São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2007

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CGU vê irregularidades na administração do Sistema S

Relatório aponta que quase 90% de 172 entidades fiscalizadas têm contas irregulares

Em três unidades, CGU constata gestão irregular, e em outras 148, problemas como falhas em compras e contratação de pessoal

Caio Guatelli - 13.fev.07/Folha Imagem
Aluna do Senai, que ajuda na capacitação de profissionais, em SP


JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Relatório da CGU (Controladoria Geral da União) com base em 370 ações fiscais realizadas no Sistema S mostra que praticamente 90% das entidades não conseguem passar no pente-fino do órgão de controle. O levantamento, obtido pela Folha, detalha as auditorias feitas em 172 unidades do sistema, das quais só 21 tiveram suas contas consideradas regulares.
Em três unidades do sistema, a CGU conclui que houve gestão irregular, enquanto em outras 148 foram constatados problemas e a fiscalização indicou ressalvas na avaliação das contas. O sistema é composto por nove entidades bancadas a partir de recursos da folha de salário das empresas.
No diagnóstico da controladoria, as principais falhas estão localizadas nas compras de produtos e serviços e na contratação de pessoal -"conseqüência de controles internos administrativos deficientes".
A partir de denúncias encaminhadas à CGU, as auditorias também confirmaram irregularidades no gerenciamento dos recursos em quatro unidades do Sistema S. Nelas, os auditores apuraram sobrepreço em contratos de obras e serviços e conflitos de interesse em licitações. Havia casos em que o contratante era sócio na empresa contratada.
Nesse grupo, a fiscalização ainda levantou pagamento de serviços em duplicidade, prestação de serviços sem contratos, compra de produtos com dispensa de licitação e por preços acima de mercado, além de desrespeito a prazos para manutenção de documentos que provam pagamentos feitos.
As três unidades com contas irregulares, segundo a CGU, são: Senar (agricultura) de São Paulo e o Senar e o Senai (indústria) de Sergipe. Para a controladoria, nesses casos, houve malversação de recursos públicos e os casos aguardam julgamento do TCU (Tribunal de Contas da União). Já as unidades auditadas por irregularidades de gerenciamento são o Sesi de Santa Catarina e a unidade de Rondônia e o Sesc/Senac (comércio) do Espírito Santo.
O Sistema S vem sendo alvo reiterado de críticas. No Legislativo, parlamentares e ministros do TCU afirmam que as contas das entidades são uma caixa-preta, já que o sistema é bancado com recursos parafiscais. No Executivo, o Ministério da Fazenda estuda "garfar" uma parcela da receita do setor na proposta de desoneração da folha de salários das empresas.
O acúmulo de cargos na alta direção das entidades também é apontado como motivo de preocupação pela CGU. Não são raras as situações em que o presidente de uma federação ou confederação acumula o cargo de presidente de conselho nacional de uma unidade com a de diretor de outra. Embora a sobreposição de funções não seja ilegal, isso acaba dando superpoderes a dirigentes.
"Isso tem contribuído sensivelmente para decisões que mais traduzem atos unilaterais de interesse pessoal", afirma a CGU. A Folha apurou com técnicos que atuaram nas auditorias que denúncias de uso da máquina do sistema em campanhas eleitorais chegaram a ser investigadas, mas a controladoria não conseguiu encontrar provas concretas. A lista de falhas e irregularidades do relatório foi apurada em 2006. Neste ano, já foram feitas mais 200 ações nas entidades, de acordo com a CGU.
As entidades fiscalizadas foram as ligadas à indústria (Sesi e Senai), ao comércio (Sesc e Senac), à agricultura (Senar), ao transporte (Senat e Sest) e às cooperativas (Sescoop).
A controladoria afirma que 44% das ressalvas apontadas no relatório de 2006 referem-se a impropriedades na compra de bens e serviços. Nessa área, destacam-se os problemas de formalização de contratos (30%) e contratos sem licitação (27%). Na gestão e contratação de pessoal está a segunda área com maior índice de ressalvas.
"Nem o Congresso nem o Executivo exercem um acompanhamento dos recursos do Sistema S, pois essa é a única receita pública que não transita pelo Orçamento", diz o deputado federal e relator do PPA (Plano Plurianual) 2008-2011, Cláudio Vignatti (PT-SC). Na votação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), ele chegou a apresentar uma proposta para incluir no Orçamento essas receitas, mas sem sucesso.
Segundo ele, houve lobby de setores do sistema para barrar a proposta. Já o ministro Marcos Bemquerer, do TCU, diz que a caixa-preta reside principalmente nas entidades em que o recolhimento da contribuição sobre a folha ocorre sem passar pela Receita Federal.


Com IURI DANTAS, da Sucursal de Brasília

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