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No Brasil, crédito seca até para as grandes empresas
Presidente do Bradesco diz a analistas que recomenda a cliente esperar taxa melhor
Mercado de crédito praticamente parou desde a segunda, e taxas subiram para patamares proibitivos até para grandes empresas
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Diante de um cenário de incertezas, o crédito praticamente secou até para as grandes
empresas nesta semana no
Brasil. Nas consultas para tomar dinheiro emprestado ontem e anteontem, as taxas pedidas foram consideradas irreais,
com valores que passaram de
110% do CDI, e apenas para
prazos de menos de 180 dias.
Anteontem, segundo fontes
ouvidas pela Folha, o mercado
de crédito viveu uma espécie
de "feriado", em que nenhuma
operação importante foi fechada. O pouco dinheiro emprestado foi de curtíssimo prazo e
com taxas proibitivas, que chegaram a inéditos 120% do CDI.
O CDI é a taxa de empréstimo entre os bancos. Desde janeiro, quando o BC criou o
compulsório para as empresas
de leasing, as taxas de captação
começaram a subir muito acima do CDI. Na semana passada, em meio à crise de liquidez,
os bancos menores captavam
com taxas de até 107% do CDI.
O presidente do Bradesco,
Márcio Cypriano, afirmou ontem, durante reunião com analistas, que o banco está recomendando aos clientes operações de no máximo 180 dias,
pois acredita que após esse período as taxas serão melhores.
Para Luis Miguel Santacreu,
analista da Austin Ratings, a
secura do crédito não significa
que os bancos não tenham dinheiro para emprestar, mas
que preferem priorizar o próprio caixa num momento em
que liquidez passou a ser um
ativo escasso e caro. "Não é todo crédito que está disponível
para as empresas. Os juros estão muito altos, mas é momentâneo. Se virar regra, [a flexibilização do] compulsório fracassou. Quem paga isso são as empresas menores que estão sem
oxigênio no capital de giro."
O BNDES disse estar atento
à escassez do crédito no país e
estuda ampliar as linhas para
as empresas, especialmente exportadoras. Mas disse que também teve de elevar os custos de
algumas dessas linhas, substituindo a TJLP pelo IPCA e cesta de moedas.
De acordo com Alfredo Moraes, presidente da Andima, a
situação melhorou ontem,
quando as taxas recuaram na
BM&F. Moraes afirma que os
bancos trabalhavam ontem
com médias que vão de 104% a
105% do CDI. "Quando tem esse estresse, as taxas oscilam
muito. Assusta, e você não consegue captar mais. Na área de
crédito, fica todo mundo com a
barba de molho. [Segunda] foi
um dia de reflexão, em que as
pessoas param para ver e fazer
um novo julgamento", disse.
Para os bancos pequenos, a
situação continua crítica, mesmo com a entrada em vigor anteontem da flexibilização dos
depósitos compulsórios.
Segundo Roberto Troster, da
Integral Trust, a medida não
foi suficiente para resolver os
problemas de caixa dos pequenos. Para Troster, se a crise
persistir, o BC terá de baixar
mais os compulsórios e mexer
nas linhas de redesconto. "Os
bancos grandes também estão
com liquidez reduzida, mas a
situação está mais difícil para
os pequenos. O BC fez muito
pouco, foi muito tímido, em relação ao que tem de ser feito.
Precisa dar um sinal forte e claro de que a gente não vai ter
problema de liquidez. E ele não
está dando esse sinal."
Daycoval
Ontem, o banco Daycoval informou que o fundo Tarpon
elevou de 16,86% para 21,89% a
sua participação nas ações PN.
O fundo segue minoritário e
sem assento no conselho.
De acordo com o Deutsche
Bank, os bancos brasileiros
também podem enfrentar uma
deterioração de ativos e uma alta nos custos de financiamento.
"O sentimento em relação ao
setor se deteriorou, e os efeitos
indiretos podem gerar pressões
adicionais para um ambiente
operacional já difícil no Brasil",
afirmou o analista Mario
Pierry, em relatório.
"Entre os principais riscos
estão a deterioração da qualidade dos ativos, a alta nos custos de financiamento, o acirramento da concorrência, o aumento da interferência governamental e um crescimento
econômico mais lento", disse
Pierry.
Para Milena Zaniboni, analista da agência de risco Standard & Poor's, "os bancos pequenos sempre tiveram uma
vulnerabilidade de acesso a
"funding" ", disse.
Com a Bloomberg
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