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Setor de embalagens é suspeito de cartel
Associação e seis indústrias são alvo de investigação no Ministério Público, na Fazenda estadual de São Paulo e na SDE
Estimativa é a de que as empresas supostamente envolvidas faturem cerca de R$ 2,5 bilhões por ano e dominem 85% do mercado
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Abief (Associação Brasileira de Embalagens Flexíveis) e
outras seis indústrias do setor
são alvo de investigação no Ministério Público Estadual, na
Delegacia Fazendária do Estado de São Paulo e na SDE (Secretaria de Direito Econômico), ligada ao Ministério da Justiça, devido à suspeita de prática de formação de cartel.
No último dia 20, representantes da SDE e da Polícia Civil,
a pedido do Ministério Público
Estadual, realizaram uma operação de busca e apreensão de
documentos e de arquivos
magnéticos na sede da associação e em três indústrias (Converplast, Inapel e Celocorte).
"Há evidências muito fortes
da existência de um cartel envolvendo a associação e as empresas", diz Marcelo Mendroni,
promotor de Justiça criminal
da capital. O material colhido,
"que confirma a suspeita de
cartel", foi encaminhado à Delegacia Fazendária, que instaurou inquérito policial para investigar as pessoas envolvidas.
A investigação de suspeita de
cartel começou há cerca de dois
meses, com base em denúncia
feita por Paulo Rogério Tucoser, ex-representante de vendas da Inapel, onde trabalhou
por dez anos. "Resolvi denunciar o cartel por não agüentar
mais ver negociação de preços e
divisão de mercado pelas empresas. Não fui afastado da Inapel. Deixei a representação comercial devido ao cartel."
Mendroni informa que a associação e as seis empresas são
suspeitas de dividir clientes e
elevar preços. "Esse tipo de cartel é bem característico das máfias italianas, que agem com infiltrações nas atividades comerciais e na política", diz. A
estimativa é que as empresas
envolvidas faturem cerca de R$
2,5 bilhões por ano e detenham
cerca de 85% desse mercado.
Tucoser diz que o suposto
cartel opera da seguinte forma:
se um fabricante vende embalagem a uma indústria de biscoitos a um preço, nenhum
concorrente pode oferecer a
mesma embalagem por menos.
"Como sou representante comercial, fui muito prejudicado.
Só soube que o cartel existia na
medida em que não podia mais
conquistar novos clientes, já
que as minhas tabelas de preços eram sempre mais caras do
que as dos concorrentes."
Tucoser diz acreditar que os
clientes das fabricantes de embalagens, principalmente dos
setores de alimentos, medicamentos e higiene, não tenham
conhecimento dos acordos.
"Os clientes podem até desconfiar, mas não denunciam
porque ficam com medo de ficar sem produto, já que esse é
setor dominado por poucas
empresas, que detêm boa parte
das vendas", diz Mendroni.
A SDE informa que a investigação ainda está em fase preliminar. Se entender que há indícios fortes para uma investigação mais aprofundada, deve
instaurar um processo administrativo, que é semelhante a
um processo judicial. As empresas poderão se defender.
"Por enquanto, o que dá para
afirmar é que há indícios de um
suposto cartel que envolve a associação [a Abief] e outras seis
empresas do setor. Possivelmente, vamos instaurar um
processo administrativo", afirma Mariana Tavares de Araújo,
diretora de Proteção e Defesa
Econômica da SDE.
Após instaurado o processo
administrativo, diz a diretora, a
investigação deve ser concluída
em até um ano e quatro meses.
"Se ficar comprovada a prática de cartel, encaminhamos documentação ao Cade [Conselho
Administrativo de Defesa Econômica] para que seja feita a
punição às empresas. Se o Cade
entender que as empresas são
culpadas, pode determinar
multa de 1% a 30% do faturamento das indústrias no ano
anterior -no caso, em 2005."
Na investigação da Delegacia
Fazendária do Estado de São
Paulo, se comprovado o cartel,
a punição será para as pessoas
envolvidas, que podem ser condenadas a pagar multa ou a pena de 2 anos a 5 anos de prisão,
com base na lei nš 8.137/90,
que dispõe sobre crimes contra
a ordem econômica, tributária
e de relações de consumo.
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