|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Compra do Real testa regulação de bancos
Entendimento recente da Justiça deve levar o negócio, a ser anunciado até sexta, ao crivo do Cade, em substituição ao BC
No governo, setores vêem a venda ao Santander como aumento da concorrência, por criar "player" capaz de rivalizar com Bradesco e Itaú
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Vendida ao presidente Lula
como um "voto de confiança"
no país, a compra das operações brasileiras do banco ABN
Real pelo Santander testará a
capacidade das autoridades reguladoras de criar condições de
concorrência que beneficiem o
consumidor -como tarifas e
taxas de juros menores- em
meio aos interesses dos bancos,
o grupo de maior poder econômico no país. Após seis meses
de negociações, o negócio deve
ser aprovado até sexta-feira.
Diferentemente dos demais
setores da economia, em que o
Cade dá o parecer final nas fusões e aquisições, há dúvidas
institucionais sobre quem deve
regular a atividade bancária,
que também não se submete
inteiramente ao Código de Defesa do Consumidor. Desde
1964, o Banco Central tem a tarefa de zelar pela concentração
do setor. Um entendimento do
TRF (Tribunal Regional Federal) de Brasília, que só saiu no
fim de agosto, porém, diz que o
Cade deve cuidar do caso, tendo o parecer técnico do BC.
A aquisição do Real foi recebida com entusiasmo por setores do governo que apostam na
criação de um grande banco estrangeiro para concorrer com o
Bradesco e o Itaú. Na semana
passada, sindicatos aumentaram seu poder de pressão, especialmente no Congresso, ao
afirmar que a fusão pode levar
ao corte de 10 mil vagas no país
e à piora dos serviços oferecidos. "O consórcio vai demitir 19
mil pessoas no mundo. A maioria deve ser no Brasil, já que as
regras são mais adiantadas lá
fora", disse Rita Berlofa, diretora dos bancários de São Paulo.
Leonardo Diz, da Pro Teste,
entidade de defesa do consumidor, relativiza o papel do aumento da concentração bancária nas altas tarifas e taxas de
juros. Para a Pro Teste, a falta
de concorrência resulta da falta
de informação sobre preços de
tarifas, quantidade de serviços
utilizados e de instrumentos de
portabilidade que permitam levar dívidas e pagamentos com
facilidade de uma instituição
para outra. "O governo está feliz com a aquisição, mas não
tem política pública para promover a concorrência", disse.
Para Daniel Araújo, da agência de classificação de risco
Standard & Poor"s, mais importante do que a polêmica sobre
quem regula o setor é avaliar se
o papel é exercido com eficiência. A agência acredita que o BC
faz isso bem, mas vê os juros altos decorrentes do alto custo de
capital. "O problema é o compulsório de 45% [dos depósitos
à vista], alta carga tributária, insegurança jurídica e a Selic."
Para Ceres Lisboa, da
Moodys, a fusão trará mais
concorrência ao setor, que deve
passar por uma consolidação.
"Os estrangeiros trazem expertise de atuar com juro menor."
Texto Anterior: Fazenda quer punir outros Poderes para conter gastos Próximo Texto: Clima é de apreensão no Real; no Santander, euforia domina Índice
|