São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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Europa cobra ação dos EUA e articula resposta à crise

Sarkozy planeja reunião com membros do bloco para discutir medidas em comum

Líderes do continente exortam Congresso dos EUA a aprovar pacote de socorro; euro tem maior queda diária ante o dólar desde 1999

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Diante do nervosismo criado pela rejeição do pacote na Câmara dos Representantes, a União Européia cobra dos EUA que assumam a responsabilidade pelo terremoto financeiro mundial e articula resposta comum à crise. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, planeja uma reunião ainda nesta semana em Paris para discutir a crise com os principais líderes e autoridades monetárias da UE.
Até agora, os europeus têm usado armas diferentes para enfrentar as turbulências: preferiram nacionalizar as instituições em apuros a ampará-las com um plano para assumir seus papéis podres, como propõem os americanos.
Enquanto esperam boas notícias do outro lado do Atlântico, os Estados europeus aumentam a ofensiva para evitar quebradeira em seus bancos. Ontem, os governos de Bélgica, França e Luxemburgo se mobilizaram em socorro ao banco belgo-francês Dexia.
Com a injeção de US$ 9,1 bilhões, o Dexia tornou-se a segunda instituição belga a ser socorrida, na seqüência de intervenções estatais dos últimos dias. No domingo, Bélgica, Holanda e Luxemburgo haviam assumido o controle parcial do belgo-holandês Fortis, enquanto as autoridades britânicas nacionalizaram o Bradford & Bingley. Alemanha e Islândia tomaram medidas semelhantes.
Sarkozy, cujo governo aderiu ontem à política de intervenção, ao injetar US$ 4,2 bilhões para salvar o Dexia, manteve um "reunião de crise" com representantes de bancos e seguradoras. Presidente da UE, Sarkozy quer uma resposta comum às turbulências, com medidas para aumentar a regulação nos mercados financeiros. Para isso, tenta organizar conferência na sexta-feira com os líderes de Reino Unido, Itália e Alemanha, além do presidente do BCE (Banco Central Europeu), Jean-Claude Trichet.
Cresce no continente a impaciência com o impasse em torno do plano de resgate americano. "Os EUA precisam assumir sua responsabilidade e mostrar capacidade de governança, pelo bem de seu próprio país e pelo bem do mundo", disse Johannes Laitenberger, porta-voz da Comissão Européia, o braço executivo da UE.
A premiê da Alemanha também exortou o Congresso dos EUA a dar luz verde ao pacote. Para Angela Merkel, a aprovação do plano nesta semana é "precondição para dar nova confiança aos mercados".
Na Irlanda, o governo também intercedeu depois de as ações de bancos sofrerem, na segunda, a maior queda da história. As autoridades de Dublin anunciaram que darão garantia ilimitada para os depósitos de seis bancos domésticos.
Os bancos centrais europeus injetaram mais recursos ontem no mercado. O BCE ofereceu US$ 30 bilhões, e o Banco da Inglaterra US$ 10 bilhões.
O euro teve ontem a maior queda diante do dólar desde 1999, quando entrou em circulação. A moeda caiu 2,7%, para US$ 1,40. Além das turbulências, o euro sente o efeito das injeções de capital em bancos. A expectativa de que o BCE esteja preparando um corte nos juros também teve influência na cotação do euro.


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