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Lula se diz "apreensivo", e Chávez compara tensão a "cem furacões"
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em
Manaus, estar "apreensivo" em
relação às conseqüências da
crise global para o Brasil. "É como se recebesse a notícia de
que um amigo estava internado
num hospital. Eu não estou
doente, mas fico apreensivo
com o que pode acontecer."
Lula disse estar preocupado
com a crise porque o Brasil "é
um país exportador e quer continuar crescendo". Afirmou,
contudo, que até agora a turbulência não causou "problema
grave" à balança comercial.
"Hoje quem financia mais
exportação no Brasil é o Banco
do Brasil, e não o BNDES. Estamos acompanhando as finanças desses dois bancos para saber onde o gargalo vai apertar."
Em entrevista ao lado do presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, Lula disse que a atual
crise "talvez seja uma das maiores que o mundo já viu".
"A diferença é que nas crises
há 10 ou 15 anos nos países asiáticos e na Rússia os nossos países estavam muito fragilizados,
economicamente frágeis. E
quando os EUA espirravam
Brasil e Venezuela ficavam com
pneumonia." Lula disse, contudo, que o país corre riscos. "É
uma recessão mundial e pode
trazer prejuízos para nós."
O presidente negou ter montado um "gabinete de crise".
"Temos que acompanhar, mas
não existe um gabinete criado."
Lula, que se reuniu com Chávez e os presidentes Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa
(Equador), disse querer "o bem
do povo americano". Afirmou
que está "torcendo para que governo, Congresso, empresários
e o povo americano encontrem
logo uma saída".
Chávez
O presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, comparou a crise
a "cem furacões" e disse que o
crescimento da América Latina
está ameaçado pela turbulência
mundial. "Sou dos que crêem
que esse crash do neoliberalismo e do capitalismo vai ser pior
do que o de 1929 e vai afetar o
mundo inteiro", disse.
O venezuelano citou como
reflexos da crise a queda na cotação das commodities e nas
Bolsas de países latino-americanos. Disse que a Bolsa de Caracas foi a única da região a
crescer anteontem -0,36%.
"Porque está totalmente desconectada da Bolsa de Nova
York." Mas não mencionou que
títulos da dívida venezuelana
vêm sofrendo forte queda. Caracas caiu 0,4% ontem.
Para Chávez, a crise pode
derrubar o preço do petróleo
para cerca de US$ 80 o barril
-a cotação em Nova York fechou ontem a US$ 100,64. A
Venezuela é o quarto maior fornecedor de petróleo aos EUA.
Ele afirmou que o impacto da
crise será menor à medida que
países da região se desconectem da economia dos EUA, que
chamou de "vagão da morte".
Em entrevista posterior, ao lado de Lula, Chávez amenizou o
discurso. "Oxalá os EUA saiam
dessa crise, para o bem de todo
o mundo."
Chávez cobrou a estruturação do Banco do Sul -instituição multilateral de fomento
proposta por ele e criada em
dezembro de 2007- como forma de a região enfrentar a crise.
Atribuiu a demora a questões
"técnicas e burocráticas".
Ele também reconheceu o
engavetamento de sua proposta do megaprojeto de US$ 20
bilhões do Gasoduto do Sul e
afirmou que um projeto alternativo está em discussão.
Colaborou THIAGO GUIMARÃES,
coordenador-assistente da Agência Folha
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