos "subprime" (e os
investidores que compraram
os empréstimos securitizados) são caracterizados como avaros exploradores dos
norte-americanos pobres.
Agora, toda a turma está esperando que o governo intervenha e os salve das conseqüências da alquimia financeira que eles mesmos inventaram. Washington deveria resistir às pressões.
O presidente George W.
Bush anunciou ontem algumas medidas modestas para
ajudar os devedores que enfrentam necessidades verdadeiras, mas descartou uma
operação de resgate em benefício das pessoas que agiram por simples cobiça (quer
se trate dos devedores, quer
dos credores). Infelizmente,
o Congresso provavelmente
não vai parar por aí. Milhões
de norte-americanos talvez
ainda estejam a ponto de
perder suas casas, e outros
milhões perderão dinheiro
no mercado. É o tipo de crise
em que os políticos não conseguem resistir a interferir.
Os candidatos à Presidência estão divulgando suas
próprias soluções. Barack
Obama planeja um fundo financiado por multas sobre
empréstimos "irresponsáveis" (o que quer que isso
queira dizer). O Comitê de
Serviços Financeiros da Câmara realizará audiências na
semana que vem, e isso poderá resultar em novas leis. O
presidente do comitê, o democrata Barney Frank, deixou claro que ele acredita
que a crise do crédito "subprime" prova que falta regulamentação nos mercados financeiros dos EUA. Ele favorece toda sorte de proposta,
de novas normas de subscrição à instauração do direito
de processo contra todos os
envolvidos.
O resultado pode ter uma
nova e sufocante teia de regras e responsabilidades jurídicas que sufocará empréstimos às pessoas para as
quais o crédito "subprime"
foi originalmente criado:
aquelas que necessitam de
uma morada modesta, mas
não conseguem obter hipoteca normal devido a problemas de crédito. Isso seria
uma vergonha. O Congresso
deveria se precaver para não
reagir de maneira exagerada.
Muito pode ser feito para
salvar os norte-americanos
de sua irresponsabilidade: os
empréstimos hipotecários
podem ser mais transparentes, de modo que os devedores saibam o quanto realmente devem. Os devedores
podem ser informados de
maneira mais completa, para
que sejam capazes de escolher bem suas hipotecas.
Mas, se o Congresso impuser risco demais de litígio, o
financiamento hipotecário
para os devedores abaixo do
padrão simplesmente desaparecerá. Não faz sentido
acrescentar custos judiciais
pesados a um problema que
já é muito dispendioso. O
mercado aprendeu sua lição:
não emprestar a pessoas que
não podem pagar. É difícil
ver como os legisladores poderiam ensinar algo melhor.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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