São Paulo, Segunda-feira, 01 de Novembro de 1999
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CONSUMO IRRACIONAL
Mais da metade da população tem menos de US$ 1.000 em poupança; maioria saca para gastar
Americano não sabe poupar, diz pesquisa

das agências internacionais

A grande maioria dos norte-americanos acredita que tem mais chance de acumular US$ 500 mil ao longo da vida apostando na loteria em vez de poupar.
A ignorância financeira e o excessivo endividamento dos consumidores geram um resultado surpreendente: mais da metade dos norte-americanos tem menos de US$ 1.000 (o equivalente a R$ 2.000) em poupança.
Um quinto das famílias com renda menor (US$ 13 mil anuais ou menos) não tem poupança.
Os dados constam da pesquisa "A riqueza da família norte-americana", realizada pela consultoria norte-americana Primerica, com base em dados de 1995.
"A maior parte dos norte-americanos tem consciência do elevado endividamento, sabe que precisa construir riqueza, mas não acredita que possa fazê-lo", disse Stephen Brobeck, diretor-executivo da Federação de Consumidores da América.
"Isso poderia ser mudado se as famílias com renda menor se dessem conta dos benefícios de poupar pequenos montantes por um longo período", disse.
De acordo com ele, se uma pessoa poupa US$ 50 por semana por 40 anos, a uma taxa anual de rentabilidade de 9%, pode acumular US$ 1 milhão.
A pesquisa mostra também que 51% dos que possuem menor renda acreditam que têm mais chance de ganhar na loteria do que acumular US$ 500 mil ao longo de suas vidas.
"A chance de ganhar na loteria é de 10 milhões a 20 milhões em uma. O norte-americano não se deu conta de que pode acumular US$ 500 mil aplicando US$ 50 a cada semana", disse.

Poupança em queda
O nível de poupança vem caindo a cada mês nos EUA. Nos seis primeiros meses do ano, o país registrou taxa de poupança negativa (menos 0,9% do Produto Interno Bruto, de US$ 7,8 trilhões).
Isso significa que os norte-americanos estão sacando dinheiro de suas aplicações para gastar.
A taxa de poupança nos EUA está hoje em torno de 19% do PIB -a mais baixa entre os países industrializados. Na Europa, a taxa é de 25% e, na Ásia, chega a ultrapassar 30%. No Brasil, está entre 15% e 20%.
O nível de poupança norte-americano é o mais baixo desde a Grande Depressão, crise que se sucedeu ao "crash" da Bolsa de Nova York, em 1929.
Detalhe: na década de 30, cerca de 25% da população norte-americana estava desempregada.
Hoje, a taxa de desemprego está em 4,2% -o nível mais baixo em 30 anos.
A economia cresce de vento em popa há nove anos. Entre julho e setembro, a expansão foi de 4,8%. No primeiro e segundo trimestres, o país registrou crescimento de 3,7% e 1,9%, respectivamente.
A confiança do norte-americano de que essa expansão ainda vai durar por algum tempo vem gerando uma verdadeira febre de consumo, que se reflete nos crescentes déficits comerciais do país.
Em agosto, o país teve déficit comercial de US$ 24,1 bilhões. Nos oito primeiros meses do ano, o saldo é negativo em US$ 167,7 bilhões, superando o déficit registrado em todo o ano passado, que foi de US$ 164,3 bilhões.


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