São Paulo, Quarta-feira, 01 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRATORAÇO
Reivindicação é retomada de pagamento de subsídio ao setor
Produtores de cana do NE ameaçam fechar rodovias

Marcelo Soares/Agencia Lumiar
Manifestação promovida ontem por produtores e usineiros nas ruas de Recife com 82 caminhões, 72 tratores, 23 ônibus e 15 carros


FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

Produtores de cana-de-açúcar e usineiros do Nordeste decidiram ontem bloquear rodovias e suspender o corte e a moagem do produto, caso a Agência Nacional de Petróleo não autorize, até o dia 10, o reinício do pagamento do subsídio ao setor sucroalcooleiro.
O benefício, concedido a 10 mil dos 25 mil produtores da região como forma de compensação pela desigualdade na produtividade entre o Nordeste e São Paulo, foi suspenso há quatro meses por suspeita de fraude.
Segundo o presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil, Antonio Celso Cavalcanti, sem o subsídio, que representa 27% do valor de venda da cana às usinas, 37 milhões de toneladas do produto poderão deixar de ser colhidas e industrializadas em 99.
A quantidade, disse Cavalcanti, representa 12% da produção nacional. Os produtores empregam no Nordeste cerca de 350 mil trabalhadores rurais durante a safra, que começa este mês.
Para protestar contra a suspensão do benefício, produtores e usineiros promoveram ontem um ""tratoraço" em Recife. Na manifestação, foram mobilizados 82 caminhões, 72 tratores, 23 ônibus e 15 carros particulares.
Segundo a Polícia Militar, a fila formada pelos veículos chegou a 14 quilômetros. Desvios e manobras no trânsito conseguiram evitar grandes congestionamentos.
Os veículos, escoltados por dois carros de som, traziam bandeiras do Brasil e faixas de protesto contra o governo e o presidente Fernando Henrique Cardoso.
""De Fernando em Fernando o Brasil está se acabando", gritavam os produtores. Até a música de Geraldo Vandré ""Prá Não Dizer Que Não Falei Das Flores", símbolo de oposição ao regime militar, foi tocada durante o protesto.
O comboio seguiu até o Palácio das Princesas, sede do governo estadual, que estava isolado por cavaletes e protegido por seguranças e policiais militares.
Empresários, usineiros, produtores e lavradores discursaram. Panfletos sobre o movimento foram distribuídos no local.
O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) estava viajando, mas um documento com as reivindicações do setor foi entregue ao secretário estadual de Governo, Dorany Sampaio.
No texto, de duas páginas, nove entidades ligadas à agroindústria canavieira criticam a suspensão do subsídio e solicitam ao governador que apóie os produtores e interceda com o governo federal em favor da categoria.
Os produtores afirmam no documento que estão sendo ""vítimas de grave equívoco por parte do Ministério Público", que recomendou a paralisação do programa de benefícios.
Segundo eles, a ajuda não deve ser entendida como um ""instrumento acessório complementar", e sim, como um ""pilar de sustentação da atividade canavieira na região".
""Estamos sendo alvos indefesos de inaceitável prejulgamento, que extrapola todas as circunstâncias e nos coloca no perigoso espaço da ""justiça sem vendas, carregada de preconceitos inimagináveis", afirmam.
À noite, produtores e usineiros discutiriam a possibilidade de realizar hoje um novo ""tratoraço", desta vez no porto de Suape, localizado a 30 km de Recife.


Texto Anterior: Luís Nassif: O desafio da fiscalização
Próximo Texto: Movimento na Votoran é suspenso
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.