São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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Lula se diz "apreensivo", e Chávez compara tensão a "cem furacões"

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em Manaus, estar "apreensivo" em relação às conseqüências da crise global para o Brasil. "É como se recebesse a notícia de que um amigo estava internado num hospital. Eu não estou doente, mas fico apreensivo com o que pode acontecer." Lula disse estar preocupado com a crise porque o Brasil "é um país exportador e quer continuar crescendo". Afirmou, contudo, que até agora a turbulência não causou "problema grave" à balança comercial. "Hoje quem financia mais exportação no Brasil é o Banco do Brasil, e não o BNDES. Estamos acompanhando as finanças desses dois bancos para saber onde o gargalo vai apertar." Em entrevista ao lado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Lula disse que a atual crise "talvez seja uma das maiores que o mundo já viu". "A diferença é que nas crises há 10 ou 15 anos nos países asiáticos e na Rússia os nossos países estavam muito fragilizados, economicamente frágeis. E quando os EUA espirravam Brasil e Venezuela ficavam com pneumonia." Lula disse, contudo, que o país corre riscos. "É uma recessão mundial e pode trazer prejuízos para nós." O presidente negou ter montado um "gabinete de crise". "Temos que acompanhar, mas não existe um gabinete criado." Lula, que se reuniu com Chávez e os presidentes Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), disse querer "o bem do povo americano". Afirmou que está "torcendo para que governo, Congresso, empresários e o povo americano encontrem logo uma saída".

Chávez
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, comparou a crise a "cem furacões" e disse que o crescimento da América Latina está ameaçado pela turbulência mundial. "Sou dos que crêem que esse crash do neoliberalismo e do capitalismo vai ser pior do que o de 1929 e vai afetar o mundo inteiro", disse. O venezuelano citou como reflexos da crise a queda na cotação das commodities e nas Bolsas de países latino-americanos. Disse que a Bolsa de Caracas foi a única da região a crescer anteontem -0,36%. "Porque está totalmente desconectada da Bolsa de Nova York." Mas não mencionou que títulos da dívida venezuelana vêm sofrendo forte queda. Caracas caiu 0,4% ontem. Para Chávez, a crise pode derrubar o preço do petróleo para cerca de US$ 80 o barril -a cotação em Nova York fechou ontem a US$ 100,64. A Venezuela é o quarto maior fornecedor de petróleo aos EUA. Ele afirmou que o impacto da crise será menor à medida que países da região se desconectem da economia dos EUA, que chamou de "vagão da morte". Em entrevista posterior, ao lado de Lula, Chávez amenizou o discurso. "Oxalá os EUA saiam dessa crise, para o bem de todo o mundo." Chávez cobrou a estruturação do Banco do Sul -instituição multilateral de fomento proposta por ele e criada em dezembro de 2007- como forma de a região enfrentar a crise. Atribuiu a demora a questões "técnicas e burocráticas". Ele também reconheceu o engavetamento de sua proposta do megaprojeto de US$ 20 bilhões do Gasoduto do Sul e afirmou que um projeto alternativo está em discussão.

Colaborou THIAGO GUIMARÃES, coordenador-assistente da Agência Folha



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