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LUÍS NASSIF
O desafio da fiscalização
O anúncio do Programa Plurianual (PPA) mostrou, pela
primeira vez, um movimento
de comunicação eficiente e orquestrado, da parte do governo. Mais do que o marketing,
no entanto, é importante entender as implicações do novo
modelo gerencial, principalmente sobre a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) que vai
nortear o próximo Orçamento.
Nos próximos meses, o Congresso estará debruçado sobre
a proposta de Orçamento do
governo, procurando emendá-la. Diferentemente de outros
Orçamentos, desta vez a proposta tem um todo lógico. Cada verba está amarrada a um
programa, e cada programa, a
uma meta específica a ser alcançada.
As defesas contra a irracionalidade são inúmeras. A primeira é que qualquer emenda terá
que se adequar a um dos programas existentes. Se não seguir a lógica do programa, a
emenda ficará perdida no ar e
será politicamente muito mais
difícil justificá-la.
A segunda defesa é que, com
o fim da inflação, o Orçamento
deixou de ser uma peça de ficção. Assim, o parlamentar que
pretender incluir uma emenda
no Orçamento vai ter que suprimir um gasto já previsto. E
esse gasto será de um programa com metas definidas. Portanto ele terá que provar a seus
pares, e à opinião pública, que
valerá a pena ao país abrir
mão de uma meta em favor de
outra.
Tudo isso torna mais legítimo e transparente o processo
orçamentário, desde que haja
acompanhamento e fiscalização sobre essas ações.
O programa prevê o acompanhamento de cada programa
em tempo integral. Cada qual
terá um gerente responsável e
um indicador de acompanhamento. Essas informações ficarão disponíveis na Internet.
O grande desafio de nós, da
imprensa, será a capacidade de
acompanhar esses números, ir
atrás da realidade, para saber
se está batendo com os dados,
checar a consistência das estatísticas apresentadas, conferir
os principais passos de cada
programa. Obviamente é desafio não só da mídia, mas de todos os setores que compõem o
controle democrático -da
oposição aos Tribunais de Contas, Congresso e Ministério Público, universidades e institutos
em geral.
Trata-se de uma realidade
totalmente nova, em que o governo se expõe à fiscalização,
mas há a necessidade de fiscais
competentes exercitando o ofício. Ainda não existe tradição
de organizações não-governamentais especializadas em trabalhar dados públicos. No Congresso, já existem parlamentares especialistas em escarafunchar os dados do Siap -o sistema de dados oficiais do governo. Mas há que avançar mais.
O ponto positivo da história é
o fato de haver um governo
que, pela primeira vez, entende
a importância dessa transparência de dados, não só como
fator de controle, mas como
elemento indutor de política
econômica.
Assim, será bem mais fácil
fiscais e fiscalizados empreenderem ações conjuntas visando
aprimorar e tornar cada vez
mais claros os dados apresentados.
O salto gerencial representado por esse sistema não tem paralelo na moderna história do
planejamento público brasileiro.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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