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Canadá propõe moratória negociada
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O governo do Canadá ousou ontem propor o que era impensável
até recentemente: uma moratória
negociada, administrada pelo
FMI, para todos os países devedores que estivessem sob risco de declarar moratória unilateral, como
ocorreu com a Rússia.
A proposta cobre, como é óbvio,
o caso do Brasil, país que está sofrendo tão forte sangria de capitais
que, no limite, poderá ver-se compelido a suspender o pagamento
de seus débitos externos.
A sugestão foi apresentada em
discurso do ministro canadense
das Finanças, Paul Martin, na
abertura da reunião anual dos ministros de Finanças da Commonwealth, conglomerado composto
pelos países que foram ou são dependências britânicas.
Martin defendeu a introdução
da "cláusula de congelamento de
emergência" para todos os contratos financeiros envolvendo empréstimos ditos soberanos, ou seja, feitos pelos governos, e não pela iniciativa privada, de cada país.
Tal cláusula só poderia ser invocada em circunstâncias extremas,
quando a retirada de capitais de
curto prazo estivesse afetando severamente a capacidade de um
país de restaurar a estabilidade financeira, relata o jornal britânico
"Financial Times".
A diretoria-executiva do FMI teria que aprovar a aplicação da
cláusula, uma moratória para todos os efeitos práticos, em princípio de 90 dias de duração.
Com isso, o país que obtivesse
direito ao uso da cláusula de emergência pararia de pagar o principal
e também os juros sobre sua dívida, ganhando tempo para renegociar o débito em caráter mais permanente.
Martin disse ainda que pretende
levar a proposta para discussão
com os demais ministros de Finanças que vão participar da reunião anual do FMI, que começa na
semana que vem, em Washington.
A proposta canadense inclui
também envolver o setor privado
nas negociações, forçando-o a dividir com os governos a responsabilidade por prover recursos para
os países estrangulados. Em contrapartida, representantes do setor privado teriam assento à mesa
de discussão sobre a renegociação
das dívidas.
A proposta canadense parte do
princípio de que o FMI, historicamente o organismo que financia
países em crise nas contas externas, não tem mais recursos para
fazê-lo.
Martin comparou o presente cenário de fuga de capitais dos países
emergentes ao de corridas contra
bancos, "mas em uma escala impressionante, grande demais para
que o FMI possa bancar".
É uma observação que combina
com a mais recente avaliação que
o economista Paul Krugman (do
mitológico MIT, Instituto de Tecnologia de Massachusetts) fez ao
jornal "The New York Times".
Para Krugman, "o Fundo pode
precisar de US$ 200 bilhões adicionais apenas para financiar o
Brasil sem lhe impor uma severa
recessão".
A proposta canadense não é a
única ousadia a ser posta em circulação sob a pressão da crise.
O ministro britânico de Finanças, Gordon Brown, está sugerindo a criação de um "Comitê Permanente para a Regulamentação
das Finanças Globais".
O comitê proposto combinaria
recursos do FMI, do Banco Mundial e do BIS (Banco de Compensações Internacionais, que funciona como uma espécie de Banco
Central dos bancos centrais).
A proposta soa a sugerir controles sobre os fluxos internacionais
de capitais, embora o chefe de
Brown, o primeiro-ministro Tony
Blair, tenha ontem mesmo rejeitado sugestões de outras personalidades nesse sentido.
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