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CGU vê irregularidades na administração do Sistema S
Relatório aponta que quase 90% de 172 entidades fiscalizadas têm contas irregulares
Em três unidades, CGU
constata gestão irregular, e
em outras 148, problemas
como falhas em compras e
contratação de pessoal
Caio Guatelli - 13.fev.07/Folha Imagem
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Aluna do Senai, que ajuda na capacitação de profissionais, em SP |
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Relatório da CGU (Controladoria Geral da União) com base
em 370 ações fiscais realizadas
no Sistema S mostra que praticamente 90% das entidades
não conseguem passar no pente-fino do órgão de controle. O
levantamento, obtido pela Folha, detalha as auditorias feitas
em 172 unidades do sistema,
das quais só 21 tiveram suas
contas consideradas regulares.
Em três unidades do sistema,
a CGU conclui que houve gestão irregular, enquanto em outras 148 foram constatados
problemas e a fiscalização indicou ressalvas na avaliação das
contas. O sistema é composto
por nove entidades bancadas a
partir de recursos da folha de
salário das empresas.
No diagnóstico da controladoria, as principais falhas estão
localizadas nas compras de
produtos e serviços e na contratação de pessoal -"conseqüência de controles internos
administrativos deficientes".
A partir de denúncias encaminhadas à CGU, as auditorias
também confirmaram irregularidades no gerenciamento
dos recursos em quatro unidades do Sistema S. Nelas, os auditores apuraram sobrepreço
em contratos de obras e serviços e conflitos de interesse em
licitações. Havia casos em que o
contratante era sócio na empresa contratada.
Nesse grupo, a fiscalização
ainda levantou pagamento de
serviços em duplicidade, prestação de serviços sem contratos, compra de produtos com
dispensa de licitação e por preços acima de mercado, além de
desrespeito a prazos para manutenção de documentos que
provam pagamentos feitos.
As três unidades com contas
irregulares, segundo a CGU,
são: Senar (agricultura) de São
Paulo e o Senar e o Senai (indústria) de Sergipe. Para a controladoria, nesses casos, houve
malversação de recursos públicos e os casos aguardam julgamento do TCU (Tribunal de
Contas da União). Já as unidades auditadas por irregularidades de gerenciamento são o Sesi de Santa Catarina e a unidade
de Rondônia e o Sesc/Senac
(comércio) do Espírito Santo.
O Sistema S vem sendo alvo
reiterado de críticas. No Legislativo, parlamentares e ministros do TCU afirmam que as
contas das entidades são uma
caixa-preta, já que o sistema é
bancado com recursos parafiscais. No Executivo, o Ministério da Fazenda estuda "garfar"
uma parcela da receita do setor
na proposta de desoneração da
folha de salários das empresas.
O acúmulo de cargos na alta
direção das entidades também
é apontado como motivo de
preocupação pela CGU. Não
são raras as situações em que o
presidente de uma federação
ou confederação acumula o
cargo de presidente de conselho nacional de uma unidade
com a de diretor de outra. Embora a sobreposição de funções
não seja ilegal, isso acaba dando
superpoderes a dirigentes.
"Isso tem contribuído sensivelmente para decisões que
mais traduzem atos unilaterais
de interesse pessoal", afirma a
CGU. A Folha apurou com técnicos que atuaram nas auditorias que denúncias de uso da
máquina do sistema em campanhas eleitorais chegaram a
ser investigadas, mas a controladoria não conseguiu encontrar provas concretas.
A lista de falhas e irregularidades do relatório foi apurada
em 2006. Neste ano, já foram
feitas mais 200 ações nas entidades, de acordo com a CGU.
As entidades fiscalizadas foram
as ligadas à indústria (Sesi e Senai), ao comércio (Sesc e Senac), à agricultura (Senar), ao
transporte (Senat e Sest) e às
cooperativas (Sescoop).
A controladoria afirma que
44% das ressalvas apontadas
no relatório de 2006 referem-se a impropriedades na compra
de bens e serviços. Nessa área,
destacam-se os problemas de
formalização de contratos
(30%) e contratos sem licitação
(27%). Na gestão e contratação
de pessoal está a segunda área
com maior índice de ressalvas.
"Nem o Congresso nem o
Executivo exercem um acompanhamento dos recursos do
Sistema S, pois essa é a única
receita pública que não transita pelo Orçamento", diz o deputado federal e relator do PPA
(Plano Plurianual) 2008-2011,
Cláudio Vignatti (PT-SC). Na
votação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), ele chegou a apresentar uma proposta
para incluir no Orçamento essas receitas, mas sem sucesso.
Segundo ele, houve lobby de
setores do sistema para barrar
a proposta. Já o ministro Marcos Bemquerer, do TCU, diz
que a caixa-preta reside principalmente nas entidades em
que o recolhimento da contribuição sobre a folha ocorre sem
passar pela Receita Federal.
Com IURI DANTAS, da Sucursal de Brasília
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