São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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No Brasil, crédito seca até para as grandes empresas

Presidente do Bradesco diz a analistas que recomenda a cliente esperar taxa melhor

Mercado de crédito praticamente parou desde a segunda, e taxas subiram para patamares proibitivos até para grandes empresas

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Diante de um cenário de incertezas, o crédito praticamente secou até para as grandes empresas nesta semana no Brasil. Nas consultas para tomar dinheiro emprestado ontem e anteontem, as taxas pedidas foram consideradas irreais, com valores que passaram de 110% do CDI, e apenas para prazos de menos de 180 dias.
Anteontem, segundo fontes ouvidas pela Folha, o mercado de crédito viveu uma espécie de "feriado", em que nenhuma operação importante foi fechada. O pouco dinheiro emprestado foi de curtíssimo prazo e com taxas proibitivas, que chegaram a inéditos 120% do CDI.
O CDI é a taxa de empréstimo entre os bancos. Desde janeiro, quando o BC criou o compulsório para as empresas de leasing, as taxas de captação começaram a subir muito acima do CDI. Na semana passada, em meio à crise de liquidez, os bancos menores captavam com taxas de até 107% do CDI.
O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, afirmou ontem, durante reunião com analistas, que o banco está recomendando aos clientes operações de no máximo 180 dias, pois acredita que após esse período as taxas serão melhores.
Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings, a secura do crédito não significa que os bancos não tenham dinheiro para emprestar, mas que preferem priorizar o próprio caixa num momento em que liquidez passou a ser um ativo escasso e caro. "Não é todo crédito que está disponível para as empresas. Os juros estão muito altos, mas é momentâneo. Se virar regra, [a flexibilização do] compulsório fracassou. Quem paga isso são as empresas menores que estão sem oxigênio no capital de giro."
O BNDES disse estar atento à escassez do crédito no país e estuda ampliar as linhas para as empresas, especialmente exportadoras. Mas disse que também teve de elevar os custos de algumas dessas linhas, substituindo a TJLP pelo IPCA e cesta de moedas.
De acordo com Alfredo Moraes, presidente da Andima, a situação melhorou ontem, quando as taxas recuaram na BM&F. Moraes afirma que os bancos trabalhavam ontem com médias que vão de 104% a 105% do CDI. "Quando tem esse estresse, as taxas oscilam muito. Assusta, e você não consegue captar mais. Na área de crédito, fica todo mundo com a barba de molho. [Segunda] foi um dia de reflexão, em que as pessoas param para ver e fazer um novo julgamento", disse.
Para os bancos pequenos, a situação continua crítica, mesmo com a entrada em vigor anteontem da flexibilização dos depósitos compulsórios.
Segundo Roberto Troster, da Integral Trust, a medida não foi suficiente para resolver os problemas de caixa dos pequenos. Para Troster, se a crise persistir, o BC terá de baixar mais os compulsórios e mexer nas linhas de redesconto. "Os bancos grandes também estão com liquidez reduzida, mas a situação está mais difícil para os pequenos. O BC fez muito pouco, foi muito tímido, em relação ao que tem de ser feito. Precisa dar um sinal forte e claro de que a gente não vai ter problema de liquidez. E ele não está dando esse sinal."

Daycoval
Ontem, o banco Daycoval informou que o fundo Tarpon elevou de 16,86% para 21,89% a sua participação nas ações PN. O fundo segue minoritário e sem assento no conselho.
De acordo com o Deutsche Bank, os bancos brasileiros também podem enfrentar uma deterioração de ativos e uma alta nos custos de financiamento. "O sentimento em relação ao setor se deteriorou, e os efeitos indiretos podem gerar pressões adicionais para um ambiente operacional já difícil no Brasil", afirmou o analista Mario Pierry, em relatório.
"Entre os principais riscos estão a deterioração da qualidade dos ativos, a alta nos custos de financiamento, o acirramento da concorrência, o aumento da interferência governamental e um crescimento econômico mais lento", disse Pierry.
Para Milena Zaniboni, analista da agência de risco Standard & Poor's, "os bancos pequenos sempre tiveram uma vulnerabilidade de acesso a "funding" ", disse.

Com a Bloomberg



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