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Crise muda padrão de consumo em Manhattan, dizem brasileiros
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
O agravamento da crise econômica americana está redesenhando o estilo de vida nova-iorquino, transformando em
luxo aquilo que era rotina na
ilha de Manhattan.
Empresários brasileiros que
fizeram a vida por aqui são testemunha: conforme as bolsas
despencam e executivos perdem seus empregos, fica menos
freqüente achar alguém disposto a pedir um vinho de US$ 2
mil ou pagar US$ 75 pelo serviço de pedicure.
"Os funcionários da área financeira são os que mais gastam com restaurante, e nestas
semanas eles estão preferindo
ver [o canal de TV de notícias
econômicas] CNBC em casa",
diz João de Matos, dono do restaurante Plataforma, famoso
pela premiada carta de vinhos
(um francês Château Latour
custa US$ 1.985), e onde apenas
5% da clientela é brasileira.
"A queda do dólar ajudou a
atrair muitos turistas europeus
e japoneses e isso ajuda um
pouco a compensar a queda do
número de consumidores americanos. Mas a situação difícil é
geral. A lavanderia que atende o
Plataforma, e muitos outros
restaurantes de Nova York, me
diz que tem tido menos toalhas
para lavar", diz Matos. "Mas é
só olhar na rua para ver que a
crise chegou: o trânsito melhorou, porque as pessoas economizam gasolina. Também está
mais fácil conseguir vaga em
estacionamento."
Outra casa brasileira de freqüência majoritariamente
americana, o salão de beleza
J.Sisters também sente o efeito
da crise. "O movimento caiu e
as pessoas só falam nisso", diz
Janice Padilha, uma das sócias.
"É possível notar a diferença.
Quem vinha fazer escova três
ou quatro vezes por semana,
agora vem uma ou duas. As pessoas não deixam de se arrumar,
mas dão maior intervalo para
voltar", conta.
No salão, que tem na lista de
clientes atrizes como Sarah
Jessica Parker e Uma Thurman, passar pela manicure custa até US$ 55, pela pedicure até
US$ 75, e cortar os cabelos sai
por no mínimo US$ 150, para
mulheres.
Para Janice, a crise tem outro
efeito imediato. "Você percebe
como as pessoas que votariam
nos republicanos agora falam
em votar no [democrata Barack] Obama", diz ela.
Goiabada
Nos lugares onde a freqüência brasileira é maior, a queda
de consumo também já está
dando as caras.
"Na ponta do lápis, vendemos 5% menos neste ano que
no mesmo período do ano passado. É pouco, mas é claro que
faz diferença", diz Marcela Ramos, dona da butique Buzios,
que fica na rua 46 -batizada
pela prefeitura de "Little Brazil", devido à concentração de
serviços brasileiros. "Como todo dono de loja, eu acompanho
a crise, mas não me abalo. Tomo meus cuidados, como não
comprar produtos que ficam
encalhados", diz sobre a butique, que vende de lingerie brasileira a goiabada cascão.
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