São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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Crise muda padrão de consumo em Manhattan, dizem brasileiros

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

O agravamento da crise econômica americana está redesenhando o estilo de vida nova-iorquino, transformando em luxo aquilo que era rotina na ilha de Manhattan.
Empresários brasileiros que fizeram a vida por aqui são testemunha: conforme as bolsas despencam e executivos perdem seus empregos, fica menos freqüente achar alguém disposto a pedir um vinho de US$ 2 mil ou pagar US$ 75 pelo serviço de pedicure.
"Os funcionários da área financeira são os que mais gastam com restaurante, e nestas semanas eles estão preferindo ver [o canal de TV de notícias econômicas] CNBC em casa", diz João de Matos, dono do restaurante Plataforma, famoso pela premiada carta de vinhos (um francês Château Latour custa US$ 1.985), e onde apenas 5% da clientela é brasileira.
"A queda do dólar ajudou a atrair muitos turistas europeus e japoneses e isso ajuda um pouco a compensar a queda do número de consumidores americanos. Mas a situação difícil é geral. A lavanderia que atende o Plataforma, e muitos outros restaurantes de Nova York, me diz que tem tido menos toalhas para lavar", diz Matos. "Mas é só olhar na rua para ver que a crise chegou: o trânsito melhorou, porque as pessoas economizam gasolina. Também está mais fácil conseguir vaga em estacionamento."
Outra casa brasileira de freqüência majoritariamente americana, o salão de beleza J.Sisters também sente o efeito da crise. "O movimento caiu e as pessoas só falam nisso", diz Janice Padilha, uma das sócias. "É possível notar a diferença. Quem vinha fazer escova três ou quatro vezes por semana, agora vem uma ou duas. As pessoas não deixam de se arrumar, mas dão maior intervalo para voltar", conta.
No salão, que tem na lista de clientes atrizes como Sarah Jessica Parker e Uma Thurman, passar pela manicure custa até US$ 55, pela pedicure até US$ 75, e cortar os cabelos sai por no mínimo US$ 150, para mulheres.
Para Janice, a crise tem outro efeito imediato. "Você percebe como as pessoas que votariam nos republicanos agora falam em votar no [democrata Barack] Obama", diz ela.

Goiabada
Nos lugares onde a freqüência brasileira é maior, a queda de consumo também já está dando as caras.
"Na ponta do lápis, vendemos 5% menos neste ano que no mesmo período do ano passado. É pouco, mas é claro que faz diferença", diz Marcela Ramos, dona da butique Buzios, que fica na rua 46 -batizada pela prefeitura de "Little Brazil", devido à concentração de serviços brasileiros. "Como todo dono de loja, eu acompanho a crise, mas não me abalo. Tomo meus cuidados, como não comprar produtos que ficam encalhados", diz sobre a butique, que vende de lingerie brasileira a goiabada cascão.


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